PIB descola 0,1%; pior resultado desde 2009
A expansão foi puxada pelos setores de serviços (alta de 0,7%), e de agropecuária, que avançou 0,4% no ano
Rio. A economia brasileira cresceu 0,1% em 2014, na comparação com o ano anterior. O resultado foi o pior em desde 2009. Produto Interno Bruto (PIB), a soma dos bens e serviços produzidos no País, fechou o ano em R$ 5,52 trilhões, segundo dados divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No 4º trimestre, o PIB teve crescimento de 0,3% na comparação com o terceiro trimestre de 2014. Na comparação com o último trimestre de 2013, o PIB teve queda de 0,2%.
O crescimento de 0,1% em 2014 foi puxado pelos setores de serviços, que teve alta de 0,7% no ano, e de agropecuária, que avançou 0,4%. Com queda de 1,2%, a indústria impediu um crescimento maior do PIB.
Sob a ótica da demanda, houve um avanço de 0,9% no consumo das famílias e um crescimento de 1,3% no consumo do governo. A formação bruta de capital fixo, que representa os investimentos, caiu 4,4% no ano. As exportações caíram 1,1%, enquanto as importações tiveram queda de 1% no período.
As contas de 2014 foram calculadas com base em nova metodologia internacional, que está sendo adotada por todos os países. Com a nova metodologia, o IBGE também revisou os crescimentos do PIB em 2012 e 2013.
Per capita
O PIB per capita brasileiro caiu 0,7% de 2013 para 2014. O PIB per capita é um cálculo que leva em consideração o tamanho da economia brasileira em relação à população. Como a população brasileira teve um crescimento maior que o da economia, o PIB per capita acabou tendo desempenho negativo, fechando 2014 em um valor de R$ 27.229.
Serviços
O setor de serviços teve o menor crescimento da série histórica do IBGE, iniciada em 1996. Com alta de 0,7%, os serviços foram essenciais para garantir o crescimento de 0,1% do PIB do País. No entanto, esse crescimento de 0,7% foi inferior ao obtido pelo segmento em 2013 (2,5%).
Segundo a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, o crescimento moderado dos serviços foi provocado pela queda da produção na indústria e pelo crescimento, também em ritmo mais moderado, do consumo das famílias. "Uma parte grande dos serviços vai para as famílias e outra parte, para a indústria. Na parte de despesa pessoal, até pelos preços terem aumentado muito, houve queda no consumo desses serviços. Logo, a produção dos serviços também caiu. Além disso, serviços mais ligados à indústria da transformação - como o transporte de carga e o comércio atacadista - tiveram queda no ano", disse.
Investimentos recuaram 4,4%
Rio. A queda de 4,4% nos investimentos - pior resultado desde 1999 - foi o principal fator a puxar a atividade econômica para baixo em 2014, contribuindo para a estagnação do PIB. O reflexo disso foi o agravamento da crise na indústria da transformação e a retração na construção civil, responsáveis pelo recuo de 1,2% no PIB industrial. Com a tendência de esfriamento no consumo e os efeitos da Operação Lava Jato sobre os setores de petróleo e infraestrutura, o quadro deve piorar ainda mais.
No quarto trimestre do ano passado, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF, conta total dos investimentos no PIB) emplacou a sexta queda consecutiva na comparação com o trimestre imediatamente anterior.
"Foi a maior contribuição negativa para o crescimento no ano passado. Houve queda tanto na produção interna quanto na importação de bens de capital, e a construção também teve desempenho negativo", apontou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Com isso, a taxa de investimentos recuou de 20,5%, em 2013, para 19,7% do PIB em 2014. Bruno Rovai, economista do banco Barclays, projeta que a taxa deve baixar para 17,0% do PIB neste ano, na esteira de uma queda de 6% na FBCF, ainda mais forte do que o recuo do ano passado, anulando de vez a alta de 6,1% registrada em 2013.
"Os resultados adversos da indústria de transformação começaram a aparecer de modo mais claro em 2009, ano em que os efeitos mais agudos da crise financeira global se fizeram presentes, e persistem até hoje", escreveram em relatório os economistas do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Para o Iedi, o "crescimento baixíssimo" da economia ano passado refletiu principalmente a "crise da indústria de transformação".
O que eles pensam
Perspectiva negativa em 2015
"O PIB fajuto (do ano passado) é resultado de uma política econômica equivocada, que só beneficia o setor financeiro e os especuladores, em detrimento da produção e da geração de empregos. (...) O PIB praticamente nulo vai desestimular as empresas e os investidores, que irão colocar o pé no freio, resultando em aumento do desemprego no País"
Miguel Torres
Presidente da Força Sindical
"Esperamos uma queda de, no mínimo, 5% para o PIB do setor em 2015. No mês de janeiro, nunca havíamos registrado saldo negativo de contratações. Em 2015, foi a primeira vez. No ano passado só não tivemos uma queda nas taxas de emprego do setor porque os primeiros meses do ano ainda foram positivos, o que conseguiu segurar o resultado consolidado"
José Carlos Martins
Presidente da Câm. Bras. Da Ind. Da Construção
Tombini: 'pausa no crescimento'
Brasília. O presidente do Banco Central , Alexandre Tombini, disse - em nota - que o crescimento do PIB "confirmou a pausa no crescimento econômico no ano". Ele ponderou que as revisões metodológicas do IBGE foram positivas. "A revisão das estatísticas decorrente de aprimoramentos metodológicos incorporados pelo IBGE revelou um quadro de maior expansão da atividade econômica desde 2012, como já evidenciado para 2011, de participação mais elevada do investimento na economia e de melhores indicadores de solvência do País", disse. Ainda segundo Tombini, "numa visão prospectiva", apesar da evolução desfavorável da atividade no curto prazo, os ajustes macroeconômicos em curso tendem a construir bases mais sólidas para a retomada da confiança e do crescimento econômico.
Levy diz que País está em transição
Rio. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, comentou ontem o resultado do PIB do ano de 2014, com alta de 0,1%, mostrou um momento de desaceleração da economia, mas que o governo espera que a trajetória de recuperação seja delineada ainda este ano, principalmente pelas exportações e pelo lado do investimento.
"O resultado do PIB mostrou que a gente está numa transição, num momento de desaceleração, mas principalmente numa transição", disse Levy em coletiva de imprensa na sede do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no centro do Rio de Janeiro. Mais cedo, ele participou da reunião do Conselho de Administração da instituição.
"Começa a haver espaço para uma recuperação das exportações. No ano passado, a contribuição das importações e exportações foi neutra, uma compensou a outra. Este ano, nós esperamos que haja recuperação das exportações e que, portanto, o setor externo possa ajudar no crescimento da economia", afirmou o ministro.
Sobre os investimentos, Levy reconheceu que o desempenho foi fraco em 2014, mas o governo espera recuperação a partir do segundo semestre deste ano. "O investimento foi realmente um pouco mais fraco no ano passado. Há um esforço de que a gente veja mais para a segunda metade do ano uma recuperação do investimento. Isso é muito importante para a retomada do País", disse.
Segundo Levy, a recuperação dos investimentos pode inclusive ser puxada por outras áreas, como as exportações. Para o ministro, empresas que desejem "se aparelhar" não só para exportar, mas para atender o mercado local, podem alavancar a compra de máquinas.
CE: previsões são menos pessimistas
O crescimento de apenas 0,1% do PIB do Brasil, em 2014, não causou surpresa, segundo o analista de Políticas Públicas e Coordenador de Contas Regionais do Ipece, Nicolino Trompieri. Para ele, muitas razões contribuiram para esse resultado. Uma delas é a inflação alta e a manutenção da política do Banco Central de elevar os juros.
"Estamos vivendo um período de juros altos e crédito mais caro. Só isso já inibe o consumo e, consequentemente, interfere na atividade econômica. A outra questão é o descontrole das contas públicas e os gastos muito altos, que comprometem o crescimento da economia", explica.
A queda nos investimentos, Trompieri afirma que é resultado da mesma equação. "Com esse cenário, os empresários e investidores passam a ter menos confiança no País, reduzindo naturalmente seus investimentos".
E quem sofre mais com o baixo nível de confiança, observa o especialista, é a indústria, pois enquanto os serviços e a agricultura apresentaram expansão de 0,7% e 0,4%, respectivamente, a indústria registrou 1,2% de queda no ano passado.
Conforme Trompieri, "os serviços são muito afetados porque com juros altos e o crédito mais caro, a tendência é o consumidor consumir menos. Considerando o tamanho desse setor, 0,7% é muito pouco".
Estimativas
As projeções para o Brasil em 2015, segundo o analista do Ipece, não são nada animadoras. "No ano passado, a inflação fechou em 6,41%, bem próximo do teto da meta que é 6,5%. Em 2015, a expectativa é que ela seja maior que o teto da meta".
Sobre 2015, Trompieri não tem dúvida. "A previsão é de queda no PIB do Brasil em 2015. Porque, além da situação econômica, a política de aumentar os juros continua e temos o ajuste das contas públicas, com um pacote que ainda está em processo de execução", diz.
Para o Ceará, as previsões são menos negativas. "A gente consegue crescer pouco mais de um ponto acima do Brasil", afirma, lembrando que "desde 2008 o Estado vinha crescendo até 2% a mais que o País". "É lógico que o Ceará também está sofrendo as consequências da situação do País, mas o impacto é menor porque a proporção é diferente".
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