Parece um dia como qualquer outro, mas não é. A respiração é rápida, as mãos suam, o coração acelera. - Ah, é só um jogo de futebol - alerta a consciência em tom de falsidade o sujeito nervoso que adentra à Arena Castelão, muitas vezes sob o forte calor da nossa terra. As filas, o empurra-empurra. Finalmente se chega às arquibancadas. À frente, a visão até bonita da massa rival - mas quem é doido de admitir? Nenhuma outra torcida é tão bonita quanto a nossa! - grita novamente a consciência, desta vez devidamente uniformizada com as cores da paixão.
>Memórias de um Clássico-Rei inesquecível
>Sabe tudo sobre o Clássico-Rei? Teste seus conhecimentos
>Clássico-Rei em 2019: maior capítulo da história
Os times entram em campo. Um cordão preto e branco e outro azul e vermelho. A garganta empurra a voz cada vez mais alto, tão alto que chega aos ouvidos dos que estão logo ali à frente. Mas também se ouve o canto deles.
Começa o jogo. Carrinho, lateral, comemoração. Todos os movimentos arrancam reações. Indignação, risos, fúria. Uhhhh! Quase se grita e o outro se cala. Mas às vezes, eles gritam primeiro. São muitos, longos, chatos decibéis. Segundos que parecem se multiplicar. Mas o juiz apita, a tensão aumenta. Ataque, gol! É a vez de se fazer ouvido. E não tem Copa do Mundo, não tem Seleção Brasileira que chegue próximo disso. É gol 'da gente' em cima deles, no calor do estádio.
A breve introdução acima é uma caricatura do que é o Clássico-Rei. Um sentimento único que se reserva em 90 minutos. São 100 anos dessa história. Dez décadas de rivalidade, de grandezas mútuas. Isso é Ceará X Fortaleza ou Fortaleza X Ceará. Uma equiparação de poderes tão forte que atravessou o tempo, tal como os confrontos dos filmes de super-heróis, os épicos da literatura mundial.
Existem outros clássicos, outras rivalidades históricas, mas essa guarda um lugar especial e diferente. Fortaleza e Ceará são como irmãos oriundos de uma mesma grande mãe. Parecidos em tudo, do conteúdo ao envelope. Mas totalmente diferentes para aqueles que os amam. É o reflexo em cores diferentes. Um mesmo povo, uma mesma cultura que resolveu estabelecer diferenças por conta do fantástico mundo do futebol.
Não há dúvidas que este é apenas o primeiro dos 100 anos dessa história, que, pela força de suas torcidas, tende a nunca terminar. A história dos dois tem episódios de desentendimentos, mas, no fundo, Vovô e Leão se retroalimentam. Seus anseios naturalmente atravessam entre si. Uma relação de rivalidade que muitas vezes pode ser confundida até com admiração. Por que não? Um grande time, sempre tem um grande rival. E é isso que acontece aqui.