Pecém pode concentrar cargas do Nordeste

Segundo empresa que administra o terminal, os trabalhos para que o porto torne-se um hub port já começaram

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Redação producaodiario@svm.com.br
Legenda: Potencial para receber cargas de vários destinos e distribuí-las se dá porque o Porto do Pecém é, geograficamente, o ponto mais próximo para a atracação de navios de grande porte vindos do Norte
Foto: Foto: Rodrigo carvalho

O Terminal Portuário do Pecém, apontado como o porto brasileiro geograficamente mais bem localizado para o comércio marítimo através do Canal do Panamá, já deverá receber o impacto da ampliação do istmo a partir do próximo ano, com criação de novas linhas de navegação. Segundo garante a Cearáportos, empresa responsável pela administração do porto, o Pecém tem se preparado para se tornar um hub port não só do Nordeste, como do Brasil.

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"A abertura do Canal do Panamá, com 81 quilômetros de extensão, ligando o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico, claro, pode ser uma grande aposta para o setor portuário, tanto do Ceará quanto do Brasil, abrindo oportunidades para que o Estado possa vir a se tornar um grande concentrador de cargas na região, e no País", acredita, Erasmo Pitombeira, presidente da Cearáportos. Segundo ele, a travessia pelo canal é a mais interessante, por exemplo, para cargas que venham da China - hoje principal parceira comercial do Ceará - para a costa leste brasileira.

E como o Pecém é o primeiro ponto de atracação de navios vindo do norte e com capacidade de receber as embarcações de grande porte, o terminal possui potencial para ser um porto concentrador de cargas.

Novas possibilidades

Os primeiros movimentos que mostram o impacto que a expansão do canal trará para o terminal portuário cearense já começam a ser percebidos. De acordo com o diretor de Desenvolvimento Comercial da Cearáportos, Francisco Oliveira, os armadores já estão em conversação com a direção da companhia para estudar possibilidades de novas linhas de navegação.

"A CMA CGM, que já opera no Porto de Mucuripe e de Natal (no Rio Grande do Norte), está estudando novas rotas pelo Pecém, partindo, provavelmente, para a Europa e Estados Unidos", adianta.

"Com a nova estrutura que o Pecém está preparando, os armadores já estão estudando a ampliação de linhas. Com certeza, o porto irá atrair mais navios e mais linhas de navegação saindo do Pecém, com a expansão do Canal do Panamá", garante.

Conforme o diretor da Cearáportos, o impacto já começará a ser sentido no próximo ano. "O Pecém estará preparado", confirma Oliveira.

Mercado

Como a ampliação do canal tornará mais rápido o trânsito de navios entre a Ásia e o Brasil, ele vê uma janela de oportunidades para o comércio exterior cearense. Entre as possibilidades de negócios, o diretor cita a exportação de minério de ferro, que hoje já é feita pela empresa Globest, que leva o minério extraído do Interior do Ceará para a China pela rota mais longa, que passa pelo Canal da Boa Esperança, no sul da África.

"Uma outra empresa, a Geoport, já está preparando um novo pátio no Pecém, ao lado do utilizado pela Globest, para armazenar minério e também fazer exportação. Ainda uma outra, a Mineração do Nordeste (MDN), também está se preparando para exportar minério. Toda essa carga poderá encher navios maiores e fazer a travessia pelo Canal do Panamá", aponta.

Segundo ele, a Cearáportos já está recebendo diversas visitas de interesse de armadores e empresas que estão vendo possibilidades de novos negócios a partir do Pecém, após a abertura da ampliação do istmo do Panamá.

Produtos beneficiados

"Este canal trará uma navegação mais rápida e mais barata para a Ásia e isto significa a abertura de novos mercados também para todas as empresas que já exportam. É uma oportunidade para todo tipo de produto", reforça Oliveira.

O diretor de Infraestrutura e Desenvolvimento Operacional da Cearáportos, Waldir Frota Sampaio, acrescenta o Pecém também poderá ganhar novos mercados, por exemplo, com a exportação de frutas, item da pauta de exportações brasileira que o porto costuma liderar.

"Atualmente, estas frutas não podem chegar até a Ásia por conta do tempo de viagem, que dura cerca de um mês. Com o canal, o tempo será reduzido e será possível criar esse novo mercado", projeta Sampaio.

A conclusão da ferrovia Nova Transnordestina, cita Sampaio, além de facilitar o transporte de minério de ferro, também permitirá ao porto exportar grãos, que virão do Piauí. "As rotas ainda não existem, mas elas vão ser criadas", diz. 

Mucuripe ganha com cabotagem

Apesar de ser um terminal portuário de menor porte, com uma infraestrutura bem inferior à do Pecém, o Porto do Mucuripe, em Fortaleza, vê oportunidades de negócios com a ampliação do Canal do Panamá. Sem o potencial de se candidatar a um hub port, o porto acredita que o novo trânsito a ser gerado através do canal irá ocasionar, também, uma ampliação na movimentação nos seus píeres.

"À medida que mais navios possam navegar na nossa costa, há mais oportunidades para os portos brasileiros de oferecerem suas instalações. Contudo, os navios que passam pelo Canal do Panamá hoje já têm dimensões e calados maiores do que os navios que podem atracar no Porto de Fortaleza. Mas a nossa perspectiva é que estes navios de grande porte possam usar outros portos brasileiros como hub e permitir o fortalecimento do Porto do Mucuripe na cabotagem (transporte de navios entre portos do mesmo país)", analisa o presidente da Companhia Docas do Ceará (CDC) - responsável pela administração do Mucuripe -, Mário Jorge Cavalcanti.

Muito a ser ampliado

Com uma costa de oito mil quilômetros, o Brasil ainda tem muito a ampliar a participação da cabotagem como modal de transporte de cargas. A distribuição de mercadorias no País é feita preferencialmente pelo meio rodoviário, mesmo diante de problemas logísticos como estradas em más condições de conservação. As possibilidades por meio da cabotagem são, cada vez mais, defendidas por especialistas do setor.

De acordo com Cavalcanti, a equipe do CDC vem acompanhando, ao longo dos anos, os negócios logísticos ao redor do mundo para poder se preparar para as mudanças na navegação mundial com o novo canal do Panamá. "A CDC vem modernizando e ampliando sua infraestrutura e capacidade operacional para atender às novas demandas internacionais, a partir de um novo berço de atracação e dragagem que permite a recepção, atualmente, de navios com calado até 11 metros. Este fato já proporcionou os recordes de movimentação de cargas dos últimos três anos", destacou.

Contatos intensos

Segundo ele, a companhia tem mantido "contatos intensos" com armadores de cargas e cruzeiros para incrementar a movimentação de navios no Porto de Fortaleza. "Os esforços para os próximos anos são a dragagem do novo berço de atracação (13 metros de profundidade) e o alargamento do novo canal de acesso. Ainda este semestre, os operadores portuários vão iniciar a operação de um novo guindaste, que agilizará a movimentação de contêineres (capacidade de até 50 contêineres/hora)", diz. O Mucuripe movimentou, no ano passado, 5,2 milhões de toneladas de mercadorias, o maior volume de sua história e que representa um incremento de 4,6% sobre o ano de 2013. Do total geral da movimentação de mercadorias, 94% foi importação e 6% exportação. 

Obras fazem parte do preparo

Desde o projeto de ampliação de seu Terminal de Múltiplos Usos (Tmut), elaborado em 2010, o Porto do Pecém começou a se preparar para as oportunidades com a abertura das novas eclusas do Canal do Panamá, segundo garante a Cearáportos. As obras de expansão do porto estarão concluídas até o início do próximo ano e novos equipamentos estão sendo garantidos para dotar o terminal de maior infraestrutura de movimentação de cargas.

Atualmente, está em execução a segunda ampliação do porto, que consiste na expansão do Terminal de Múltiplos Usos (Tmut), inaugurado em 2010. Orçadas em R$ 568,7 milhões, as obras tiveram início em dezembro de 2013 e incluem uma nova ponte de acesso ao quebra-mar existente e pavimentação e ampliação deste; o alargamento da ponte de acesso existente; a construção de 600 metros de cais e a instalação de três novos berços de atracação.

Atualmente, o Tmut conta com dois berços. Entre os novos, o primeiro já estará pronto entre maio e junho e os demais até dezembro. "Ficarão três berços para serem utilizados com carga geral, incluindo as placas da Companhia Siderúrgica do Pecém, e outros dois exclusivos para contêineres", informa o diretor de Infraestrutura e Desenvolvimento Operacional da Cearáportos, Waldir Frota Sampaio. Ele destaca ainda como diferencial competitivo a retroárea de 170 mil m² no Tmut.

Além da ampliação, o Pecém também contará, juntamente com a entrega da obra, com dois super guindastes, que permitirão ao terminal operar com qualquer tipo de contêiner. Atualmente, o porto utiliza guindastes menores, do tipo MHC, que movimentam, no máximo, 30 contêineres por hora. Já os novos portêineres têm uma produtividade média de 70 contêineres por hora, ou seja, a velocidade na operação será mais que dobrada. Os novos super guindastes já foram adquiridos da China, através de investimento do operador portuário APM Terminals no valor de cerca de R$ 40 milhões.

Vantagens

De acordo com Sampaio, o Porto do Pecém tem vantagens não só geográficas, mas de infraestrutura, que o colocam em condição privilegiada para atrair novas linhas e cargas. Ele cita que o terminal portuário, que possui sua estrutura off-shore (fora da costa), apresenta grandes profundidades, sem necessidade de um canal de aproximação, o que permite a atracação de navios de grande porte. "Vários grandes portos têm problemas de assoreamento, precisam fazer dragagem. Já o Pecém não precisa, porque está em mar aberto e o navio já entra direto", destaca.

Atualmente, o terminal está esperando a homologação, pelo Departamento Hidrográfico da Marinha (DHM), da nova profundidade para atracação do porto, que passa a ser de 17,6 metros. Com isso, o Pecém poderá receber navios de até 16 metros de calado, independentemente do horário e de recursos de maré. "Tem portos onde é preciso esperar até a maré encher para poder atracar. Não aqui", afirma Frota. 

Sérgio de Sousa
Repórter

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