Exportações do CE já caíram 23% neste ano

Superintendente do Centro Internacional de Negócios (CIN) considera resultado do Estado preocupante

Escrito por Redação ,
Legenda: Calçados (-20,6%), frutas (-24,6%), couros (-29,9%) e combustíveis (-58,9%) foram os principais setores da pauta de exportação mais abalados
Foto: Foto: tuno vieira

Novamente em queda, as exportações cearenses, que representam apenas 0,68% do total nacional, registram agora uma retração maior do que a média brasileira. Nos dois primeiros meses deste ano, as vendas ao exterior de produtos do Ceará tiveram retração de 23%, em relação ao mesmo período de 2014, indo de US$ 226,3 milhões para US$ 174,2 milhões. Na média brasileira, a redução foi de 19,3%.

Os dados foram divulgados ontem, pelo estudo de inteligência Ceará em Comex, elaborado pelo Centro Internacional de Negócios (CIN-CE), órgão ligado à Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). Conforme o documento, somente em fevereiro, as vendas ao exterior de produtos do Ceará tiveram retração de 20,1%, em relação ao mesmo mês do ano passado, oscilando de US$ 93,5 milhões para US$ 74,7 milhões.

O superintendente do CIN-CE, Eduardo Bezerra, pondera que, dois meses para a relações de comércio exterior, não são suficientes para indicarem uma tendência, mas considera os dados, ainda assim, preocupantes. "O Ceará, por um longo período, até dezembro de 2014, esteve próximo do desempenho médio brasileiro, e sempre um pouquinho acima. Agora, esse cenário está diferente", compara.

Motivos

De acordo com ele, a redução é motivada, em todo o Brasil e especialmente no Ceará, pela queda na produtividade da indústria. "Quando o dólar sobe, incentiva as importações. Entretanto, de acordo com estudo produzido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), a queda na produtividade está neutralizando o efeito positivo da alta do dólar para as exportações", analisa. O fato de a indústria cearense ser mais intensiva de mão de obra que em outras regiões, que possuem fábricas mais automatizadas, justifica um impacto maior no Estado, esclarece.

Os quatro principais setores da pauta de exportações cearenses apresentaram fortes quedas no primeiro bimestre: calçados (-20,6%), frutas (-24,6%), peles sem pelo e couros (-29,9%) e combustíveis e óleos minerais (-58,9%). Como consequência destes resultados, o Porto do Pecém, principal terminal portuário escoador de produtos do Ceará, teve queda de 41% nas suas exportações no acumulado do ano.

Comparativos

O Ceará também teve decréscimo de 9% na sua participação nas exportações do Nordeste durante os dois primeiros meses de 2015. Neste intervalo, quase todos os estados brasileiros tiveram resultados negativos, à exceção de três: Maranhão, Piauí e Acre. O crescimento das exportações dos dois estados nordestinos contribuiu, junto com a retração nas vendas externas cearenses, para a redução da participação do Ceará.

Somente o Maranhão elevou em 58,8% o seu valor exportado, passando de R$ 249,1 milhões para R$ 395,6 milhões. Eduardo Bezerra minimiza o resultado do Maranhão, posto que a quase totalidade dessas exportações é proveniente da produção da mineradora Vale na mina de Carajás, no Pará, que é escoada pelo Porto de Itaqui, em área maranhense. "Apenas a fatura da exportação é no Maranhão, mas a renda fica toda no Pará". Já o Piauí cresceu 14,5%, mas tem representatividade ainda pequena, de apenas R$ 16,0 milhões exportados.

Importações

Após crescer 357% em janeiro desde ano, sobre o mesmo mês de 2014, as importações cearenses tiveram queda de 41,7% em fevereiro. Ainda assim, no acumulado do ano, as compras externas subiram 65,4%, saindo de US$ 481,4 milhões para US$ 796,3 milhões.

Com isso, o Estado obteve a maior participação em relação às importações brasileiras desde 2011, com 2,5% - quase o dobro em relação a igual período de 2014, quando registrou 1,26%. Conforme o estudo do CIN, este resultado é fruto da combinação entre elevação das importações do Estado e queda das compras externas do Brasil no acumulado de 2015.

A elevação das importações e a queda nas exportações fizeram com que o Ceará registrasse um saldo negativo de R$ 74,0 milhões em sua balança comercial. Para o superintendente do CIN, o aumento das compras de produtos do exterior pelo Estado não deve ser uma preocupação.

"As nossas importações são somente do essencial, não importamos supérfluos. Importamos gás natural, que mantém as termelétricas funcionando, itens de aço, que são utilizados pela construção civil, para a instalação das indústrias metal-mecânicas e da siderúrgica do Pecém. A importação não é um gasto, mas um investimento. O peso negativo de hoje, em quatro anos, vai passar a ser positivo, com essas indústrias exportando", afirma.

Países

As Antilhas Holandesas foram o principal destaque como país de destino dos produtos cearenses, com o crescimento de 179.644,4% na compra de produtos locais, chegando a R$ 16,3 milhões. Com isso, ficaram atrás apenas dos Estados Unidos, que importaram do Ceará o equivalente a R$ 34,4 milhões.

Enquanto a cera de carnaúba e a castanha de caju foram os maiores responsáveis pela significativa participação dos EUA nas exportações cearenses, a explicação para o destaque das Antilhas está na exportação/abastecimento de navios de combustível do tipo "fuel-oil".

Sérgio de Sousa
Repórter

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