Ceará está preparado para a abertura do Canal do Panamá?

Para se beneficiar, o Estado precisa ter infraestrutura adequada, que faça a vantagem geográfica que possui, de fato, um benefício competitivo

Escrito por
Redação producaodiario@svm.com.br

Uma das maiores obras de engenharia do mundo moderno, o Canal do Panamá, que há cem anos encurtou as distâncias entre o Ocidente e o extremo Oriente, ligando os oceanos Atlântico e Pacífico, abre espaço para um novo momento para a navegação mundial. Se as estimativas se concretizarem, a ampliação da passagem marítima pelo istmo será concluída no final deste ano, gerando novas oportunidades de negócios que podem revolucionar o transporte de cargas, inclusive no Ceará. Isto se o Estado tiver sua infraestrutura preparada para tal, tornando sua vantagem geográfica em, de fato, uma vantagem competitiva.

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O Canal do Panamá é formado por dois conjuntos de eclusas que funcionam como elevadores, erguendo os navios do nível do mar ao dos lagos que navegarão no istmo para passar de um oceano a outro, que chegam a elevações de 26 metros. Iniciada em 2007, a expansão se encontrava, até o fim de fevereiro (data da última atualização da obra), com 86% de seus serviços concluídos, de acordo com a Autoridade do Canal do Panamá (ACP), administradora do local.

Capacidade maior

Empreendimento orçado em US$ 5,2 bilhões, a ampliação consiste na instalação de um terceiro jogo de eclusas, que vai permitir a passagem de navios com capacidade bem maior, os chamados Post-Panamax (assim denominados exatamente por não poderem mais passar pelo Canal do Panamá).

Atualmente, a capacidade do canal é para embarcações de até 5 mil TEUs (unidade que equivale a um contêiner de 20 pés). Com a expansão, porém, essa capacidade passará a 13 mil TEUs, provocando um enorme incremento no comércio marítimo por meio daquela região, com um potencial para movimentação de mais de 600 milhões de toneladas ao ano através do trânsito anual de aproximadamente 16 mil navios.

Este movimento pode se constituir em importante catalisador para a utilização de um porto no Norte ou Nordeste do Brasil para atuar como um ponto concentrador de cargas, o chamado 'hub port'. "O Ceará tem o primeiro porto com condições de infraestrutura para receber os navios chamados Post-Panamax e, com essa condição, a tendência é que ele se torne um porto hub, um concentrador de cargas e de linhas de navegação", acredita o presidente da Agência de Desenvolvimento Econômico do Estado (Adece), Ferruccio Feitosa.

Oportunidades

Ainda de acordo com o presidente da agência, "são muitas as oportunidades que podem surgir para o Ceará com a abertura do Canal do Panamá". "Toda a dimensão de desenvolvimento econômico do Nordeste brasileiro será ampliada e o Porto do Pecém, por exemplo, tem as maiores oportunidades, por ser o primeiro porto de cargas gerais que se aporta ao Brasil", complementa Ferruccio Feitosa.

Há vários anos essas possibilidades são estudadas e, segundo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), o Pecém não é a única opção. Além dele, são considerados como potenciais hub ports, por sua localização geográfica, os terminais portuários de Suape ( localizado em Pernambuco), Itaqui (Maranhão), além do Vila do Conde (Pará), que, portanto, acabarão competindo entre si.

Muito a ser feito

Contudo, de acordo com a Antaq, muita infraestrutura ainda precisa ser garantida para que estes portos se credenciem a concentradores das cargas que surgirão com a ampliação do Canal do Panamá. E é isto, mais do que a localização no mapa em si, que vai ser determinante na hora em que os armadores de embarcações definirem onde concentrarão suas cargas e linhas de navegação. Quem tiver saído na frente, ganha.

Sérgio de Sousa
Repórter

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