Banco e fundo do Brics darão apoio complementar

A expectativa é que outros países em desenvolvimento também possam tomar empréstimos do banco

Escrito por Redação ,
Legenda: O embaixador Alfredo Lima afirmou que a cúpula poderá citar a crise entre Rússia e Ucrânia
Foto: Foto: Alex Costa

Rio de Janeiro. O banco e o fundo do Brics, que serão criados na próxima semana, na sexta reunião de cúpula do grupo, em Fortaleza, não serão competidores do Banco Mundial (Bird) nem do Fundo Monetário Internacional (FMI), mas suplementares a essas entidades, disse ontem o embaixador José Alfredo Graça Lima, subsecretário de Política do Ministério das Relações Exteriores.

Em palestra para jornalistas, no Centro Aberto de Mídia da Copa, em Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, ele falou sobre o encontro do grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que começará no dia 15, na Capital cearense, e terminará em Brasília, no dia seguinte, com participação de todos os mandatários das nações do Brics e de países convidados da América do Sul. "Os financiamentos serão para projetos sustentáveis e de infraestrutura. O banco suplementa o Bird e o arranjo de contingente de reservas espelha o FMI. Os países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) têm propostas de reformas que não podem ser atendidas, especialmente pelo FMI. De certa maneira, a criação do arranjo contingente de reservas e do banco atende a essas necessidades", disse ele.

"O foco da participação do Brics está na responsabilidade em uma ordem mais justa, não para ter mais poder. Nos dias de hoje não é importante apenas crescer, é preciso crescer com melhor distribuição da renda, e é disso que estamos justamente tratando na sexta Cúpula do Brics", completou.

Recursos

O banco terá capital inicial de US$ 50 bilhões, sendo US$ 10 bilhões em recursos e US$ 40 bilhões em garantias. Depois da assinatura do acordo para sua criação, o banco terá que ser aprovado pelos Parlamentos dos cinco países.

Já o fundo terá capital inicial de US$ 100 bilhões para fazer face a desequilíbrios nos balanços de pagamentos de algum dos países do Brics que venha a enfrentar dificuldades. A China entrará com US$ 41 bilhões; o Brasil, a Rússia e Índia com US$ 18 bilhões cada; e a África do Sul com US$ 5 bilhões.

A expectativa é que outros países em desenvolvimento também possam tomar empréstimos do banco, mas os critérios para tanto serão definidos em um segundo momento, disse Graça Lima.

No seu entendimento, com esse aporte de recursos e foco no desenvolvimento sustentável, o banco deve influir em uma ordem econômica mais justa. "Isso é parte de uma estratégia não escrita, mas muito segura, dos países do Brics, de procurar influir, mas de maneira construtiva", comentou.

Brasil não será sede

A presidência do banco, que será rotativa, e a sede serão definidas na cúpula, bem como o conselho de administração e outras questões técnicas. O Brasil foi o único membro que não se candidatou a sediar o banco. As opções são Xangai (China), Joanesburgo (África do Sul), Moscou (Rússia) e Nova Delhi (Índia).

Ainda segundo Lima, é possível que durante a cúpula haja menção sobre a crise que envolve Ucrânia e Rússia. Esta deve seguir a tendência demonstrada em declarações e posições anteriores, como a ocorrida na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), na qual os países do Brics se abstiveram de votar a favor da resolução da organização, de condenar a anexação da Crimeia à Federação Russa.

O embaixador detalhou também a visita de Estado do presidente da China, Xi Jimping, que se inicia logo após o evento do Brics, no dia 17, com visita ao Congresso Nacional, almoço, assinatura de atos e sessão de trabalho, entre outras atividades ao longo do dia.

650 empresários já se inscreveram

Em torno de 650 empresários deverão participar do Foro Empresarial e do Business Networking realizados durante a VI Conferência de Cúpula do Brics, que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. De acordo com a coordenadora de Rede de Centros Internacionais de Negócios da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Sara Saldanha, pelo menos 648 empresários já se inscreveram para os encontros. Os dois eventos acontecerão na tarde e na note da próxima segunda-feira.

Com um formato menos tradicional de rodada de negócios, o business networking terá como objetivo estabelecer parcerias e aproximar pessoas interessadas em cooperação nos negócios, conforme a atuação de cada um.

Serão contempladas no evento as áreas de as áreas de agronegócio, alimentos e bebidas; infraestrutura, logística e equipamentos de transporte; mineração e processamento de minérios; máquinas e equipamentos; tecnologia da informação; farmacêuticos e equipamentos médicos; energia e economia verde; serviços; governo e organizações empresariais. Já durante o Foro Empresarial, serão discutidas as perspectivas econômicas dos países, além da integração entre os cinco membros. Os painéis contarão com um palestrante de cada país.

A VI Conferência contará com encontro entre as delegações dos cinco chefes de Estado - Dilma Roussef (Brasil), Vladimir Putin (Rússia), Narendra Damodardas Modi (Índia), Xi Jinping (China) e Jacob Zuma (África do Sul). A reunião também será palco de um encontro empresarial, além d e de uma reunião com os ministros das áreas econômicas dos cinco países.

Abertura

A abertura da Cúpula se daria às 10h da próxima terça-feira, presidida pela presidente Dilma Rousseff. No dia seguinte, os líderes dos Brics se reunirão em Brasília com os presidentes de países sul-americanos, para seguir ampliando a relação do bloco com nações em desenvolvimento. Conforme o Ministério das Relações Exteriores, a previsão de participação é de 750 pessoas, além das representações das cinco maiores empresas de cada um dos cinco países, bem como bancos de desenvolvimento e cerca de 1.500 jornalistas.

A última cúpula do Brics foi realizada em e 2013, na África do Sul. Em 2003, os Brics respondiam por 9% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Em 2009, o valor aumentou para 14%. Já em 2010, o PIB dos cinco países totalizou US$ 11 trilhões, o que representa 18% da economia mundial.

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