Calcinhas absorventes: entenda essa tendência do mercado feminino

Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, Emily Ewell, sócio e desenvolvedora da primeira calcinha absorvente brasileira, fala sobre as vantagens desse produto que dispensa o absorvente comum durante a menstruação

Escrito por Redação ,

Já imaginou não precisar trocar de absorvente várias vezes ao dia durante o período de menstruação? Em busca de alternativas, as mulheres têm procurado outros métodos desenvolvidos em diálogo com o autoconhecimento e também com a sustentabilidade do planeta. A calcinha absorvente é um deles. Confira abaixo entrevista com Emily Ewell, sócio e desenvolvedora da Pantys, primeira calcinha absorvente brasileira.

> Mulheres adotam alternativas durante o período menstrual

O que levou você a desenvolver uma calcinha absorvente? Experiências pessoais, pesquisas de mercado? 

Depois de vermos o sucesso das calcinhas absorventes nos EUA e fora do país, pensamos que essas também poderiam ser uma ótima opção para revolucionar o mercado brasileiro e se tornar a primeira marca de calcinhas absorventes no Brasil. Grande parte das mulheres brasileiras não se mostrava completamente satisfeita com os retentores menstruais que haviam no mercado na época, sem contar com a quantidade de lixo sendo descartada. Diferente do mercado americano em que as mulheres usam em sua maioria (80%) o absorvente interno/tampon e utilizam a calcinha como um back-up para evitar problemas com vazamentos, o mercado aqui, 70%, é muito mais propício aos absorventes externos/comuns, ou seja, precisaríamos de uma calcinha muito mais absorvente. O grande desafio então era adaptar a calcinha às preferências e necessidades da mulher brasileira, mas achamos que o resultado não poderia ter sido melhor: desenvolvemos um produto com um mix de funcionalidade, design, higiene, sustentabilidade e com 2x mais absorção do que as marcas de fora.


Logo que começou a venda, você encontrou desafios de divulgação desse produto em uma sociedade como a nossa, cheia de tabus em relação à menstruação? Exemplifique alguns, se tiver. 

Depois que a gente lançou a Pantys aqui no Brasil, acredito que o maior desafio que a gente enfrentou foi a visão da menstruação como algo sujo. Foi difícil convencer o público de que o produto não é nojento, de que menstruação é completamente natural e que não há toxinas no sangue. Além disso, aqui no Brasil, há a idéia de que usar um absorvente descartável é sinônimo de limpeza e, por isso, não é fácil aceitar uma calcinha que os substitui. Mas a gente acredita na eficácia da Pantys e nos agentes microbianos dela, que matam as bactérias e não deixam cheiros. É comum a gente ouvir de pessoas que hoje são nossas clientes, que no início achavam a calcinha nojenta, mas que depois de conhecer e experimentar, se surpreenderam e trouxeram para suas rotinas. Então, a gente sempre indica testar primeiro.
 
Quais as principais curiosidades de quem procura um produto Pantys? Que tabus vocês ajudam a desconstruir diariamente? 

Quem procura a Pantys quase sempre está curiosa para saber como usar, como lavar e quanto tempo dura. Porém, a resposta para isso depende muito de uma pessoa para a outra, porque os fluxos, a duração do período e a rotina são completamente diferentes. O melhor segredo é experimentar para descobrir o seu melhor jeito de usar. Além da associação da menstruação com algo sujo e nojento, a gente quebrou o tabu de que deve haver higienização a cada três horas, com a troca do absorvente. A calcinha foi feita para ser usada durante o dia inteiro e não existe problema nisso. Isso também faz com que seja mais aceita a idéia de reutilização e sustentabilidade. Mas a gente também está tentando quebrar o tabu de que menstruação é algo chato, incômodo e que faz a mulher se sentir mal, já que a maior proposta da calcinha é o conforto.
 
Como finalidade da marca, vocês divulgam que é importante parar de negar a menstruação e passar a aceitá-la, entrando em contato com a própria natureza. Vocês recebem muitos depoimentos de mulheres que tem essa dificuldade de aceitação? Qual o conselho que dão em relação a isso?
 
Antes de usarem o produto, a gente recebe muitas perguntas sobre como lavar a calcinha, porque vêem isso como algo nojento. Mas não consigo me lembrar de nenhum comentário que recebemos de uma pessoa falando que não gostou da experiência por conta da lavagem ou do contato com o sangue. Então, acredito que o melhor conselho é se abrir para experimentar a Pantys e ver o que acha dessa nova experiência. Esse é o primeiro passo para transformar a rotina.  
 
Para todos os produtos vale a máxima “cada caso é um caso”. O que vocês recomendam para pessoas que não conhecem bem seu fluxo e que por isso mesmo tem medo de apostar em alternativas como a calcinha absorvente? O design da calcinha faz a diferença nessa hora? 

Sem dúvidas, a relação é de total autoconhecimento. Por isso, recomendamos que as clientes que possuem medo testem durante a noite ou na hora de dormir. Além disso, o conforto e a sensação de estar em um dia normal, mesmo estando menstruada, é um grande diferencial da Pantys.

Que estratégias vocês têm utilizado para romper com a ideia de que menstruação é “lixo”? 

Quando os absorventes descartáveis são utilizados, a menstruação é considerada como lixo, uma sujeira que precisa ser descartada e jamais deverá ser vista por ninguém. Neste cenário, desde cedo as mulheres associam o ciclo natural a algo sujo, nojento, indesejado e com odor. Porém, se depender da Pantys, essa visão hostil está com os dias contados. É por isso que levantamos a bandeira de que é necessário recuperar a sacralidade do momento, do poder e da força existe em cada ciclo.
 
Em setembro deste ano, vocês desenvolveram a campanha #velhomundodescartável #novomundosustentável. Quais as contribuições para o meio ambiente que a opção da mulher por uma calcinha absorvente pode dar? 

Uma mulher menstrua cerca de 40 anos, sendo em média 12 vezes ao ano, totalizando quase 500 ciclos.  Infelizmente, mais ou menos 12 mil absorventes higiênicos são descartados nesse processo. Além dos prejuízos ao meio ambiente, essa relação desgasta o emocional feminino, afinal, ignorar e desconhecer os processos naturais do seu corpo é o mesmo que ter uma relação incompleta.