Porto de PE ganha em infraestrutura
Diante da afirmação da Pasta federal, a Cearáportos discorda e ressalta as qualidades do terminal cearense
Os portos do Pecém e Suape são os dois únicos terminais portuários do Norte e Nordeste com a infraestrutura compatível com as dimensões do tipo de embarcação que os armadores deverão destinar ao Brasil após a expansão do Canal do Panamá, segundo avalia a Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP/PR).
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Na competição, apesar de estar geograficamente em vantagem, o porto cearense perde para o pernambucano quando o quesito são questões técnicas, conforme o ministério. A empresa administradora do Pecém, porém, diz o contrário.
Conforme a Associação Brasileira dos Terminais de Contêineres de Uso Público (Abratec), os navios que deverão desembarcar no País, segundo expectativa do mercado, serão da classe New-Panamax, que são embarcações de 366 metros de comprimento, com calado de 15,2 metros e que acondicionam 12.500 TEUs (contêineres de 20 pés). Os portos de Pecém e Suape, por terem condições de receberem estes navios, podem, a priori, candidatar-se a hub ports.
Desvantagem do Pecém
A SEP/PR, contudo, aponta desvantagem do terminal cearense. "O porto de Suape, além de acessos aquaviários e instalações de acostagem adequados a navios desse porte, possui uma retroárea (pátio) capaz de suportar grandes consignações de carga, ao contrário de Pecém, que possui limitações na área contígua ao cais", apontou, por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa.
Visão oposta
O diretor de Infraestrutura e Desenvolvimento Operacional da Cearáportos - administradora do Porto do Pecém -, Waldir Frota Sampaio, apresenta uma visão diferente. "Nós temos grande chance de vencer a competição", garante. Segundo ele, a primeira vantagem do porto cearense é o fato de ele ser o primeiro ponto de atracação do Brasil, vindo do norte.
"Além disso, nós vamos ter condições melhores com área para receber os novos navios, de maior porte. Sem contar que temos preços altamente competitivos", defende.
Mas serão as empresas que trabalham com navegação internacional, pondera o ministério, que definirão se um deles poderá se tornar um concentrador de cargas. "A consagração de um porto como hub port é definida pelo próprio mercado, que fará essa escolha com base em critérios tais como: disponibilidade de infraestrutura, demanda, características geográficas etc", destaca a SEP/PR.
Investimentos
"Um fator que pode impactar na definição de um hub port pelas companhias de navegação, por exemplo, são os investimentos que elas já possuem em terminais próprios - nesse caso, MSC, Hamburg Sud e Maersk já são acionistas de terminais nas regiões Sul e Sudeste, o que poderia sinalizar o não estabelecimento de novos hubs na costa leste da América Latina", complementa a secretaria.
A SEP/PR informa que, desde 2010, a profundidade dos acessos aquaviários e das instalações de acostagem dos portos e terminais é acompanhada pelo Plano Nacional de Logística Portuária (PNLP), para verificar se ela é compatível com os projetos dos calados dos navios. O objetivo é adequar a profundidade limitante de cada unidade portuária. "Cabe ao ministério monitorar a demanda e a disponibilidade de infraestrutura dos portos brasileiros, interagindo sistematicamente com o mercado para acompanhar suas tendências e necessidades, a fim de estimular o desenvolvimento da infraestrutura portuária nacional", defende o titular da pasta, Edinho Araújo.
Monitoramento
O ministério acrescenta, através da nota, que também monitora "a oferta de capacidade, analisada em conjunto com as projeções de demanda da pauta comercial brasileira, que levam em consideração não apenas a disponibilidade de infraestrutura portuária, mas também o impacto de toda a malha viária terrestre nacional na distribuição de cargas para os portos".
'Nordeste precisa crescer primeiro', diz especialista
Para que os portos do Nordeste, especialmente os de Pecém e Suape (Pernambuco), possam vislumbrar sua caracterização como hub ports, aproveitando as vantagens da expansão do Canal do Panamá, será preciso mais que investimentos em infraestrutura. Conforme o presidente do Conselho de Administração da LOGZ Logística Brasil S/A, Nelson Luis Carlini, é necessário, antes de tudo, que a região cresça economicamente.
"O Nordeste ainda não tem uma geração de carga própria nem de importação/exportação significativa. Isso é necessário para que os navios maiores se sintam atraídos a atracar na região. No primeiro momento, portanto, ainda não acredito que estes portos se tornem hub ports", avalia ele, que já foi presidente da CMA CGM, terceira maior companhia de navegação do mundo, e da Docenave, braço de navegação da Vale do Rio Doce, além de diretor comercial dos estaleiros Verolme e da Wilson & Sons.
Novo transbordo
Sobre a possibilidade de estes portos concentrarem cargas que viriam da Europa e África com direção à Ásia, formando um novo triângulo de transbordo, como é cogitado por alguns especialistas da área, Carlini também não é otimista. "A África já possui o porto de Tanger, no Marrocos, que é um hub. E também tem o porto de Algeciras, na Espanha, que também já desempenha esse papel. Para descer ao Pecém ou Suape precisaria desviar da rota mais curta que leva ao Panamá. E, para sair da rota menor, só se justifica quando há muita carga, o que não há no Nordeste", analisa.
O engenheiro naval comenta que ainda é mais vantajoso para os armadores que fazem o trajeto entre a Ásia e o Brasil fazerem a rota pelo sul da África até o porto de Santos. "Por que Santos ainda é predominante? Porque tem carga doméstica. E, além de ponto de transbordo para as demais regiões do Brasil, é ponto de importação e exportação", explica Carlini.
Melhores condições
Patrício Júnior, ex-oficial de Marinha Mercante e atual presidente do Porto Itapoá - considerado o terminal de contêineres de melhor desempenho do País -, é partidário do posicionamento de que só investimento em infraestrutura não é suficiente. "Para se tornarem hubs, não existe necessidade de um novo Canal do Panamá. A ampliação do canal, portanto, não terá influência. O que todos os portos em princípio precisam fazer para atrair mais escalas e cargas - e daí se tornar um hub - é procurar oferecer cada vez melhores condições aos armadores, em termos competitivos", defende.