Batista de Lima: O conceito de "Plíndola"

Escrito por Redação ,

Primeira vez que vi essa palavra foi como título do mais recente livro de poemas de Pedro Henrique Saraiva Leão. Publicado em 2016, pela Expressão Gráfica e Editora, acredita-se que apenas seu autor tenha sido o ouvinte da pronúncia dessa palavra que dá título ao livro de 212 páginas.

Foi, segundo ele, saída da boca de um ator, antes do início da peça "Macunaíma", no Theatro José de Alencar. Não há prova desse acontecimento. Fato é que virou título do seu livro "Plíndola" e agora podem dicionarizá-la, pois passou a existir.

Pesquisas foram feitas entre linguistas e gramáticos puristas, corifeus e beletristas, eremitas e exegetas, mas as opiniões são as mais desencontradas. Alguém interpretou-a como uma nova "eureca", outro veio a dizer que significava "em honfein de quê?", o que embaralhou ainda mais seu significado. Entretanto, PHSL teve um alumbramento quando a ouviu naquele teatro. Aliás, deveria estar só naquele momento, porque ninguém até hoje a ouviu na sua pronúncia real. Por isso que preferi ler o livro e me livrar do título esquecendo-o. Afinal, só dou nome àquilo que conheço. Não nomeio o desconhecido, para não pronunciar em vão.

A virtude de Pedro Henrique na sua poética é que toda ela é centrada na linguagem. Ele opera uma metalinguagem. Começa desmontando o sintagma para criar uma nova ordem. É um autor que rompe com a sintaxe tradicional, operando uma nova estrutura sígnica.

É esse exercício que atrai o leitor que passa a auxiliar nessa faina reconstrutiva. Esse trabalho vem revestido de um lirismo que emana principalmente do bailado que ele impõe às palavras. É evidente que sobressai de sua poesia uma angústia que vem alojada na estrutura profunda da fala. Talvez seu contato profissional com o efêmero da existência contamine as profundezas da sua mensagem poética. O autor é médico e conhece as artimanhas do Tanatos.

Esse nono livro de PHSL traz significativas incursões em torno da aridez da vida. Não é sem razão que ele chega a declarar: "no meu esqueleto disperso a / carne do meu verso". Logo em seguida ele pergunta: "quem encontraria o rastro / dos meus pés? (?) quem bateria / prego! O último do meu caixão?" Ele realmente sabe mesclar luz com sombra. Chega a lembrar inclusive a morte da árvore para produzir o papel que serve de leito definitivo ao poema. Até para falar na sorte grande de quem acerta a loteria, o poeta vê a presença da morte: "Só pra tirar a morte grande na loteria da vida". O Eros e o Tanatos sempre mostrando seus extremos. A contagem regressiva que se instala na vida a partir do momento em que é gerada.

A sintaxe inovadora de PHSL dilata sintagmas, mas também reduz, tudo feito em nome de estética pessoal que é sua marca ao longo dos livros que tem produzido. Ele rompe com a pontuação, transforma signos em símbolos, emgabela o leitor, muitas vezes, com suas armadilhas poéticas. Desde "Ilha da canção", coletânea de 1983, passando por "Meus eus", livro de 1995, esse jogo criativo é uma prática desse poeta. Até nas suas incursões concretistas ele se esmera em ser único na sua criatividade o que o distancia de aparentes intertextualidades.

Pedro Henrique Saraiva Leão é pungente no seu canto poético. Seus neologismos são fruto de palavras que se unem para conseguirem a força da sobrevivência. Suas imagens unem a plasticidade ao sensorial do leitor. Entretanto, esse leitor termina por incorporar o existencial que evolui das entrelinhas de seus versos. Suas reflexões levam o lirismo a se tornar uma catarse. É preciso cantar para sobreviver, metaforizar para se ocultar da finitude, dispor da palavra com todos os seus potenciais para uma aparente salvação. Afinal, a vida é uma "Plíndola".

Primeira vez que vi essa palavra foi como título do mais recente livro de poemas de Pedro Henrique Saraiva Leão

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