Ceará pode enfrentar oitavo ano de seca em 2019
O Estado é castigado pela ausência de chuvas expressivas desde 2012. Sem água, culturas e pastagens sofrem grandes perdas, e reservatórios, córregos e poços enfrentam escassez
Chovia do lado de fora do Palácio da Abolição quando o presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio, anunciou: em 2019, o prognóstico do órgão aponta que há maior probabilidade (40%) para ocorrência de chuvas em torno da média histórica. Para abaixo ou acima do normal, o percentual é de 30%. Os órgãos de gestão hídrica reconhecem que o cenário pode não ter grande impacto no aporte dos açudes do Estado, reacendendo o alerta: este será o oitavo ano de seca no Ceará?
"Não devemos esperar grandes aportes nos nossos três principais açudes: Castanhão, Orós e Banabuiú, mas devemos ganhar o suficiente pra passar outro ano", estima o secretário estadual dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira. Os três gigantes, que respondem por 55% de todo o armazenamento do Estado, estão hoje com apenas 3,9%, 5,5% e 5,4% de volume, respectivamente, segundo o Portal Hidrológico do Ceará.
Para Teixeira, "tudo abaixo de 30% exige muita atenção". Isso vale para os 10,5% de água que o Estado comporta atualmente, embora a situação seja um pouco melhor que os 6,7% com os quais 2018 iniciou-se. A região Centro-Sul, de acordo com a Funceme, poderá sofrer com chuvas abaixo da média - justamente a área onde os grandes açudes estão. Já no litoral cearense, as maiores chances são de precipitações acima do normal. A partir de abril, a tendência é de diminuição de chuvas em todo o Ceará.
Emergência
Sem água, o sertanejo sabe bem, o verde definha. O último Monitor de Secas também atesta: em dezembro de 2018, metade do Ceará apresentava seca em situação de grave a excepcional. "Apesar das chuvas, os efeitos da seca ainda não foram mitigados", aponta Eduardo Sávio. E as cidades do interior sentiram. Na última terça (15), acompanhamento da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) contabilizou 69 municípios em situação de emergência por seca decretada ou homologada pelo Governo do Estado.
Destes, 66 também estão com a situação reconhecida pelo Governo Federal. Três (Quixeré, Araripe e Pedra Branca) aguardam análise do processo para o reconhecimento federal. A declaração permite aos municípios solicitar recursos para ações de resposta de socorro, assistência às vítimas e restabelecimento de serviços essenciais, como perfuração de poços, Operação Carro-Pipa e adutoras de engate rápido. Do total, 26 cidades estão incluídas na lista até junho deste ano.
Futuro
De 2012 até hoje, o aporte aos reservatórios hídricos é o menor da história recente do Ceará, segundo Francisco Teixeira - bem diferente do nostálgico 2004, quando o Castanhão, recém-inaugurado, encheu em 40 dias. As dificuldades, desde então, exigem muito jogo de cintura do Governo do Estado para diversificar a matriz hídrica e gerir bem os recursos disponíveis.
O Cinturão das Águas do Ceará (CAC), umas das obras prometidas para garantir a segurança hídrica dos cearenses, está com 60% das obras executadas. O trecho 5 foi concluído emergencialmente porque vai receber a água do Eixo Norte da Transposição do São Francisco, em Jati, e distribuir para o Cariri. A previsão para as águas chegarem é o primeiro semestre, talvez em "abril ou maio", projeta Teixeira. "Faltam só alguns detalhes pra retirada de vazamentos e defeitos. Vai depender da velocidade que este Governo vai empreender nas ações".
Novas barragens também estão na mira. Já foram entregues a Germinal, em Pacoti, e a do Cocó, na Capital. Em breve, será concluída a Amarelas, em Beberibe (se chover bem, ela já vai "pegar" água agora). Já a Melancia, em São Luís do Curu, hoje está com apenas 2% de execução.