Ceará atende melhor à expectativa alemã

76% dos atuais membros da agência EnergieAgenturNRW são micros e pequenas empresas

Escrito por Redação ,
Legenda: O chefe de desenvolvimento de negócios para a América Latina da Energy Engineers, Ignacio Bedoya, participou de reunião ontem, na Fiec
Foto: FOTO: DIVULGAÇÃO

Representantes da agência alemã de energias renováveis EnergieAgenturNRW estão em Fortaleza buscando firmar parcerias com empresários cearenses. Por possuir condições climáticas favoráveis e um parque eólico consolidado, o Ceará oferece cenário ideal para investimentos no setor energético. Por isso, a empresa aposta nesse potencial e deseja abranger toda a cadeia produtiva (indústria, comércio e serviços), com foco em pequenos e médios negócios.

Foi o que afirmou o chefe de desenvolvimento de negócios para a América Latina da companhia Energy Engineers, Ignacio Bedoya, em reunião realizada ontem (26), na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec). A empresa de capital misto, da qual faz parte a EnergieAgenturNRW, está certa de que o Ceará é o estado brasileiro melhor atende às expectativas da companhia no que se refere a investimentos estrangeiros em produção e consumo de energias renováveis.

"Não temos um perfil das empresas que buscamos para desenvolver parcerias no Ceará. Olhamos para o futuro e queremos atingir toda a cadeia produtiva", declara Bedoya, informando que 76% dos atuais membros da agência EnergieAgenturNRW são micros e pequenas empresas. Fato que, de acordo com o gestor, também dialoga com a realidade local.

Vantagem

O encontro é promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Industrial do Ceará (Indi), ligado à Fiec. O diretor corporativo do Indi, Carlos Matos, lembra que a Alemanha é um dos países onde que mais se investe no uso de energias renováveis.

Atualmente, conforme dados apresentados na reunião dessa segunda-feira pela EnergieAgenturNRW, 25% da energia produzida na Alemanha são renováveis. A meta do país é que esse índice chegue a 35% em 2020 e a 80% em 2050.

Por isso, Carlos Matos acredita que o Ceará tem muito a ganhar ao firmar parcerias com empresas e instituições alemãs. "Estamos sendo reconhecidos pelo nosso potencial. O Estado tem sol e vento praticamente o ano inteiro, um parque eólico desenvolvido e potencial para a gerar outras energias renováveis, como a solar", diz.

O presidente da Fiec, Roberto Macêdo, acredita que o contato entre os empresários cearenses e a agência alemã renderá bons frutos. "Parcerias como as que estamos querendo são necessárias para que o Ceará seja um grande produtor e exportador de energias renováveis, atendendo às necessidades locais e nacionais", fala.

Implantação de agência

O Diário do Nordeste noticiou, na edição do dia 10 de fevereiro deste ano, que o Ceará está negociando, por meio da Fiec, a implantação de uma agência de energias renováveis com a Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).

O equipamento deverá trazer centros de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias voltadas à geração de energia de baixo impacto ambiental, além de atrair grandes e médias indústrias do setor ao Ceará.

O presidente do Sindicato das Indústrias de Energia do Ceará (Sindienergia-CE), Elias do Carmo, adianta que as negociações estão avançando. Representantes da GIZ devem vir ao Estado para uma visita técnica.

"Estamos otimistas de que vamos conseguir instalar essa agência no Ceará e ser exemplo para o Nordeste e Brasil. O BNB (Banco do Nordeste do Brasil) está de portas abertas quanto aos possíveis financiamentos. Também temos o apoio da Adece (Agência do Desenvolvimento do Ceará)", acrescenta.

Agenda

A visita dos representantes EnergieAgenturNRW segue até amanhã. Hoje, das 9h30 ao meio-dia, a Adece apresentará ao grupo o que está sendo feito no Ceará para incentivar a instalação de empresas. À tarde, das 14h30 às 17 horas, haverá apresentações da Indústria Viva, projeto da Fiec, do Instituto Senai de Tecnologia (IST) em Energias Renováveis e da GIZ.

Amanhã, das 8h30 ao meio-dia, haverá uma visita à empresa Wobben Windpower, localizada no Pecém, no município de São Gonçalo do Amarante, na Região Metropolitana.

Macêdo: indústria terá que repassar custos da energia

A indústria cearense já começou a sentir os impactos financeiros causados pelo reajuste de até 17,02% na tarifa de energia elétrica do Ceará. O repasse imediato dos custos ao consumidor para equilibrar os gastos das empresas será inevitável, afirma o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Roberto Macêdo.

Ontem, ele participou de reunião entre empresários cearenses e agência alemã de energias renováveis EnergieAgenturNRW. "Somos obrigados a transferir esse aumento ao consumidor final. Infelizmente, a sociedade vai ter que pagar mais caro", destaca. Macêdo informa que não há como calcular um repasse médio à população cearense, tendo em vista que o consumo de energia elétrica varia de acordo com cada empresa e o segmento em que atua.

Têxtil

No caso da indústria têxtil, por exemplo, o presidente da Fiec lembra que o consumo é maior. De acordo com ele, as despesas do setor com energia elétrica cresceram aproximadamente 30%, índice que refletirá nos produtos. "Sabemos que, no ano que vem, o impacto vai ser ainda maior", acredita.

Repasse

De acordo com o analisa o consultor de energia da Fiec, Jurandir Picanço, o governo federal ainda não aumentou a tarifa do serviço de forma proporcional aos gastos para não assustar o consumidor.

Segundo o consultor, os altos custos do País com a operação de usinas termelétricas - para suprir a deficiência energética causada pelo baixo volume dos reservatórios de água - vão refletir no bolso do brasileiro no próximo ano.

"O governo está represando esse aumento, principalmente, por conta das eleições presidenciais de outubro. O consumidor não está advertido disso e poderá ser pego de surpresa no próximo ano", afirma Picanço. (RS)

Justiça pede explicações à Aneel e Coelce do reajuste

O Juiz titular da 5ª Vara da Justiça Federal no Ceará, João Luís Nogueira Matias, intimou ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Companhia Energética do Ceará (Coelce) a explicar os motivos técnicos e contábeis que levaram a Aneel a conceder reajuste de 16,77%, para os serviços prestados pela Coelce, quando esta havia solicitado apenas 13,68%.

A intimação atende à medida cautelar, com pedido de liminar, interposta pela procuradora do Ministério Público Federal no Ceará, Nilce Cunha Rodrigues, no último dia 20, quando requereu à Justiça, que suspendesse o reajuste aplicado pela Coelce, sem os créditos de ICMS, que a concessionária alega ter, junto à Fazenda Estadual.

Ao notificá-las, o juiz antecipa que, "mesmo ouvindo as partes citadas (Coelce e Aneel), os efeitos de liminar não se tornam inúteis"; o que sugere que ele ainda pode conceder a liminar, sustando o aumento aplicado. Diante da urgência requerida pela promotora, o magistrado pediu que tão logo as respostas cheguem às varas da Justiça, lhes sejam enviadas para análise e consequente prosseguimento do processo.

Investigação semelhante, mas em caráter administrativo, será feita também pelo Procon Fortaleza, conforme informou na última quinta feira, a titular do órgão, a advogada Cláudia Santos. Para ela, as justificativas apontadas pela Coelce não convenceram. A Aneel não participou de nenhuma das duas reuniões para debater o tema, promovidas pelo Ministério Público Federal e pelo Procon Fortaleza.

A Aneel diz que os percentuais aprovados refletem a variação do IGP-M do período, o aumento do custo dos Encargos de Serviços do Sistema (ESS) e os gastos que as distribuidoras tiveram com compra de energia.

Raone Saraiva
Repórter

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.