Por que é tão difícil para o Ceará concretizar projetos estruturantes
A decisão da Petrobras em encerrar o projeto da Premium II coloca em xeque a credibilidade do governo e gera reflexão
O cancelamento do projeto da refinaria Premium II pela Petrobras não gerou somente frustração e indignação entre os cearenses. Os sonhos desfeitos em relação às perspectivas sinalizadas pelo empreendimento, de criação de centenas de empregos, da atração de novos negócios e de se alcançar um patamar de desenvolvimento jamais experimentado por um estado pobre, com mais de 90% de seu território encravado no semiárido nordestino, desencadearam dúvidas e abriram, principalmente, espaço para reflexões.
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Por que a realização de projetos estruturantes, que envolvem grandes valores em dinheiro, como a própria Premium II, a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) ou a Usina de Itataia, são tão difíceis de serem consolidadas no Ceará?
Política econômica
Para o economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Henrique Marinho, a inexistência de uma política econômica nacional dirigida para o desenvolvimento regional, que priorize os estados pobres da federação, é o principal entrave.
Outro fator complicador, de acordo com ele, é a falta de infraestrutura. "A iniciativa privada enxerga a falta de infraestrutura como empecilho aos investimentos. É por isso que os grandes projetos estão sempre onde a economia está mais desenvolvida. No caso do Ceará, as empresas que se instalam aqui vêm por incentivos do governo do Estado, como, por exemplo a isenção de tributos. Mas não há uma coordenação ou mesmo um elo com o governo federal", afirma Marinho.
Nordeste é afetado
Na avaliação do economista, esse é um problema que não afeta somente o Ceará, mas todos os estados da região Nordeste e, consequentemente, a economia nacional. "É claro que Pernambuco conseguiu avançar mais em alguns pontos, inclusive com a refinaria de Abreu Lima. Mas, tirando o fato de ter pesado que o ex-presidente Lula é natural de Pernambuco, o desenvolvimento do estado é resultado principalmente de políticas estaduais e menos de iniciativas federais", reconhece o economista.
Para Henrique Marinho, enquanto não houver uma política nacional de desenvolvimento regional, a dificuldade de concretizar projetos estruturantes em estados mais pobres, a exemplo do Ceará e do Maranhão (cujo projeto para a construção da refinaria Premium I também foi encerrado), persistirá.
"A Usina de Itataia, apesar de incluída no PAC, não andou porque não há uma política estratégica nacional ou uma coordenação federal que atue nesse sentido. Outro exemplo são as usinas eólicas. Não há uma política federal para a distribuição dessa energia gerada pelas eólicas", acrescenta.
Ângela Cavalcante
Repórter