Jornada mais intensa do que a de muitos jovens
Ao 77 anos de idade, o ferroviário aposentado, Ananias de Oliveira, trabalha mais do que muito jovem, muitas vezes acordando de madrugada para dirigir o seu táxi. Disposto, ele garante que não se cansa e nem pensa em parar de trabalhar. "Desde que me aposentei nunca parei. Trabalho não mata ninguém. Se parar é que a gente morre logo", afirma, fazendo menção a antigos colegas dos tempos da extinta RFFSA, que "após se aposentarem levaram o tempo a beber ou a jogar e já se foram".
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Seu Ananias conta que se aposentou cedo, em 30 de janeiro de 1987, aos 49 anos de idade, porque tinha a prerrogativa de exercer atividade considerada insalubre no, então, departamento de mecânica da Rede.
"Assim que me aposentei, primeiro abri uma oficina. Depois o aluguel subiu muito e eu tive de entregar o ponto. Foi aí que resolvi abrir um comércio em casa, mas com a ondas cada vez maior de assaltos, achei melhor fechar o negócio. Em seguida comecei com o táxi, apesar do perigo de assalto", conta.
É que, segundo o ferroviário aposentado, o táxi virou uma espécie de paixão. "Gosto mesmo é de trabalhar de táxi a noite, mas depois que fiz uma cirurgia no olho, a luz dos postes me encandeia. Então foi o jeito trabalhar de manhã e a tarde, mesmo com esse trânsito que sempre fica pior", afirma.
Conta própria
Dono do próprio veículo, ele diz que nunca pensou em se vincular a empresas com centrais de táxi. "Tenho muitos conhecidos, que já fazem corridas certas. Mas não trabalho só para eles. Rodo para todo mundo. Trabalho para mim", resume.
O taxista conta que trabalhar com táxi só não é bom para quem tem carro arrendado. "Tem gente que paga até R$ 100,00 por dia pelo carro. Desse jeito tem que morar na rua e passear em casa. No meu caso, o carro é meu. É um complemento da minha renda", explica.
Ele lembra que em outros tempos, o ganho era considerado um extra, que não entrava nas despesas da casa. Mas com o passar dos anos, o benefício foi se desvalorizando.
"Na época que me aposentei, fiquei recebendo nove salários mínimos. Hoje o valor do meu benefício está entre três ou quatro salários. A desvalorização começou quando o Fernando Henrique Cardoso tirou a paridade com o salário mínimo. Porque antes o percentual de reajuste do nosso benefício era equiparado ao índice de aumento do salário mínimo. Depois disso acabou tudo e a remuneração foi ficando pouca", recorda.
Seu Ananias também se queixa que, "embora a data-base dos ferroviários seja maio, esse ano ninguém falou ainda em reajuste salarial. Nem sobre a correção da inflação temos ideia se haverá. E se eu não possuisse meu táxi?" (AC)