Construção vê falta de verbas
São Paulo. Surpreendidos com a decisão do governo de liberar saques ao FGTS, empresários da construção dizem que não haverá consequência imediata da medida para financiamento imobiliário, pois o fundo tem patrimônio grande. Em alguns anos, contudo, podem faltar recursos.
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"A causa é nobre, mas fica o alerta: vai ficar mais difícil comprar a casa própria no longo prazo", diz Ronaldo Cury, vice-presidente do Sindunscon-SP (sindicato do mercado imobiliário). O FGTS é a principal fonte de recursos para o setor imobiliário.
Para Rubens Menin, presidente do conselho de administração e principal acionista da MRV, uma das maiores incorporadoras do País, o governo federal deveria ter ao menos limitado o valor para saque. "Não foi inteligente. Ficou muito pior do que era", avalia Menin, que também é presidente da Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc).
Segundo ele, parte do valor sacado não será injetada na economia, mas transferido para outras aplicações. "Um número grande de contas inativas pertence a quem arrumou um emprego melhor e, por isso, não foi demitido e não sacou o fundo. Essas pessoas vão pegar o dinheiro e investir onde renda mais", diz Rubens Menin.
Sem avanço imediato
Para os especialistas, as medias anunciadas ontem pelo governo seguem corretamente em duas frentes. De um lado, abrem espaço para o alívio financeiros das famílias, graças à liberação de contas inativas do FGTS. De outro, trazem mudanças estruturais importantes, caso da minirreforma trabalhista e da queda dos juros no rotativo do cartão de crédito. No entanto, a avaliação dos economistas continua sendo que nenhuma das iniciativas anunciadas leva à retomada do crescimento no curto prazo.
"O governo iniciou mudanças estruturais com novas regras trabalhistas e melhorou o ânimo e as contas dos brasileiros dando, de presente de Natal, a liberação de contas inativas do FGTS, mas o cenário de crescimento continua no sufoco", disse a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria.
Ela fez as contas: os R$ 30 bilhões do FGTS, poderão, na melhor das hipóteses, acrescentar 0,3% de crescimento em 2017 - e isso se metade dos recursos bancarem o consumo. A tendência é que após o pagamento de dívidas, o dinheiro extra vá para a poupança.