Polo de moda da José Avelino transforma cenário do Centro de Fortaleza
A via mudou muito e hoje atrai consumidores de todo o Nordeste, é renda para 100 mil pessoas e movimenta R$ 70 milhões por mês.
Quem circula pelo Centro, na Avenida Alberto Nepomuceno, entre a Catedral Metropolitana e Av. Pessoa Anta, depara-se com o comércio popular mais importante de Fortaleza: o Polo de Moda da José Avelino.
Ali, cenário de confrontos e polêmicas, devido à feira de rua - que teve origem no início da década de 1990 na Praça Caio Prado, também conhecida como Praça Pedro II ou Praça da Sé - a atividade se desenvolveu, trouxe novo dinamismo à área, gera emprego diretos e indiretos e atrai grande número de pessoas de todo o Nordeste.
Comércio garante renda a 100 mil pessoas e faz girar R$ 70 milhões/mês
Do microempreendedor individual às pousadas, restaurantes, passando pelo entregadores de mercadorias, modelos, costureiras, modistas, taxistas, o polo potencializa renda para 100 mil pessoas, com movimentação média de pelo menos R$ 70 milhões por mês.
São 32 empreendimentos, onde trabalham mais de 15 mil pessoas, compreendendo 10 mil lojas e bancas espalhadas nos pequenos shoppings e em vias como a própria José Avelino e Travessa Icó. Por dia, passam mais de 20 mil pessoas por dia, vindas de todos os lugares do Ceará, Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí, Paraíba e Pernambuco.
Quem nasceu e se criou na área, como o dono de banca de lanche, Mário José da Silva, de 62 anos, conta que a área antes do polo era quase desabitada, perigosa e trazia prejuízos até para quem se aventurava a tentar algum pequeno negócio. “Tinha o mercado, a Catedral, mas o resto era meio marginal, sabe”, comenta ele.
100 ônibus com clientes por dia
O empresário Pedro Carapeba, proprietário do espaço Pátio Central, diz que somente nos galpões, o comércio têxtil recebe uma média diária de 100 ônibus com clientes que vêm de longe atrás dos produtos vendidos no local. “Além de incentivar a mão de obra na área, esse público também movimenta o comércio no Centro de Fortaleza, além de usar os equipamentos de transporte e turísticos da cidade, gerando toda uma cadeia positiva de negócios para o Estado. Representa atualmente importância vital para a cidade”, aponta.
“Eu não tenho vergonha de ser consumidora do comércio popular. Aqui eu tenho segurança, ar condicionado nas lojas, preço baixo e variedade”, afirma a vendedora autônoma Maria Gorete Pereira. Assim como ela, compradores que enfrentam horas e horas de ônibus, escolheram o espaço como ponto preferido. “Sou de Teresina (PI) e venho dois vezes por ano. Levo o que posso e não troco aqui por nenhum outro canto”, destaca a comerciante Lúcia Maria Cassis de Sousa.
Horário
A feira de rua da área é predominantemente atacadista, realizada entre 19 horas e 7 horas da quarta para quinta-feira e das 19h às 11 horas de sábado para domingo. Os shoppings funcionam de quarta-feira às segundas-feiras. “A terça-feira é fechado, é o nosso descanso semanal”, informa Pedro Carapeba. A determinação dos dias e horários é resultado de um acordo entre lideranças dos feirantes e Secretaria do Centro.
“A gente está legalmente estabelecido, baseados na lei municipal 9559, de 2009, que criou o polo de moda da José Avelino”, ressalta o empresário.
A Lei autoriza o comércio de confecções dentro de imóveis localizados na:
- Rua José Avelino, entre a Avenida Alberto Nepomuceno e ruas Boris;
- Senador Almir Pinto, entre a Governador Sampaio e a Conde D’eu;
- Rufino de Alencar, entre a São José e a Avenida Alberto Nepomuceno;
- General Bezerril, entre a Rua Dr. João Moreira e a Castro e Silva;
- Travessa Icó, entre a Avenida Alberto Nepomuceno e a Maranguape.
Para o historiador Jonas Facó, a possibilidade de negócios nessas vias facilitou a expansão desta atividade no entorno da feira, desenvolvendo novos pontos de vendas e trocas comerciais. O cenário desses espaços mudou muito nos últimos 20 anos.
O pesquisador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, em sua páginas nas redes sociais, lembra que a José Avelino foi criada em 1813, ainda com o nome Rua do Chafariz, o primeiro da cidade, e somente em dezembro de 1926 passou a ter a denominação atual. Ali, já funcionou, nos anos 30, o Café e Mercearia Maranguape; nos anos 40, a primeira empresa de recauchutagem e regeneração de pneus da Capital, a Tyresoles do Ceará.
“Depois de algumas tentativas de comércio, de centro de especialização de jovens aprendizes, mas nada ficou muito tempo. No início da década de 90, a área ficou meio abandonada, apenas tendo o Mercado Central e a Catedral como pontos de visitação e movimentação”, indica Jonas Facó.