José Walter teve a maior construção de imóveis nos últimos 7 anos

Entre 2013 e 2019, quando Fortaleza passou a ter um controle mais rígido do cadastro imobiliário, a Prefeitura registrou 10.230 novas edificações no bairro. Tendência de expansão envolve a ampliação de conjuntos habitacionais

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
Legenda: O Cidade Jardim, no José Walter, é a maior obra do Minha Casa, Minha Vida no Nordeste
Foto: FOTO: NATINHO RODRIGUES

Uma cidade que cresce sem parar. Fortaleza tem 871.689 imóveis registrados na Prefeitura. Desses, 106.500 foram construídos nos últimos 7 anos quando, segundo o Município, técnicas de coleta de imagem e digitalização de informações foram adotadas e proporcionaram um controle mais preciso sobre o cadastro imobiliário da cidade.

Nesse intervalo de tempo, o José Walter, nos limites de Fortaleza com Maracanaú, foi o que mais registrou construção de novos imóveis dentre os 121 bairros da Capital. O José Walter ganhou 10.230 edificações entre 2013 e 2019. Elas se somam com as 9.650 registradas até então no José Walter. É lá que a cidade se amplia.

Um dos grandes impulsos de ocupação do bairro, projetado na década de 1970, como um conjunto habitacional de grandes proporções, foi justamente a criação de novas habitações populares: o residencial Cidade Jardim. Quando contratado em 2012, o empreendimento imobiliário foi tido como o maior do programa Minha Casa Minha Vida II (MCMV) no Nordeste.

O Cidade Jardim I, entregue, tinha projeção de construção, pelo governos estadual e federal, de 5.536 apartamentos.

5.968
é a estimativa de unidades habitacionais no Cidade Jardim II, que reúne União, Estado e Prefeitura.

Uma delas é habitada pela família da vendedora Lúcia Herbênia Rodrigues. Há seis meses, ela, o marido e o filho se mudaram para o José Walter. Oriunda de Maracanaú, a família gosta da nova morada, mas ainda sente dificuldades no transporte e acesso a serviços. "Meu filho quis ficar estudando em Maracanaú, mas a questão dos ônibus é muito difícil. Nós (ela e o marido) também trabalhamos na Ceasa e para chegar lá só pagando carro particular", relata.

"Eu gosto de morar aqui. Mas essa questão dos ônibus e de posto de saúde, por exemplo, ainda é bem complicada. Não sei se é porque tudo é novo", opina. Para se deslocar até o trabalho, a vendedora sai por volta de 1h da madrugada e retorna às 14h. No caminho, relata ela, são muitos os trabalhadores que moram no Cidade Jardim e seguem de bicicleta rumo aos postos de serviço. "Nem todo mundo que mora aqui tem condições de pagar transporte. Isso precisa ser visto".

Os dados do cadastro imobiliário de Fortaleza, obtido pelo Sistema Verdes Mares, via Lei de Acesso à Informação (LAI), apontam que o bairro é seguido em número de construções nos últimos 7 anos, por Jangurussu (6.300), Aldeota (5.638), Pedras (5.216), Meireles (3.979), Luciano Cavalcante (3.641), Papicu (3.317), Messejana (3.080), Mondubim (2.685) e Centro (2.663).

Tendências

Evidências que o crescimento dos bairros sofre diferentes tendências a partir dos seus estratos sociais, explica o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), e integrante do Observatório das Metrópoles, Alexandre Queiroz Pereira. Ele avalia que esse movimento é justamente a expansão da "franja ao Sul", que. Conforme explica, pode ser considerada uma área periférica se pensarmos o centro tradicional de expansão.

Alexandre indica que esse crescimento elevado de construção de imóveis é evidente "no entorno de conjuntos habitacionais antigos da década de 1970, como por exemplo a área do São Cristóvão e do José Walter".

Nesse caso, esclarece ele, há uma indução à ampliação dos bairros a partir da moradia popular. Nesses territórios, além da estruturação dessas novas habitações, há ainda a permanência e expansão de assentamentos precários em áreas que fazem limites com Maracanaú e Caucaia.

São territórios, diz ele, que mantêm a tendência de crescimento horizontal e adensamento populacional. Além disso, enfatiza o professor, pensar a expansão da cidade é sempre projetá-la como uma metrópole. Ao contrário, corre-se o risco de ignorar as múltiplas demandas de uma Fortaleza que não para.

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