Demanda por segurança privada aumenta entre empresas do Ceará
Incêndios criminosos e ameaças de bombas fazem com que empresários reforcem a segurança de supermercados e concessionárias de veículos da Capital desde o início deste ano, aumentando os gastos de cada negócio
A onda de ataques violentos no Ceará demonstra que os alvos vão além dos órgãos públicos, afetando diretamente o setor produtivo do Estado. E o medo de ter o negócio comprometido por bombas e incêndios motivou os empresários a investirem mais ainda em segurança privada. A integridade física dos funcionários e também do patrimônio desses estabelecimentos comerciais demanda mais tecnologia e mais pessoal, o que acaba encarecendo os serviços prestados ou os bens comercializados em cada negócio.
No setor de supermercados, por exemplo, a decisão de reforçar a segurança privada foi tomada por cerca de 80% das redes cearenses, segundo revela o vice-presidente da Associação Cearense de Supermercados (Acesu), Nidovando Pinheiro.
Ele conta que os serviços de segurança armada têm sido contratados por até 24 horas. "Nós ficamos muito receosos também com o período depois do fechamento (das lojas). Devemos encerrar essa segurança extra somente uns quatro dias após o encerramento dos ataques", afirma Nidovando, demonstrando precaução extrema com a segurança das unidades.
Segundo o representante da Acesu, algumas redes cearenses não contrataram empresas de segurança por conta da dificuldade de achar pessoal disponível. "A demanda está tão grande que não temos encontrado mais homens suficientes para suprir", ressalta Pinheiro. Outra razão relevante para a não contratação pelos empresários são os preços elevados cobrados pelo tipo de serviço.
Concessionárias
As concessionárias e revendas de automóveis de Fortaleza também sentiram o impacto dos ataques. A onda de crimes ainda fez os empresários gastarem mais do que o esperado ao mês. Muitos apostaram na contratação de vigilância armada e na revisão do seguro com o corretor, para incluir uma cláusula que abranja ataques de vandalismo. "Esses pontos somados dão um prejuízo muito grande e principalmente porque as vendas caíram e o custo com a segurança aumentou", enfatiza Everton Fernandes, presidente do Sindicato dos Revendedores dos Veículos Automotores (Sindivel).
Conforme Everton, houve perdas também na quantidade de veículos em estoque. "A gente tem devolvido carros consignados, de clientes que deixam para vender, para não correr risco com um patrimônio alheio. Só isso já é uma parcela bem significativa dos estoques", pontua.
Pelas vitrines, é possível ver outras medidas de prevenção. Umas recuaram seus modelos, principalmente os mais caros, ao fundo do salão, tiraram as suas unidades expostas na parte externa da loja, e outras recorreram ao interior completamente vazio no horário fora do expediente.
No caso do segmento de usados, outro recuo é a ausência de feirões. A decisão ainda não é definitiva, no entanto, talvez não haja os grandes feirões previstos para janeiro, segundo Everton. "Até isso a gente está pensando duas vezes, porque não deixa de ser um risco. Estamos avaliando, mas este mês provavelmente a gente nem faça. Preferimos prevenir, então estamos recuando, o que não é bom para a economia do Estado".
Vendas
Com menos movimento nas lojas, as vendas caíram e foram de encontro às expectativas do segmento de seminovos de um janeiro aquecido. Uma alternativa, de acordo com representante do Sindivel, foi recorrer a uma venda mais direta com os clientes. "Não tem como a gente ainda mensurar os prejuízos porque ainda estamos no meio dos acontecimentos. Mas, serão enormes", revela.
Quanto ao mercado de novos, a previsão do maior volume de vendas a partir do dia 20 de janeiro será mantida. Segundo Fernando Pontes, presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores do Ceará (Fenabrave), as contas do começo do ano, como matrícula de colégio, material escolar, IPVA e IPTU, já iriam postergar os novos emplacamentos, então a esperança é que o fim do mês tenha a recuperação já programada para o início do ano. Aliás, ele também acredita que janeiro de 2019 será melhor que de anos anteriores.
"O Governo Federal está mostrando para que veio. Há uma confiabilidade muito grande em todo o setor empresarial em relação ao que se tem feito. Então, há novos investimentos chegando, começam haver restrição aos gastos desnecessários de governo, isso nos faz acreditar que nós teremos um governo de austeridade", destaca Fernando.
Transporte de Valores
O transporte de valores no Ceará não percebeu um aumento da demanda pelos serviços deste tipo. De acordo com o diretor-presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte de Valores (ABTV), Ruben Schechter, ainda não há informações sobre o crescimento do setor por causa dos ataques no Ceará. "Não existe link direto entre insegurança e aumento dos serviços de transporte de valores. Isso pode acontecer na vigilância patrimonial".
Schechter também diz que quando aumenta a insegurança as pessoas buscam se proteger mais. "Mas especificamente no transporte de valores, o que determina o crescimento da demanda de serviços está muito mais ligada à circulação de dinheiro e à necessidade que você tem de distribuir esse dinheiro pelas várias localidades do que propriamente à questão da segurança".
Segundo o diretor-presidente da ABTV, a região Nordeste, em geral, teve efetivamente aumento na quantidade de assaltos. "Isso se deve à ação de quadrilhas especializadas. Eu não tenho informação para poder lhe prestar que possa vincular os assaltos de carros-fortes ocorridos no ano passado, por exemplo, com a onda de violência que está atingindo o Ceará neste momento".
Conforme o executivo, o que orienta o termômetro para a contratação desses serviços é justamente a necessidade dos bancos e varejistas de terem dinheiro. "O aumento da demanda dos serviços está muito mais ligado ao fomento econômico do que à questão da segurança", completa.
A Servnac, especialista em segurança, contou que seus profissionais foram "procurados nos últimos dias por algumas empresas de diversos ramos de negócios para reforço da segurança com solicitações de aumento no número de pessoal e ampliação de horários de vigilância, essencialmente". "No entanto, foram demandas pontuais, prontamente atendidas pela equipe, sem impacto direto no faturamento", disse o diretor comercial, Osvaldo Cavalcante.