Reciclagem de fluorescentes

Escrito por Redação ,
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Compactas ou não, elas possuem mercúrio e , por isso, devem ser manuseadas com cautela e ter destino adequado

Foi no apagão de 2001 que as chamadas lâmpadas econômicas se incorporaram definitivamente ao cotidiano do brasileiro. O presidente da Associação Brasileira da Indústria da Iluminação (Abilux), Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, explica que antes disso eram produzidas entre três e cinco milhões dessas lâmpadas anualmente no Brasil. Mas os fatores economia e durabilidade, aliados à falta de incentivo governamental ao setor, levou a um quadro de 100% de importação para consumo de aproximadamente 150 milhões anuais. ´Isso daria para implantar pelo menos dez linhas de montagem no País. Mas, ao contrário, houve a desativação completa da produção no País´, afirma.

O crescimento ininterrupto da preferência pelo produto, que, a princípio, só apresenta vantagens, porém, faz surgir um problema. Na composição destas lâmpadas está presente, entre outras substâncias, o mercúrio, que tem grande impacto sobre o ambiente e a saúde humana. Isso implica na necessidade de dar-lhes destino adequado no pós-uso.

Fagundes explica que a Abilux congrega praticamente todos os fabricantes de lâmpadas no Brasil e a maioria dos importadores. Acrescenta que há um esforço de identificar todos os importadores e que foi contratada uma consultoria para apresentar proposta do setor ao grupo de trabalho (GT) Disposição Final para Resíduos de Lâmpadas Mercuriais, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). ´Nós defendemos que haja legislação federal para que as ações sejam unificadas´, diz.

Fagundes destaca que os grandes consumidores — como hospitais, fábricas, e shopping centers — têm estocado determinados volumes e chamado empresas recicladoras para dar destinação final. Em São Paulo, algumas lojas recebem a lâmpada queimada na compra de uma nova. Outras cobram R$ 0,50 por lâmpada entregue pelos clientes para destinar à indústria recicladora. Ele acrescenta que, mesmo sem exigências legais formais, a indústria vem incentivando a criação de pequenas empresas de reciclagem. Há, atualmente, no Brasil, aproximadamente dez empresas atuando neste mercado, todas localizadas nas regiões Sudeste (MG, SP e RJ) e Sul (PR, RS e SC ). Além do número pequeno, no entanto, a logística de transporte de resíduos perigosos é complexa e o desconhecimento sobre o assunto ainda é considerável.

Renato Barros e Silva, da Recitec, localizada em Pedro Leopoldo (MG), explica que atualmente são descartadas 200 milhões de unidades por ano no Brasil e o que faz da lâmpada fluorescente um lixo perigoso é o fato de conter mercúrio em níveis superiores àqueles que poderiam torná-la um resíduo não perigoso.

Ele explica que as normas para o transporte de resíduos perigosos incluem uma série de itens, que além de evitarem o acidente, na ocorrência do mesmo, prevêem a mitigação dos impactos. ´Nesse aspecto vale ressaltar que a lâmpada nova também tem a sua fabricação concentrada e representa o mesmo perigo´, destaca.

Barros e Silva esclarece que as formas de reciclar a lâmpada fluorescente variam. No caso da Recitec, consiste em quebra, peneiramento e destilação em ambiente com depressão. O custo, sem frete, para uma empresa que utilize um sistema seguro é superior a R$ 0,95, segundo ele. Todos os componentes, no caso da Recitec, são reciclados na indústria do alumínio, vidro e termômetro.

A Mega Reciclagem atua neste mercado desde 1998, a partir de pesquisas, estruturação e desenvolvimento do projeto, por meio do Programa Disque-Tecnologia, do Centro Federal de Tecnologia do Paraná (CEFET-PR). Além da reciclagem, oferece orientação sobre manejo, acondicionamento, estocagem e transporte seguros aos clientes.

FLUORESCENTE OU INCANDESCENTE
Qual é mesmo o segredo da eficiência e durabilidade?

A lâmpada convencional, ou incandescente — aquela inventada por Thomas Edison — tem um filamento de tungstênio dentro de uma esfera de vidro. A eletricidade corre pelo filamento que oferece uma boa quantidade de resistência para a eletricidade, que transforma a energia elétrica em calor. O calor é suficiente para fazer com que o filamento fique branco. Esta parte branca é a luz. O filamento brilha devido ao calor, que é incandesce.

Apesar de não oferecerem risco de contaminação com metal pesado, uma das limitações das lâmpadas incandescentes é que o calor gasta muita eletricidade. Então, apesar de o objetivo da lâmpada ser gerar luz, calor não é luz, então toda a energia gasta para criar o calor, é desperdiçada.

A lâmpada fluorescente usa um método completamente diferente para produzir a luz. Existem eletrodos nas duas extremidades de um tubo fluorescente e um gás que contém argônio e vapor de mercúrio localizado dentro do tubo.

Uma corrente de elétrons flui pelo gás de um eletrodo para outro. Estes elétrons batem nos átomos de mercúrio, excitando-os. Conforme os átomos de mercúrio se movem do estado excitado para o estado não excitado, eles soltam fótons ultravioleta. Os fótons atingem o fósforo que cobre a parte interna do tubo fluorescente, e este produz a luz visível.

A lâmpada fluorescente produz menos calor, portanto, é muito mais eficaz, conseguindo produzir entre 50 e 100 lúmens por watt, o que a torna de quatro a seis vezes mais eficaz do que as lâmpadas incandescentes. É por isso uma lâmpada fluorescente de 15 watts produz a mesma quantidade de luz, que uma lâmpada incandescente de 60 watts.

Adicionalmente, norma do Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) obriga todos os produtos do gênero a exibirem selo que ateste o cumprimento das exigências de desempenho, a chamada Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (Ence).

Além da economia de energia — ainda difícil de ser quantificada — serve como incremento a essa demanda por lâmpadas fluorescentes a durabilidade (algumas com validade de até dois anos, superando a exigência legal de um ano).

Segundo o presidente da Abilux, Carlos Eduardo Uchôa Fagundes, enquanto uma lâmpada incandescente dura aproximadamente 750 horas, a fluorescente pode atingir 10 mil horas, o que compensa o custo mais alto de aquisição.

Considerando ainda o potencial poluidor, ele explica que a maior parte dos fabricantes é multinacional a já conseguiu reduzir em mais da metade a quantidade de mercúrio nas lâmpadas, num esforço tecnológico pelos do altos padrões de exigência europeus.

O setor demonstra preocupação, no entanto, com a importação responsável, pois, mesmo sem estimativa concreta, sabe-se que há milhares de produtos que entram clandestinamente no País e, mesmo havendo legislação para responsabilizar o fabricante/importador, há um agravamento, tanto na qualidade, quanto na preocupação em buscar destinos adequados aos resíduos.

FIQUE POR DENTRO
Cuidados para evitar a contaminação

As lâmpadas fluorescentes devem ser mantidas nas embalagens originais ou embaladas individualmente, em papelão ou papel, preso com fitas adesivas, para evitar a quebra.

Aquelas quebradas ou danificadas devem ser acondicionadas separadamente, em recipientes hermeticamente fechados, resistentes à pressão e com a informação externa de que se trata de lixo tóxico.

No manuseio de lâmpadas quebradas, é imprescindível a utilização de equipamento de proteção individual (EPI) adequado, incluindo máscara, luvas, avental e calçado de segurança.

Fonte: GT Disposição final para Resíduos de Lâmpadas Mercuriais

Mais informações:
www.megareciclagem.com.br
www.recitecmg.com.br

Maristela Crispim
Repórter

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