Importações podem ser impactadas a longo prazo

Empresas cearenses têm armazenado produtos importados diante da disparada da moeda norte-americana

Escrito por Redação ,
Legenda: Produtos comprados do exterior pelas empresas cearenses estão sendo armazenados no Porto do Pecém, no Porto do Mucuripe e também no Aeroporto Internacional de Fortaleza

A valorização da moeda norte-americana repercute na vida de todos os brasileiros. A começar pelos importadores, que lidam diretamente com a gestão aduaneira, pagando por produtos e insumos em dólares.

É o caso da JM aduaneira, despachante logístico responsável pela importação de toneladas de produtos químico-farmacêuticos - boa parte vindos da Alemanha, junto à Dinamarca e Estados Unidos - para dois grandes laboratórios em operação no Ceará: Fresenius e Farmace. Além dos insumos para a fabricação de remédios como a dipirona e o soro fisiológico, a importação engloba estes mesmos produtos prontos para comercialização e equipamentos.

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A alta do dólar, junto à greve parcial dos auditores-fiscais e a instabilidade política nacional são elementos que criam um "cenário nebuloso" para o Brasil, traça o CEO da JM Aduaneira, Augusto Fernandes. Como efeito da valorização do dólar, projeta um impacto no custo das empresas de no mínimo 10%.O que deve ser repassado em contratos firmados a partir desta semana.

Para Fernandes, ainda é cedo mensurar a dinâmica futura das importações, considerando a oscilação do próprio dólar.

"Lógico que as empresas fazem modelagem de custo, mas boa parte dos produtos podem levar até dois meses para realmente sofrerem os impactos nos valores. É difícil fazer uma previsão real do impacto na redução da importação, mas é fato que haverá uma redução".

Estoque

A variação cambial tem levado a empresa a armazenar produtos importados no Porto do Mucuripe, localizado em Fortaleza; no Porto do Pecém, situado na Região Metropolitana da Capital; e no Aeroporto Internacional de Fortaleza, ou Fortaleza Airport. Segundo ele, é preferível aguardar a queda do dólar e pagar pelo armazenamento. Isso porque o Estado do Ceará tem uma das menores taxas de armazenamento no Brasil: cerca de R$ 400 a cada 10 dias.

Custo

"Esta alta do dólar teve um impacto gritante no custo e o que os importadores fazem? Não nacionalizam os produtos, preferem segurar no porto porque sai mais barato. Imagina a empresa fazer um planejamento com o dólar a R$ 3,30 e em menos de seis dias ir para R$ 3,74".

A nacionalização significa converter dólares em reais, pagar impostos e liberar a carga, podendo ser feita em um prazo de até 90 dias sem penalização. Após este período, são aplicadas multas e juros.

Alívio

Apesar de todos os entraves, o CEO da JM Aduaneira vislumbra nos próximos dias um alívio para o mercado de importação. Amargando seis dias de alta consecutiva, o dólar voltou a operar nessa segunda-feira (21) em queda, após o Banco Central (BC) aumentar a oferta de dólar e anunciar que pode voltar a atuar no mercado do câmbio, caso seja preciso.

Aumento de juros

De acordo com o economista Alex Araújo, o dólar vem em escalada de valorização devido a um movimento na economia americana, que hoje atinge nível recorde de absorção de mão de obra, com taxa de desemprego abaixo de 4%. Além da reforma fiscal proposta pelo presidente Donald Trump, focada em reduzir os impostos.

"Quando a economia está muito aquecida, gera como efeito colateral o crescimento da inflação. E a forma mais tradicional de combater esta inflação é aumentando os juros. Por isso, o mercado prevê um forte aumento dos juros nos EUA daqui pra frente", analisa Araújo.

Quem tem dívida em dólar, sejam empresas ou pessoas físicas, são os mais prejudicados. Por outro lado, quem tem receita em dólar e os exportadores são beneficiados. Inclusive os do Brasil, País cada vez mais relevante no envio de commodities - produtos primários com cotação internacional, como a soja - para fora. Já "o consumidor, o empresário devem esperar um dólar mais alto. Mas tudo vai depender do aumento de juros nos EUA", conclui. 

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