Filas aumentam após o fim da greve nos bancos
Demanda acumulada durante os 23 dias de paralisação dos bancários gerou maior movimento
O primeiro dia após o fim da greve dos bancos públicos foi de longas filas de reclamações por parte de correntistas. A demora no atendimento atingiu, principalmente, clientes da Caixa Econômica Federal, onde filas ocupavam as calçadas, mesmo durante a tarde. Nas agências do Banco do Brasil, o movimento também foi acima da média, sobretudo no período da manhã. Entre as principais demandas dos clientes da Caixa estavam os saques de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e de seguro desemprego.
Em algumas agências, as filas começaram a se formar antes das 8h. "Tem gente há mais de duas horas aqui na fila (na calçada) e que ainda não conseguiu entrar na agência", disse o pastor Francisco Ferreira, que acompanhava uma filha na agência da Caixa da Rua Floriano Peixoto, no Centro de Fortaleza.
"A gente já sofre quando os bancos estão funcionando normalmente, mas agora, depois de 23 dias de greve, eles deveriam agilizar o atendimento", lamentou o pastor.
O auxiliar de cozinheiro Vilmar Vieira, 56, disse que durante o período de greve tentou em várias agências da Caixa sacar o seu seguro desemprego, sem sucesso. "Não consegui ser atendido. Era muita gente, estava tudo fechado e não fui nem recebido", afirmou. Sem o dinheiro do seguro desemprego, Vieira disse que precisou pedir empréstimos para pagar as contas. "Só agora vou receber a primeira parcela do seguro. Passei 15 dias sem poder pagar minhas contas e hoje estou devendo", contou.
Já a vendedora Cristina Freitas, 37, não teve dificuldade para ser atendida no Banco do Brasil da Avenida do Imperador, também no Centro.
Mas ela disse que, por conta da greve, atrasou a conta do cartão de crédito. "Consegui pagar as contas no Bradesco, mas as do Banco do Brasil só vou pagar hoje, com atraso". Durante a tarde, o movimento nas agências do Banco do Brasil da Avenida Duque de Caxias e da Rua Barão do Rio Branco estava tranquilo.
Histórico da paralisação
Os bancários da Caixa, do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste do Brasil (BNB) no Ceará decidiram encerrar ontem a paralisação que já durava 23 dias. As decisões aconteceram em momentos diferentes. Enquanto o pessoal do BB e da Caixa acordaram voltar ao trabalho na manhã, o do BNB só acertou o retorno no início da noite de ontem.
De acordo com o Sindicato dos Bancários do Estado do Ceará (SEEB), estiveram reunidos ontem 202 bancários do Banco do Brasil e 232 empregados da Caixa. Já os do Banco do Nordeste, 320 bancários votaram pelo fim, enquanto que 104 votaram pela manutenção do movimento grevista.
A assinatura da convenção coletiva de trabalho será no dia 3 de novembro, devendo os acordos aditivos dos bancos públicos serem assinados na mesma data, em São Paulo.
Proposta da Fenaban
A última proposta apresentada pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) foi de reajuste salarial de 10%, aplicáveis aos salários, benefícios e participação nos lucros, além de correção de 14% no vale-refeição e no vale-alimentação. Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) - a qual o sindicato dos bancários é vinculada -, os bancos aceitaram abonar 63% das horas dos trabalhadores de 6 horas, e 72% para os trabalhadores de 8 horas.
Deste modo, os bancários irão compensar, no máximo, uma hora por dia útil, até o dia 15 de dezembro. Inicialmente, os bancos ofereceram um reajuste de 5,5%, enquanto os bancários reivindicavam uma correção de 16% nos salários.
Protagonista: Emanuel de Sousa, porteiro
Sem agências, foi difícil arcar com as despesas
Emanuel de Sousa precisou se endividar para manter a casa e arcar com as despesas da filha de oito meses. Ele contava com o FGTS e com um cheque que não pôde depositar.