Com boas estratégias, mercado de livros poderá crescer 9% em 2018
Mesmo com duas das principais livrarias do País entrando em processo de reestruturação, setor pode fechar o ano com números positivos apesar da crise econômica. Especialistas ainda apontam que pequenos negócios do ramo no Ceará poderiam recuperar espaço perdido para grandes redes
Com duas das maiores livrarias do Brasil - Cultura e Saraiva - entrando em processo de reestruturação e fechando lojas pelo País, o mercado de livros parece ameaçado. No entanto, com a estratégia correta e uma visão comercial aplicada à realidade do mercado nacional, onde o público não possui formação clara de leitura, empresas têm mostrado, apesar da crise econômica, sinais de estabilidade. Em 2018, no Brasil, o setor de livrarias deverá fechar o ano com um crescimento de 9% nas vendas, e apresentar cases, como o da Leitura, que esperam uma elevação de pelo menos 8% no faturamento neste ano.
Segundo dados do Painel das vendas de livros no Brasil, estudo realizado mensalmente pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros e a Nielsen Bookscan Brasil, o valor acumulado de vendas, de janeiro a setembro de 2018, chegou ao patamar de R$ 1,346 bilhão. O resultado é 9,33% superior ao desempenho do igual período de 2017, quando foi contabilizado R$ 1,231 bilhão. Os dados são coletados do caixa das livrarias e canais de e-commerce.
A situação, contudo, ainda não é das melhores, como defende Marcus Teles, presidente da Livraria Leitura. Os resultados, quando positivos, ainda estão distantes do esperado para o setor. Mas segundo ele, a explicação não é tão complicada assim, podendo ser definida pelo planejamento estratégico para o crescimento das livrarias pelo País. Para Teles, o que garantiu a estabilidade da Leitura durante a crise foi a postura conservadora, e prática, para tomada de empréstimos com bancos de desenvolvimento, além do foco para definir as áreas em que era possível investir, considerando as escolhas, por exemplo, de em quais cidades abrir novas lojas.
Dívidas
"O que aconteceu foi que muitas dessas empresas que estão com dificuldade, cresceram com dívidas, ao contrário da Leitura. Temos R$ 2 milhões em empréstimos, sim, mas temos uma reserva boa de capital e mais do que isso sendo investido. Quem está quebrando é porque cresceu com muitas dívidas e acabou sendo afetado pela baixa da venda de livros em 2015", explicou.
"Mas o setor está se recuperando e deve crescer 8% a 9% em 2018", completou Teles. O presidente da Leitura ainda comentou que acredita no potencial de recuperação das livrarias Cultura e Saraiva, pois, segundo ele, fechar lojas deficitárias é bom sinal de reestruturação e redefinição de estratégias. Para Teles, considerando o perfil do consumidor brasileiro, expandir demais o número de lojas pode acabar sendo um problema caso não haja uma visão bem definida, o que pode acarretar na saturação do mercado. E é justamente a procura por novos potenciais de mercado que poderão trazer novas livrarias ao Interior do Estado.
"O Brasil é muito grande e temos muitas áreas sem livraria. No Ceará, pode até ter uma livraria grande que não esteja dando bons resultados, mas ainda temos cidades como Juazeiro do Norte e Maracanaú que estamos estudando para investir nos próximos anos", revelou Teles.
Atualização
A opinião sobre a melhora de uma visão estratégica para as livrarias é compartilhada por Mileide Flores, diretora da Vila das Artes e proprietária de uma das mais antigas livrarias de Fortaleza, a Feira do Livro - que já não está em funcionamento. Segundo Flores, as pequenas livrarias do Estado podem acabar ganhando espaço de mercado com o recuo das grandes redes, mas o crescimento vai depender de uma nova visão comercial atualizada para a realidade atual do mercado local.
"As grandes redes trouxeram uma roupagem nova para as livrarias e tiveram um boom com os shoppings, e é nesse momento que as livrarias de rua começam a sentir no Ceará. Mas, atualmente, se quiserem crescer, as pequenas vão precisar fazer um rearranjo, não se perceber só como espaço econômico, mas também de serviço e de encontro. Temos de repensar o formato, ver a que serve a livraria", disse Flores.
Sem a redefinição de estratégia, as pequenas livrarias no Estado podem acabar, de fato, não se reerguendo. Segundo a Pesquisa mensal do Comércio (PMC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o volume de vendas de livros, revistas e papelaria apresentou uma redução de 9,2% na comparação entre janeiro e agosto de 2018 com igual período do ano anterior. No mesmo intervalo, a receita nominal indicada pelo levantamento revela uma redução de 5,8% entre 2018 e 2017. Em agosto de 2018, porém, segundo a PMC, houve uma alta de 21,1% na receita com a venda de livros ante igual mês do ano anterior.
"A única linguagem que o livro não permite erros é no âmbito econômico, então a gente precisava de pessoas que estivessem ali fazendo a venda do desejo da leitura também. Se tornando apenas um ponto comercial, as livrarias passam a ser comparadas a qualquer produto local, não havendo mais o espaço de formação de leitores, apenas o espaço comercial. Mas o lado comercial das livrarias não se sustenta por si só. Além disso, no Ceará, sempre tivemos um mercado convivendo com altos e baixos", explicou Flores.
Situação complicada
Procuradas para comentar o mercado, as livrarias Saraiva e Cultura afirmaram que se posicionariam apenas através de nota oficial divulgada à imprensa. Ambas as redes afirmaram que irão investir nos canais digitais de venda. "Em linha com sua estratégia, as iniciativas refletem um esforço da companhia em obter rentabilidade e ganho de eficiência operacional, dentro de uma estrutura mais enxuta e dinâmica. A empresa continua a investir em seu futuro e reforçará sua estratégia voltada para o digital", afirmou a Saraiva.
"As incertezas do cenário econômico brasileiro e, dentro dela, a crise do mercado editorial, que encolheu 40% desde 2014, fez com que a Livraria Cultura passasse a enfrentar dificuldades. Queremos atuar de forma agressiva nos canais digitais e, ao mesmo tempo, iremos manter poucas, mas ótimas lojas físicas pelo País", disse a Cultura.