Epidemiologista Wanderson de Oliveira, secretário do Ministério da Saúde, pede demissão

Médico é referência em epidemiologia e era um dos defensores do isolamento social dentro do Governo. Em carta de despedida, ele afirma que o ministro da Saúde pode vir a ser demitido via Twitter

Escrito por Redação/Estadão Conteúdo ,
Legenda: Wanderson Oliveira era de total confiança do ministro Mandetta
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O médico Wanderson de Oliveira, secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, pediu demissão na manhã desta quarta-feira (15). A informação foi divulgada em nota oficial do ministério, que não informou se já foi escolhido um substituto para ocupar o cargo.

Wanderson era uma das autoridades do ministério que mais participavam de entrevistas e ações da pasta sobre o enfrentamento ao novo coronavírus. Assim como o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ele é defensor do isolamento social como estratégia de contenção do vírus.

O secretário de Vigilância em Saúde é apontado como um dos principais formuladores da estratégia do Ministério da Saúde para enfrentar a Covid-19 e vinha se queixando a colegas sobre o discurso do presidente Jair Bolsonaro contrário ao isolamento social mais amplo.

O médico já se despediu dos colegas por meio de uma carta e chegou a distribuir um relatório de sua gestão ainda na terça-feira (14). Nesta carta, ele afirma que teve reunião com Mandetta, e "sua saída estava programada para as próximas horas ou dias". Oliveira diz que até uma demissão do ministro da Saúde pelo Twitter poderá ocorrer. "Só Deus para entender o que querem fazer", completou.

Divergências 

O pedido de demissão de Wanderson ocorre exatamente um dia após Mandetta avisar à sua equipe que Jair Bolsonaro já procura um nome para o seu lugar e que deve ser demitido ainda nesta semana. 

As divergências de posicionamentos do presidente e do ministro quanto ao isolamento social ficaram cada vez mais evidentes nas últimas semanas. Inclusive, o apoio que Mandetta detinha de militares do Palácio do Planalto foi enfraquecido, após ele afirmar em entrevista ao programa Fantástico, da Rede Globo, que o brasileiro não sabe se escuta o ministro da Saúde ou o presidente. Para a cúpula fardada, a declaração foi uma provocação desnecessária.

Na semana passada, em entrevista na qual revelou que auxiliares chegaram a limpar suas gavetas no gabinete achando que ele seria demitido naquele dia, Mandetta disse que, caso fosse embora, seu time sairia junto. "Aqui nós entramos juntos, estamos juntos e quando eu deixar o ministério a gente vai colaborar de outra forma a equipe que virá. Entramos juntos e vamos sair juntos", afirmou na ocasião.

Nesta quarta, Bolsonaro compartilhou nas redes sociais um vídeo com ataques a medidas de isolamento social adotadas no combate à pandemia da Covid-19. O presidente destacou o título do vídeo "Os sócios da paralisia", publicado originalmente pelo jornalista Guilherme Fiuza, em que é apresentada uma série de críticas ao ministro da Saúde e ao governador de São Paulo, João Doria (PSDB).

Especialista em Epidemiologia

Referência em Epidemiologia, Wanderson Oliveira era de total confiança de Mandetta. Esteve à frente do combate à pandemia desde o início, defendendo medidas de isolamento proporcionais ao estágio da epidemia em cada região, e de higiene, chegando a fazer demonstrações de como lavar as mãos nas pias que foram instaladas no térreo do Ministério da Saúde em Brasília.

Ele é doutor em epidemiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e ainda atua como professor da Escola Fiocruz de Governo da Fundação Oswaldo Cruz, em Brasília, como servidor público federal e enfermeiro epidemiologista do Hospital das Forças Armadas, do Ministério da Defesa. Tem mais de 20 anos de experiência profissional, sendo 16 anos no Ministério da Saúde, onde também atuou na coordenação da Resposta Nacional às Emergências do zika vírus, em 2015, e de H1N1, em 2009.
 

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