Trabalhadoras levam 9 meses para se recolocar

Diferença no tempo médio de procura por trabalho para homens e mulheres na RMF é de um mês e meio

Escrito por Redação ,
Legenda: Conceição Silva, 44, está há um ano em busca de emprego, após ter trabalhado como camareira
Foto: Fotos: Helene Santos

Se a crise acerta em cheio o mercado de trabalho masculino, a situação é ainda pior para as mulheres. Como se não bastasse elas terem de enfrentar dupla jornada (emprego remunerado e tarefas domésticas) e salários em média mais baixos que os dos homens, o mercado ainda tem preferência por eles em detrimento delas. Tanto é que as mulheres passam em média um mês e meio a mais na procura por uma recolocação no mercado de trabalho em relação aos homens na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).

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De acordo com dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED), o tempo médio de procura por trabalho na RMF para os homens foi de 7,25 meses (29 semanas) no ano passado. Já as mulheres levaram 8,75 meses (35 semanas).

E não é difícil encontrar quem esteja acima dessa média. Para Conceição Silva, 44, o desemprego está completando um ano, desde quando ela foi dispensada da pousada onde trabalhava como camareira. "Por causa da crise, ela fechou as portas", lamenta. Conceição já perdeu as contas de quantas vezes já foi à unidade do Sistema Nacional do Emprego/Instituto do Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT) do Centro e voltou para casa sem sucesso.

Vivendo com um companheiro e dois filhos, ela está sentindo o orçamento mais apertado desde que a família passou a depender apenas da renda dele, vendedor de lanches. Conceição está a procura de trabalhar no ramo em que possui experiência, e vem mandado o currículo para pousadas e hotéis, mas toparia qualquer emprego. "O que o meu perfil se encaixar eu não tenho problema", ressalta.

Filhos

Os filhos de dois e seis anos de idade também são uma das principais motivações de Mirian Oliveira, 23 anos, na jornada em busca de trabalho, que já dura sete meses. "O meu marido trabalha, e ele mantém a gente, mas é melhor com os dois trabalhando, pois temos um bebê, e são muitos gastos", afirma ela.

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Nayanne Elias, 30, já teve experiências em diversas óticas. Está há seis meses sem emprego formal 

Mirian já teve diversos empregos. Quando finalmente achou um trabalho mais duradouro e que lhe satisfizesse, a crise lhe surpreendeu. "O último emprego que eu tive foi em uma empresa que realiza serviços gerais. Passei uns cinco meses lá. Assinaram a minha carteira e pensei que eu ia ficar mesmo, mas aí a empresa fechou", lembra.

Ao contrário de Mirian, Nayanne Elias, 30, teve sua mais recente experiência de emprego, como vendedora de uma ótica, nada satisfatória. Além dos atrasos sucessivos em seu salário, ela ainda tem pagamentos a receber. "Ainda estou esperando receber o meu FGTS", afirma.

Há seis meses sem emprego formal, Nayanne diz que nunca passou tanto tempo nessa situação. "Eu sempre deixo currículos e procuro conhecidos. Como eu já trabalhei muito em óticas, tenho muitas pessoas conhecidas, mas está difícil", salienta.

'Mercado machista'

O economista do Departamento Sindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Ediran Teixeira, destaca que as tradicionais dificuldades das mulheres no mercado de trabalho são acentuadas na crise. "O primeiro critério de corte de vagas é que entre o homem e a mulher, fica o homem. E as vagas que surgem ainda são poucas e tendem a surgir para homens", afirma. "O mercado de trabalho é machista, e no Nordeste isso é ainda pior", sentencia.

Teixeira destaca que a mulher ainda hoje é discriminada devido à possibilidade de ter filhos e licenciar-se do trabalho. "Além disso, a mulher tem a dupla jornada e está menos disposta do que o homem a fazer hora extra, porque ela precisa voltar para as atividades do lar", afirma.

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