Diferença salarial no Nordeste chega a 22,2%

Em cerca de 20 anos, a disparidade nos ganhos entre homens e mulheres caiu pela metade, diz o Ipea

Escrito por Redação ,
Legenda: Em 1995, as mulheres do Nordeste tinham uma remuneração média 45,9% menor do que os homens, segundo levantamento do Ipea
Foto: Foto: Everton Lemos

Fortaleza/Brasília/Rio. A diferença de remuneração entre mulheres e homens diminui pela metade em 20 anos, mas a discrepância ainda permanece. Em 2015, o rendimento mensal médio no trabalho principal das mulheres de 16 anos ou mais no Nordeste era 22,2% a menos do que o dos homens. Em 1995, o rendimento delas era 45,9% menor em relação ao deles. Em 2015, as mulheres nordestinas ganhavam em média R$ 898,4. Já a remuneração média dos homens era de R$ 1.155,1.

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Os dados são do estudo Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado ontem (6) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo é feito com base em séries históricas de 1995 a 2015 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

A situação no Nordeste ainda é melhor que a média nacional. No Brasil, elas ganhavam 27,7% a menos que eles há dois anos, aponta o Ipea. Em quanto o rendimento médio das mulheres era de R$ 1.913,8, o dos homens era de R$ 1.383,7.

Em 20 anos, a renda média das mulheres negras no Brasil cresceu oito vezes mais do que o ganho médio dos homens brancos, mas isso foi insuficiente para cobrir o abismo que há entre as duas realidades financeiras. Em 2015, na média, um homem branco ganhava R$ 2.509,70, mais do que o dobro do rendimento médio de uma mulher negra, que ficou em R$ 1.027,50.

Jornada de trabalho

Os dados do Ipea também mostram que elas, além de ganharem menos, trabalham mais do que eles. As mulheres tem uma jornada de trabalho semanal com, em média, 7,5 horas a mais que a dos homens devido à dupla jornada, isto é, a realização de tarefas domésticas e do trabalho remunerado.

Em 2015, a jornada total média das mulheres era de 53,6 horas e a dos homens, de 46,1 horas. Em relação às atividades não remuneradas, a proporção se manteve quase inalterada ao longo de 20 anos: mais de 90% das mulheres declararam realizar atividades domésticas; os homens, em torno de 50%.

"A responsabilidade feminina pelo trabalho de cuidado ainda continua impedindo que muitas mulheres entrem no mercado de trabalho, e aquelas que entram no mercado continuam respondendo pela tarefas de cuidado, tarefas domésticas. Isso faz com que tenhamos dupla jornada e sobrecarga de trabalho", diz a especialista em políticas públicas e gestão governamental e uma das autoras do trabalho, Natália Fontoura.

Segundo Natália, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho aumentou muito entre as décadas de 1960 e 1980, mas, nos últimos 20 anos, houve uma estabilização.

"Parece que as mulheres alcançaram o teto de entrada no mercado de trabalho. Elas não conseguiram superar os 60%, que consideramos um patamar baixo em comparação a muitos países", diz a especialista.

Chefes

O estudo observou ainda que aumentou o número de mulheres chefiando famílias. Em 1995, 23% dos domicílios tinham mulheres como pessoas de referência. Vinte anos depois, esse número chegou a 40%.

As famílias chefiadas por mulheres não são exclusivamente aquelas nas quais não há a presença masculina: em 34% delas havia a presença de um cônjuge.

"Muitas vezes, tais famílias se encontram em maior risco de vulnerabilidade social, já que a renda média das mulheres, especialmente a das mulheres negras, continua bastante inferior não só à dos homens, como também à das mulheres brancas", diz o estudo.

Desigualdade racial

O Ipea verificou a sobreposição de desigualdades com a desvantagem das mulheres negras no mercado de trabalho. Segundo Natália, apesar de mudanças importantes, como o aumento geral da renda da população ocupada, a hierarquia salarial - homens brancos, mulheres brancas, homens negros, mulheres negras - se mantém.

"A desvantagem das mulheres negras é muito pior em muitos indicadores, no mercado de trabalho em especial, mas também na chefia de família e na pobreza. Então, é quando as desigualdades de gênero e raciais se sobrepõem no nosso país", diz a especialista, destacando que a taxa de analfabetismo das mulheres negras é mais que o dobro das brancas. A distância é semelhante entre os homens.

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