Após promessas, polo da Varjota será requalificado

Com recursos liberados, intervenções na região, conhecida pelos bares e restaurantes, começam ainda neste ano

Escrito por Vanessa Madeira - Repórter ,
Legenda: Cerca de 110 bares e restaurantes estão localizados no polo da Varjota. Melhorias são prometidas desde 2009, quando área foi regulamentada
Foto: Foto: Kid Júnior

Há mais de 20 anos, o quadrilátero formado pelas avenidas Santos Dumont, Virgílio Távora, Abolição e a Rua Manoel Jesuíno, no bairro Varjota, se tornou uma das principais regiões de lazer e entretenimento de Fortaleza. Com cerca de 110 bares e restaurantes instalados, a área é, hoje, o maior polo gastronômico da Capital, reconhecido em lei e apropriado pela Cidade.

Os corredores de estabelecimentos que se cruzam na região se formaram de forma não planejada, fruto da iniciativa de empresários do setor e da busca de fortalezenses e turistas por espaços dedicados à culinária local. No entanto, a mesma espontaneidade que gerou movimentação na área acabou provocando a necessidade de ordenamento, ponto que norteia a proposta de requalificação do polo, anunciado fim do ano passado pela Prefeitura Municipal e previsto para ter obras iniciadas ainda nesse semestre.

Demanda antiga dos que atuam ou desfrutam das atrações do bairro, após inúmeras promessas de melhorias ao longo dos anos, o projeto atual prevê intervenções urbanísticas em vias e passeios com foco no pedestre, e a dinamização da área, que contará com atividades culturais e de lazer. Orçadas em R4 15 milhões, as obras tiveram recursos liberados na semana passada pelo Governo Federal.

Segundo a secretária de Infraestrutura de Fortaleza, Manuela Nogueira, a ideia é transformar o polo gastronômico. Todas as intervenções previstas na região, desde a nova pavimentação das ruas Ana Bilhar e Frederico Borges (que será intertravada e não asfáltica), até a iluminação pública, que passará a ser subterrânea, são voltadas para incentivar o caminhar e desestimular o uso do carro.

Caminhar

"A ideia é dar essa ambiência e o poder do caminhar naquela área. Queremos que todas as pessoas se sintam convidadas a sair do carro para andar, como se fosse uma grande praça, um largo", explica a secretária, acrescentando que a expectativa da administração é licitar as intervenções em maio e começar obras em junho.

Essa é a primeira vertente do projeto. Além das mudanças físicas, a Prefeitura também pretende consolidar a região como área de desenvolvimento econômico e turístico. Para isso, após a conclusão das obras, que devem durar cerca de 12 meses, o polo gastronômico terá programação especial.

"Vamos, em parceria com iniciativa privada, empresários da região e associações de chefs de cozinha, criar um roteiro gastronômico permanente e cultural, mais ou menos nos moldes do que temos hoje na Praia de Iracema", diz Alexandre Pereira, secretário de Turismo de fortaleza, fazendo referência ao projeto Quarta Iracema, que promove, semanalmente, atividades culturais, esportivas e de gastronomia na orla. Durante o período de intervenções, Pereira afirma que a Secretaria deve começar a dialogar com os envolvidos na iniciativa.

Para os empresários do bairro, o projeto pode ajudar a valorizar ainda mais a região e atrair novos visitantes. No entanto, diante de outras promessas de melhorias que não saíram do papel, a maior expectativa é que as mudanças propostas sejam de fato colocadas em prática. Rodolphe Trindade, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel), lembra que, em 2009, ano no qual o polo foi reconhecido em lei pela Prefeitura, outras requalificações foram sugeridas para a área. O objetivo era atrair novos investimentos, assegurar o ordenamento do uso do solo e inserir os corredores de restaurantes em roteiros turísticos da Cidade.

"Já houve um projeto para oficializar, habitar e melhorar o polo, mas não foi executado. Ficou somente em discussão, nunca foi levado adiante. Sempre foi uma demanda não só dos empresários, mas de frequentadores do local, ter um ordenamento urbano que seja de bom convívio para todos", diz.

Promessas

Rodolphe afirma que o polo da Varjota não foi criado, mas sim instituído pela própria população, que elegeu os espaços como opção de lazer na Capital. Ele destaca, contudo, que a região não estava preparada para receber tantos estabelecimentos, o que implica na necessidade de melhorias. "Um local com ordenamento, passeios definidos e com mais áreas para circulação das pessoas gera um convívio muito maior, e esse é o principal gargalo que temos hoje", diz o presidente da Abrasel.

O empresário Tarso Prado, proprietário do restaurante Rei da Picanha, instalado na Varjota desde 1994, lembra que uma das promessas feitas para a região foi a integração com a Beira-Mar e a criação de um "trenzinho", que circularia pelos bares e restaurantes. "Outro ponto é que o polo nunca foi regulamentado de fato. Agora, teoricamente, com a nova Luos (Lei de Uso e Ocupação do Solo), isso deve acontecer", afirma, citando o documento sancionado em agosto do ano passado pela Prefeitura.

Para os empresários recém-chegados na área, como Lissandro Turatti, proprietário da Cervejaria Turatti, inaugurada em dezembro do ano passado, as perspectivas são animadoras, apesar das preocupações existentes em relação às obras.

"É um projeto arrojado, a única coisa que precisam ter cuidado é a maneira de executá-lo. Como é um projeto grande, não dá para interditar de uma hora para outra as ruas e deixar sem acesso", diz.

O empresário destaca que, se as melhorias forem de fato implantadas, haverá potencial para as áreas de emprego, turismo e geração de receita para o poder público. "Aquela região tem tudo para crescer. Sempre foi referência em gastronomia na cidade. Fortaleza é uma das capital com fluxo grande de pessoas, não só de turistas, então tudo ajuda. Se essas intervenções acontecerem, todo mundo sai ganhando", frisa Turatti.

Fique por dentro

Pacote de verbas inclui obras na Av. Beira-Mar

Além dos recursos para as intervenções no Polo Gastronômico da Varjota, o pacote de verbas obtido nas últimas semanas pela Prefeitura incluirá, ainda, obras de requalificação na Beira-Mar. Conforme informou o prefeito Roberto Cláudio, a gestão receberá R$ 250 milhões para investir em infraestrutura turística. Na Beira-Mar, serão realizados serviços como reforma do calçadão, nova pavimentação asfáltica, drenagem, mobiliário urbano, iluminação e paisagismo.

A previsão é que as obras comecem em junho e durem cerca de 18 meses. "É um projeto que deve valorizar nosso principal cartão postal. Com ele valorizado, a gente atrai turista, dinheiro, consumo, e, a partir disso, atrai emprego e renda", disse Roberto Cláudio. "Vai revitalizar a orla inteira e valorizar a feirinha, o comércio de ambulantes e os restaurantes e bairros que ficam no seu entorno", acrescentou o prefeito.

Cidade

Obras incluirão remodelagem de ruas, nova iluminação e criação de parklets (Foto: Kléber A. Gonaçalves)

Saiba Mais

Lei nº 9.563/2009

1) Criou o Corredor Gastronômico da Varjota, em Fortaleza.

 

2) Estabeleceu como objetivos do corredor: promover o desenvolvimento da atividade econômica instalada na região; atrair novos investimentos; assegurar o controle urbano e ordenamento do uso do solo; favorecer o trânsito de pedestres e otimizar o uso coletivo de estacionamentos; realizar campanhas publicitárias para divulgação; patrocinar festivais e encontros gastronômicos.

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