Economistas divergem sobre os resultados
Brasília. O pacote de medidas anunciado pelo governo de Michel Temer divide a opinião de economistas quanto à possibilidade que ele tem de reativar o crescimento econômico. Entre as ações anunciadas, está um programa de regularização tributária para pessoas físicas e jurídicas em débito com o Fisco e medidas de desburocratização para pequenas empresas.
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Para o economista Gilberto Braga, do Ibmec-RJ, o pacote é positivo e ajuda a começar a reverter o pessimismo. "Eu acho que são medidas que vão fazer efeito a médio prazo. Elas não são de alto impacto macroeconômico. Mas, em conjunto com a aprovação da PEC do Teto dos Gastos (aprovada na terça-feira pelo Senado e promulgada ontem) e a discussão da reforma da Previdência dá uma sensação de que o governo começou a trabalhar de fato. Pode desanuviar o ambiente para 2017", acredita.
Braga diz que as medidas para pequenas empresas são especialmente importantes. "Focam nas micros e pequenas empresas, o que é muito salutar. É um segmento que, se reagir, pode gerar empregos".
Para o economista Roberto Piscitelli, professor do Departamento de Ciências Contábeis e Atuariais da Universidade de Brasília (UnB), o programa de regularização tributária das empresas anunciado no pacote é "discriminatório" porque o governo facilita a quitação de débitos tributários enquanto pede sacrifícios ao trabalhador, como a reforma da Previdência. "Está se sacrificando tanto o trabalhador e você dá um alívio para as empresas pagarem suas dívidas tributárias", comenta.
Sobre uma outra medida anunciada nesta quinta, de autorizar o preço diferenciado dependendo da opção do consumidor pela forma de pagamento - à vista ou com cartão de crédito - o economista diz não acreditar que ela estimulará a redução de juros do cartão como pretende o governo. "A Selic (taxa básica de juros da economia) está caindo e o juro do cartão continua aumentando. É um problema de estrutura do sistema financeiro, falta de concorrência, oferta limitada de crédito", defendeu.
'Começo'
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse que as medidas anunciadas ontem "não resolvem todos os problemas, mas é um começo para estimular a economia" e ajudarão as empresas a atravessar o atual momento de crise.
O empresário destacou três medidas: o parcelamento de atrasados tributários com possibilidade de compensação com outros tributos e de prejuízos de exercícios anteriores; a possibilidade de renegociação de dívidas vencidas e a vencer com o BNDES; e o fim escalonado da multa de 10% do FGTS em caso de demissão sem justa causa.
'Harmonia'
Já o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, avaliou o pacote como positivo. "O governo fez bem em encaminhar novas medidas para despertar no País o sentimento de que podemos vencer a crise, sair da recessão e produzir empregos. O seu conjunto demonstra harmonia e pode iniciar a virada das expectativas. É necessário mostrar que há caminhos concretos", disse, em nota.
O que eles pensam
Iniciativas são oportunas
"A burocracia é um mecanismo que desestimula o empreendedor e inibe o crescimento da riqueza. Na questão da desburocratização, o sistema eSocial vai melhorar a relação trabalhista. O salário é muito para quem paga e pouco para quem recebe. Sobre simplificar os procedimentos de restituição e de compensação dos tributos pela Receita Federal, vejo como positivo, vamos ver como isso vai chegar nos locais mais distantes de Brasília. A medida na redução no tempo de abertura é bem-vinda porque o Brasil é um dos países que mais se demora".
Alcântara Macêdo
Economista
"Acho as medidas oportunas e de alguma forma devem contribuir para dinamizar a economia. Muitas estão focadas nos créditos, inclusive dos trabalhadores com a rede bancária. Já a oferta de crédito de longo prazo para a construção civil eleva a oferta para o financiamento e dinamiza o setor, que é o que mais emprega no Brasil. Também vejo como positivo o bloco de desburocratização e simplificação. De todas as medidas que foram anunciadas, nenhuma é negativa para o setor empresarial. Embora isso não se esgote e tenha coisas para avançar".
Fernando Castelo Branco
Coordenador do Núcleo de Economia da Fiec