Intermodal reduziria custo em mais de 50%
Além de qualificar as rodovias brasileiras, estudos demonstram que é preciso ampliar o uso de outros modais
Se arrasta por décadas o clamor do setor produtivo por mais investimentos em infraestrutura, de forma a proporcionar um transporte ágil e eficiente de bens e mercadorias dentro do País. Além de qualificar as rodovias brasileiras, que apresentam problemas de pavimentação ou sinalização em cerca de 60% da malha viária, estudos demonstram que a ampliação do uso de modais como marítimo, ferroviário e até aéreo podem reduzir em mais da metade os custos que as empresas têm hoje.
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O tema foi tratado ontem em debate no 11º Seminário Internacional de Logística - Feira Nacional de Logística (Expolog). Conforme estudo apresentado por Elisângela Lopes, assessora técnica da Comissão de Logística e Infraestrutura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), seria possível reduzir o custo da entrega de commodities no País em mais que pela metade, caso houvesse outras alternativas de vias férreas e marítimas, além de rodovias.
Considerando que o Ceará é, juntamente com Pernambuco, o estado que mais demanda milho no Nordeste, cerca de 1,4 milhão de toneladas cada, a assessora apresentou alternativas que reduziriam o custo do transporte do produto de Barreiras, na Bahia, para Fortaleza, como exemplo. Por meio rodoviário, pelo caminho mais curto possível, a tonelada (T) do milho sai atualmente por R$ 218.
"É possível observar que há uma barriga nesse trajeto, uma volta muito grande, e é a única alternativa. Mas nós notamos que há um trecho da BR-020, da Bahia até o Piauí (que tornaria o caminho uma linha mais reta), está planejada há cerca de 60 anos e, até agora, esse trecho de 800 quilômetros ainda não foi pavimentado. Se tivéssemos essa via pavimentada, o preço cairia para R$ 153/T", apontou Elisângela Lopes.
Considerando que um caminhão leva, em média, 40 toneladas de milho, a ligação terrestre possibilitaria uma economia de R$ 2.600 por veículo. "Esse é um valor que o produtor paga a mais somente por conta de um problema da infraestrutura", explicou.
Simulações
O estudo apresentou simulações também para verificar a viabilidade da entrega do produto à Capital cearense diretamente de Sorriso, em Mato Grosso. Pela rota atual, utilizando somente o meio rodoviário, a tonelada custaria R$ 478, em função da distância percorrida, de mais de 4 mil quilômetros. "Na primeira opção, que inclui a hidrovia, o valor já cairia pela metade, para R$ 230/T", destacou.
Outra alternativa simulou os custos utilizando a BR-163, no Mato Grosso, que, segundo a assessora, está com 75% de execução - o valor cairia a R$ 213/T. Há também a opção de mesclar a rodovia com a hidrovia, o que reduziria o preço a R$ 210/T. O melhor trajeto seria utilizando três modais: rodovia, ferrovia e hidrovia, com a tonelada a R$ 168. "É uma redução de 62% nos custos com o transporte, mostrando que é viável enviar o milho para o Nordeste, mas que é preciso investir na intermodalidade", disse Elisângela Lopes.
Transnordestina
Equipamento que interligará o Ceará ao Piauí e a Pernambuco, a Ferrovia Transnordestina está com as obras entre os trechos Missão Velha e Iguatu, ambas no interior do Estado, paralisadas por conta do atraso do repasse de verbas à empresa Marquise, responsável pela obra.
Para o ex-governador Ciro Gomes, que foi presidente da Transnordestina Logística, a obra poderá proporcionar um grande volume de investimento na Região quando pronta. Ele afirmou que o governo federal está inadimplente com os fluxos da Transnordestina, mesmo com quase R$ 400 milhões do Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) e quase R$ 1 bilhão do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE) que poderiam ser liberados e já estavam pactuados antes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Segundo a Transnordestina, a obra encontra-se em execução somente no trecho que liga Eliseu Martins (PI) até Trindade (PE), com 829 trabalhadores mobilizados até outubro último. O orçamento atual do projeto é de R$ 11,2 bilhões, o qual já foi validado pelo Finor e atualmente está em fase de validação pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A empresa afirma que o atraso na liberação dos repasses, notadamente nos últimos dois anos, vem prejudicando o avanço da obra. "Neste momento, o projeto está em processo de repactuação junto ao governo e às instituições financiadoras, estando a Companhia Siderúrgica Nacional pronta para tornar a obra uma realidade dentro dos novos parâmetros da negociação, inclusive com a possibilidade de entrada de novos parceiros estratégicos no projeto".
Superada a repactuação em andamento e os detalhes do financiamento, a Transnordestina declarou que será possível concluir a ligação entre Eliseu Martins (PI) e o Porto de Pecém (CE) em 30 meses e a ligação até o Porto de Suape (PE) em mais 14 meses. Em relação à retomada do ritmo da obra, estima-se que em no máximo seis meses o projeto possa voltar a gerar cerca de 6,5 mil empregos diretos.