Especialistas dão dicas para organizar as finanças pessoais

Especialistas dão dicas para que os endividados possam quitar dívidas em atraso e planejar o futuro econômico

Escrito por Redação ,
Legenda: Renegociar dívidas também é alternativa, segundo consultores
Foto: Foto: André Lima

Estar endividado não é de todo ruim, apesar da carga negativa associada ao termo entre os brasileiros. "Pode ter dívida, desde que tenha dinheiro para assumir", atesta o economista da Serasa Experian Luiz Rabi. Essa condição, entretanto, não é seguida pelos consumidores cearenses - nem brasileiros -, transferindo muitos deles do patamar de endividados para aqueles que têm as dívidas em atraso ou estão inadimplentes, reverberando negativamente no orçamento familiar e no próprio contexto macroeconômico do País.

> MPEs precisam atender novas necessidades

Entre os principais fatores que contribuiram para o descontrole nas dívidas, aponta o especialista, têm destaque o aumento da inflação, que acumulou 3,83% no primeiro trimestre do ano, e a alta do desemprego.

"As pessoas perdem a principal fonte de renda e não conseguem pagar suas dívidas, e junto com isso temos aumento muito forte da inflação. Por mais que eles queiram pagar, não têm condições", afirma o economista.

Agravantes

A essa combinação ingrata, a planejadora financeira e professora de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Myrian Lund acrescenta outros pontos, como as dívidas adquiridas a custos baratos e a falta de planejamento para encaixar essas parcelas no orçamento, além das condições de pagamentos e prazos impostas por alguns bancos, deixando as prestações com o mesmo valor ao longo de todo o período de amortização.

"Além disso, os salários não estão subindo como nos anos anteriores, as prestações continuam pesando no orçamento e você começa a ter outras necessidades", completa Lund.

Revisar gastos é saída

O cenário, que chega a ser desesperador para alguns, tem saída, afirmam os especialistas, e o caminho para alcançar essa meta é consenso entre eles: planejamento e redução. "Reavalie os gastos e corte o não essencial. Este não é o momento de querer trocar de carro ou comprar um celular ou computador mais moderno", orienta Rabi.

Despesas com viagens e consumo de produtos caros também deve ser cortados, assim como o hábito de usar cartão de crédito e cheque especial, acrescenta o economista.

Essa revisão de gastos, para Myrian, é melhor organizada em uma planilha que inclua receitas, despesas e empréstimos consignados. Se a renda pessoal/familiar for maior do que os gastos, ensina a planejadora, é hora de reduzir ao máximo, até que o saldo fique positivo e possa pagar as outras dívidas que não entraram nesse cálculo.

Renegociar dívidas

"Digamos que você conseguiu saldo de R$ 200, então, você vai ao banco negociar para pagar aquele valor por mês. O importante é só negociar se você tiver certeza que pode pagar", pontua Myrian.

A negociação das dívidas, aliás, é outra estratégia indicada pelos especialistas, principalmente para obter abatimentos. "Sentar com o credor, seja banco ou cartão de crédito, buscar descontos em dívidas rotativas trocar o empréstimo consignado por pessoal", lista o economista do Serasa Experian.

Organizar gastos

Caso a negociação não tenha sucesso, pondera a professora da FGV, o melhor a fazer é se planejar um pouco mais até estar apto a pagar, ou ainda, abrir outra conta bancária, a fim de se organizar melhor e ir quitando as contas ainda pendentes.

"Não se incomode pelo fato de o seu nome ficar sujo, não adianta, você só consegue pagar quando tiver condições para isso", aconselha Myrian Lund.

Buscar ajuda

Ainda na lista de alternativas propostas pela professora está procurar ajuda de um planejador financeiro. No site do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (www.ibcpf.org.br), por exemplo, é possível encontrar os profissionais que atuam por região do País - em Fortaleza, são nove profissionais cadastrados.

No caso dos superendividados, Myrian orienta buscar ajuda na Defensoria Pública ou junto aos órgãos de defesa do consumidor, que podem auxiliar na renegociação das dívidas.

"É as pessoas que não conseguem ter controle podem procurar também os Devedores Anônimos, buscar um grupo de apoio na sua região", sugere. (JC)

Brasileiro já começa a  rever hábitos de consumo

A necessidade rever os hábitos de consumo tem sido, pelo menos em parte, absorvida pelos brasileiros, que já buscam marcas mais baratas e têm adiado as dívidas mais altas e dependentes de financiamento. Abdicar de alguns serviços que ficaram mais acessíveis a uma parcela da população nos últimos anos, contudo, ainda encontra resistência por parte desses consumidores, provando que, para muitas famílias, a revisão do orçamento deixa ainda algumas brechas a serem corrigidas.

A análise é do economista Alex Araújo, que afirma que os serviços ainda com alta procura são os relacionados aos setores de mobilidade, limpeza e alimentação fora de casa, mesmo esta última já reverberando os efeitos da inflação.

Ajuste lento

"Todos eles continuam elevados porque o consumidor não consegue se ajustar rapidamente a essa mudança de cenário, por isso, o setor de serviços tem sentido menos os efeitos da crise", avalia o economista.

A variável que pode impulsionar essa mudança de posicionamento também diante dos serviços, explica Araújo, é o mercado de trabalho. "Caso aumente o desemprego e as famílias tenham redução da renda, os ajustes serão mais rigorosos", projeta o economista.

Incertezas e baixa confiança

Foi justamente esse clima de incertezas em relação ao mercado de trabalho, com a maior dificuldade para encontrar uma vaga de emprego, associado à queda no nível de confiança do consumidor que motivaram novos hábitos de consumo nas residências brasileiras.

Nesse contexto, expõe o economista, os itens de consumo duráveis e de consumo imediato têm passado por um movimento de substituição de marca, na busca por produtos mais baratos, enquanto aqueles de valor mais elevado e que dependem de financiamento tiveram redução no volume de vendas.

"A crise aparece, para o consumidor, como restrição de orçamento. Ele percebe a crise pela inflação, com o aumento do custo dos produtos mais básicos e a dificuldade em lidar com o crédito", detalha.

Cautela é sazonal

Esta cautela com o consumo, contudo, pode diminuir à medida que o cenário econômico nacional comece a se recuperar, adianta o especialista.

"Isso é algo sazonal e está relacionado ao período de agravamento econômico, mas tão logo a situação econômica volte, o padrão de consumo antigo se recupera", pondera Araújo, ressaltando ainda que essa educação financeira, de certo modo forçada, não deixa tantos ensinamentos como se esperava. (JC)

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