Icapuí tem 16 opções de praias diferentes para curtir o ano inteiro

Última cidade cearense no litoral Leste, Icapuí reserva roteiros que vão do estilo mochileiro ao passeio em família; confira dicas!

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(Atualizado às 09:26)
Legenda: Parar e sentir a brisa do mar em Redonda ajuda a navegar os sentidos
Foto: Foto: Natinho Rodrigues

Tem viagens que para melhor fazer é preciso estar despreparado. Não falo daqueles utensílios ditos essenciais para um tour - se sol, filtro, se frio, cobertor. Leve, mas tem que colocar também na bagagem uns jeitos de despir os sentidos. Um equipamento de se perder, outro para mergulhar os ouvidos.

Legenda: As falésias multicoloridas são encontradas em todo o litoral Leste do Ceará. As belezas compõem as paisagens entre Icapuí e Aracati
Foto: Foto: Melquíades Júnior

Pisar em um novo lugar ganha mais importância quanto mais sabemos dos que pisaram antes e os de hoje. Não há lugar sem pessoas, pois até elas dão sentido ao que chamam deserto. É assim que Icapuí me proporciona arrebatamentos a cada nova visita. São mais de 40 km de litoral, mas não se percorrem em quilômetros todas as brisas do lugar, nem das pessoas. O melhor deslumbramento em um litoral não é com o mar, é com o todo, a partir de terra. Afinal, quem garante que não está, também o mar, deslumbrado com o que vê?

Sendo a terra o próprio tesouro revelado (já foi um dia fundo do mar), Icapuí é rica em histórias e biodiversidade. Situada no extremo litoral Leste, é onde o Ceará faz divisa com o Rio Grande do Norte. Um tempo atrás, alguns amigos e eu decidimos romper com a rotina e dar melhor sentido às horas com as melhores companhias: nossos filhos. Ficamos em uma casa, bem dizer para-brisa, na praia de Requenguela. Só distante do mar quando a maré recua - três quilômetros ou mais. Nestas horas do dia, o que é fundo do mar vira sola do pé descalço a correr em campo aberto.

Legenda: A pesca de lagosta é tradicional em Icapuí. Em Redonda, os manzuás, apetrechos de pesca, são levados para o mar
Foto: Foto: Melquíades Júnior

Os barcos de pesca da lagosta, antes ancorados, sofrem o avesso do naufrágio e viram monumentos no chão, para deleite de Tito, Lis e Valentina, as crianças desbravadoras desta viagem.Nas horas seguintes (a depender da dinâmica das marés), as águas voltam silenciosas para apenas oito metros da casa. Requenguela é uma praia sem ondas onde se surfa com os olhos mirando a imensidão rasa.

"A gente não quer sair pra nada", admite Fabiana, proprietária de uma casa para temporadas, de onde também não se quer sair. Com outras residências e pousadas, faz parte da Rede de Turismo Comunitário (Tucum), que em Icapuí tenta manter o ar de autenticidade com o mínimo possível de interferência. Os próprios moradores investem na hospedagem dos visitantes, seja em casas ou pousadinhas, sendo essencial a valorização do tradicional.

Serviço completo

Um verdadeiro serviço de cama, mesa e banho se pode desfrutar com iniciativa comunitária em Ponta Grossa. Oséias oferece o aconchego digno de uma casa de pescador, de janela pro mar. "Alugue por temporada", com sabor de desejo, nem parece mais uma frase imobiliária.

A fome batendo, experimentei a lagosta da barraca Pantanal - nenhuma riqueza é tão autêntica quanto esse crustáceo em Icapuí. A vantagem disso é que será bem preparado em qualquer barraca. O melhor refresco antes da comida é caminhar, depois mergulhar quebrando as ondas.

Legenda: O recuo da maré em Requenguela revela os mariscos e encalha temporariamente as embarcações
Foto: Foto: Melquíades Júnior

Querendo mais, o Bodó resolve. Não precisa perguntar por Antônio Carlos, é como Bodó que chama a vida, e ele convoca Elizeu ou Joais. Pois os ditos arrumam um passeio, ou melhor, duas opções de subir e descer: a trilha ecológica pela falésia, a maior do Ceará (lá de cima se vê toda a região) ou mergulhos rasos para observação de peixes e corais, esta uma das mais recentes atrações para quem estaciona por ali.

Redonda

Depois de Ponta Grossa, a Praia de Redonda dá um jeito de me segurar. Ou salvar: da primeira vez que a visitei, alguns anos antes, foi saindo do mar. Estava num bote inflável bimotor 80 km em mar aberto, participando, como repórter, de uma fiscalização do Ibama. Nunca mareei tanto na vida. A operação foi suspensa cinco horas após seu início em Fortim para me devolver à terra. Fui "resgatado" em Redonda e, deitado na areia de cara pro sol, fiquei 20 minutos voltando ao eixo de órbita. A feliz coincidência: era dia de Festival da Lagosta, que ocorre anualmente em junho. Às vezes, até hoje, a vida dá uma mareada mesmo em terra, então volto pra Redonda. A recepção não pode ser melhor na Boca do Povo, ponto de encontro dos pescadores. Ali é reduto da pesca artesanal, em que o ciclo de vida da lagosta termina quando começa o gastronômico. Dona Boneca inventou um espetinho de lagosta que só tem em Icapuí; na barraca de Reginaldo, dá para balançar numa rede de cordas enquanto o almoço não chega.

Ser para-brisa

Para quem não consegue se conectar integralmente ao lugar, tem até a rede de wifi. Mas não se medem as conexões possíveis de olhos fechados defronte o infinito, respirando conforme as ondas. Desci descalço. Fiz de uma pequena balsa um batente. Feito banco de praça, namorei o mar, beijei a brisa. Quando a gente para a contemplar onde visita, faz uma viagem dentro da outra. Por isso, não importa o tempo da viagem, é preciso saber parar.

No fim de tarde, fomos todos, adultos e as crianças, para a passarela do mangue, em Requenguela. O local faz parte da Estação Mangue Pequeno, cujo prédio, um ano após nossa passagem, foi criminosamente incendiado em meio a uma série de ataques que o Ceará tem vivido em janeiro. A passarela, no entanto, segue firme no tempo enquanto a maré vai e volta.

Embaixo dali, a marisqueira Zenaide aproveita que o mar levantou tapete e cata ostras no chão. Ofício de uma vida inteira. Na volta, abre as conchinhas, limpa, cozinha e, preparos depois, nasce a moqueca de búzios, oferecida na barraca do João Velho.

Legenda: Brincadeira com a Maria Lis na Praia de Requenguela
Foto: Foto: Davi Aragão

Também chama atenção em Icapuí o que se cata de histórias. Cheias de sítios arqueológicos, traz um pedaço das primeiras visitas dos desbravadores europeus aos índios residentes. Tantas peças antigas que Josué Crispim fez da própria casa um museu e virou até filme. "Pescador de memórias".

Outras são mais lendárias: na praia de Barreiras tem a Pedra da Moça. Contam os antigos que uma jovem sereia ficou presa dentro da imensa rocha com seus tesouros. Na pedra está cravada uma pegada. Quem pisar, e o pé couber direitinho na marca, liberta a bela sereia.

Citei aqui apenas quatro praias de Icapuí, e são 16!

Em sua primeira viagem, minha filha, Maria Lis, perguntou por que se chamava Icapuí. Não soube responder. Só sei que é do tupi "canoa veloz". Mas se é para a gente melhor conhecer, tem que ser devagar.

Como chegar a Icapuí

  • Partindo de Fortaleza, siga pela CE-040 até a BR-304, depois permaneça nessa rodovia até a altura de Aracati, acessando a CE-261 até a cidade de Icapuí, distante 202 Km da capital cearense.

Onde ficar

  • Rede de Turismo Comunitário, procurar Eliabe Crispim (88) 99431.0796 (elicrispym@hotmail.Com). Ele é o típico contato "para o que turista precisar".
  • Pousada Amor a Mar, na praia de Barreiras, dispõe de piscina, internet, quartos climatizados e uma excelente gastronomia (88) 3432.1212. Diárias para casal a partir de R$ 190.
  • "Oh, Linda" Pousada, entre as praias de Redonda e Peroba, tem chalés rústicos em meio às árvores e com a visita ilustre de diversos pássaros. Um dos almoços mais deliciosos de Icapuí. (85) 99307.3771. Diárias para casa com preço único de R$ 250.
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