Analistas orientam como usar o dinheiro extra

Após honrar todos os compromissos financeiros, trabalhador deve preferir poupar os recursos recebidos

Escrito por Bruno Cabral - Repórter ,
Legenda: Para quem está com as contas em dia, o FGTS dará a oportunidade para que o trabalhador possa migrar seus recursos para alguma aplicação
Foto: Foto: Tuno Vieira

A possibilidade de saque das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a partir de março, abre uma oportunidade para aqueles que têm dívidas atrasadas, empréstimos abertos ou até mesmo para quem quer investir, já que praticamente todas as aplicações disponíveis no mercado são mais vantajosas do que deixar o dinheiro no FGTS. Com um rendimento de cerca de 5% em 2016, os recursos aplicados no Fundo não superaram nem mesmo a inflação do período, que avançou 6,29%, o que fez com que, na prática, o trabalhador brasileiro perdesse dinheiro.

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Mas antes de optar por qualquer investimento, o ideal é quitar as contas em atraso, devido ao elevado custo do crédito no País. "Para as pessoas que possuem dívidas, os recursos do FGTS parecem 'cair do céu' neste momento de crise financeira que afetam muitas famílias endividadas", diz o economista e ex-presidente do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Allison Martins. Nesse caso, ele recomenda que sejam priorizadas as contas referentes a necessidades básicas, como as de água e luz.

"Outra prioridade deverá ser o pagamento das dívidas com juros mais elevados, que efetivamente corroem a renda do trabalhador, e em seguida, as dívidas que tenham parcelas mais elevadas, que comprometem de forma relevante o orçamento familiar", diz Martins. No caso de dívidas no cartão de crédito ou cheque especial, que têm juros mais elevados, o economista recomenda que o devedor busque negociar um desconto dos juros e multas de atraso, bem como na forma de pagamento. "Com dinheiro no bolso, fica mais fácil de negociar com os credores, pois uma boa entrada no pagamento das dívidas, facilita muito a resolução do problema financeiro", ele diz.

Consumo

Segundo o economista Alex Araújo, quando recebe um recurso extra, o consumidor cearense busca, primeiro, quitar dívidas, depois poupar, para só então consumir. "Em um estudo feito pela Fecomércio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará) sobre o uso do 13º salário, a gente viu que o consumidor usava, primeiro, para pagar dívida, depois para poupar, e em terceiro lugar para consumir. Então a gente percebe que o consumidor está muito precavido neste momento. A gente acredita que, pelos indicadores de confiança do consumidor, esse comportamento seja mantido agora, com o saque do FGTS", ele diz.

Uma pesquisa feita pela Fecomércio-CE, neste mês, apontou que 37,1% da renda familiar dos consumidores de Fortaleza está comprometida com o pagamento de dívidas. "Então é importante que o consumidor reduza suas dívidas para ter uma margem para o consumo corrente. Isso seria o ideal", diz Araújo.

Investimentos

Para quem está com as contas em dia, o saque do FGTS dará a oportunidade para que o trabalhador possa migrar seus recursos para alguma aplicação que lhe dê ganho real. Até a caderneta de poupança, que rendeu 8,30% em 2016, pouco mais do que a inflação, é mais vantajosa. "Sem dúvidas a retirada do dinheiro será vantajosa, em razão do retorno financeiro do Fundo de Garantia ser extremamente baixo", diz Allisson Martins.

Entre as opções mais acessíveis, Martins cita os títulos públicos federais negociados no Tesouro Direto, aplicações em renda fixa, como os CDB's, e fundos de investimento, a depender o perfil do investidor. Para ele, o tesouro direto acaba sendo uma boa opção em razão das perspectivas positivas de risco e retorno, já que conta com títulos com rendimento atrelado à inflação, à taxa básica de juros (Selic), ou pré-fixados.

"Recomenda-se que os investidores escolham títulos de forma coerente com os perfis e objetivos para o uso do dinheiro, na medida em que se pode escolher papéis de médio e longo prazo, com taxas pré-fixadas ou pós-fixadas, que tenham retorno semestral de juros ou somente no final do prazo, ou seja, deve-se estudar, ou pedir orientação a um profissional especializado", diz Martins.

Curto prazo

Enquanto os títulos do Tesouro são recomendados para o longo prazo, Alex Araújo diz que, para o curto prazo, o ideal é aplicar nas Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), que são isentas de Imposto de Renda. "Há várias alternativas tanto para perfil de longo prazo como para curto prazo e todas as opções do mercado são melhores do que o FGTS. E, em função do momento, não sei se as pessoas estão dispostas a consumir", diz.

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