4 em cada 10 trabalhadores da RMF estão fora da Previdência

Considerando apenas os autônomos, o número dos que contribuem para a Previdência teve recuo de 3,5% em 2016

Escrito por Hugo Renan do Nascimento/Yohanna Pinheiro - Repórteres ,
Legenda: De acordo com o estudo do IDT, 57% dos trabalhadores da construção civil estão fora do regime previdenciário, maior percentual entre os setores. Em seguida, aparece o comércio, em que 44,7% da população ocupada não contribui

Um estudo elaborado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) mostra que, em 2016, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), apenas 59,8% da população ocupada contribuíram para a Previdência Social, queda de 2,1% em relação a 2015, quando o percentual era de 61,1%.

"Boa parcela da força de trabalho está desprovida da seguridade social. Aqui na RMF, 4 em cada 10 estão fora do regime de Previdência. E que por ventura são pessoas que podem ficar inativas nesse mercado e enfrentarão grandes dificuldades", afirma o coordenador de Estudos e Análises de Mercado do IDT, Erle Mesquita.

Ainda segundo o IDT, entre os autônomos, inseridos como Microempreendedores Individuais (MEI), a queda foi mais acentuada, 3,5%. Em 2016, apenas 13,6% deles contribuíram para a Previdência, enquanto que em 2015, essa parcela era de 14,1%.

De acordo com o coordenador do IDT, o número não é uma grande novidade, porém ele ressalta que a queda maior foi o que chamou mais atenção no estudo. "A grande maioria está desprovida da seguridade social e isso faz com que estes trabalhadores estejam em situação de vulnerabilidade", completa.

Entre as causas para o resultado, o IDT afirma que a elevada formalidade na RMF favorece a não contribuição previdenciária, além da situação precarizada dos serviços e a falta de esclarecimento por parte da maioria dos trabalhadores.

Outro dado do estudo revela que os trabalhadores do setor privado, sem carteira assinada, também deixaram de contribuir. Eram 3,5% em 2015 e 2,8% em 2016, queda de 20% na comparação anual.

"O IDT fez este estudo para ajudar na discussão das reformas em curso no Congresso Nacional. Uma das constatações é que nós temos, na RMF, a menor proporção de trabalhadores que contribuem para a Previdência. Boa parcela está desprovida dos mecanismos da seguridade social", diz Mesquita. Ele reitera que são trabalhadores que podem sofrer algum acidente de trabalho ou uma enfermidade ou até um óbito e que deverão ficar sem uma remuneração, prejudicando suas famílias.

Setores

O estudo do IDT evidencia que, de uma maneira geral, a situação na RMF é bastante preocupante em todos os setores.

"É ainda mais alarmante no setor da construção civil, que historicamente é um setor que tem muita informalidade na sua relação de trabalho, mesmo que recentemente tenha vivenciado um período de expansão do emprego com carteira assinada. Mas a construção civil e o comércio, principalmente o ambulante, são realmente os setores em que a contribuição é mais baixa", ressalta o coordenador. O IDT informa ainda no estudo que 57% dos trabalhadores da construção civil não contribuíram com a Previdência Social no ano passado na RMF. No caso do comércio, o índice chega a 44,7%, seguido da indústria de transformação (37,9%) e serviços (36,4%).

De acordo com o Instituto, a indústria apresentou este número devido a maior estruturação do setor, além de uma inspeção mais rigorosa por parte dos órgãos. Pelo setor público ter um peso mais forte nos serviços, o índice é maior entre os trabalhadores que mais contribuem.

Cenário preocupante

Estimativas do IDT apontam que no ano passado, 1,6 milhão de pessoas na RMF estavam empregadas. O número voltou ao patamar de 2010, com uma retração maior nos últimos dois anos, devido ao agravamento da crise econômica.

Já a taxa de desemprego ficou em 13,1% na RMF no ano passado. O resultado é o maior desde 2009, quando a taxa estava em 11,4%, segundo o Instituto.

Erle Mesquita diz que em momentos graves de crise, algumas mudanças são propostas para modificar o cenário do mercado de trabalho. Ele cita as reformas da Previdência e Trabalhista, mas reitera que estas não são soluções adequadas. "Quando há uma melhoria do mercado e da economia, essas mudanças acabam permanecendo. Muitas vezes, elas penalizam os trabalhadores em momentos de crise sob o pretexto de que vão gerar mais postos de trabalho e infelizmente elas não se modificam quando a situação se reverte. Então essa é uma preocupação muito grande porque a gente tem uma crise econômica muito significativa", explica.

O coordenador do IDT também afirma que a instabilidade do mercado de trabalho, onde há uma grande rotatividade de mão de obra, é outra situação preocupando tendo em vista as reformas em curso no Congresso Nacional. "Em média uma pessoa na RMF passa apenas cinco meses em um posto de trabalho e enfrenta nove meses de desemprego. Então ao intercalar períodos de trabalho e não trabalho serão necessários pelo menos 55 anos de atividade no mercado de trabalho para atingir os 49 anos de contribuição, o que mostra que é uma situação que pode ser inatingível para a maior parcela da força de trabalho", finaliza Mesquita.

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