O que se sabe sobre caso de transplantados infectados com HIV no RJ; 286 doadores serão retestados

Os exames nos órgãos doados no Rio de Janeiro foram feitos no laboratório privado Patologia Clínica Dr. Saleme. A instituição está interditada.

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(Atualizado às 16:20)
Legenda: Imagem ilustrativa de transplante
Foto: Elza Fiúza/Agência Brasil

Após um erro inédito na história do serviço brasileiro de transplantes de órgãos ter sido descoberto, com a constatação que seis pessoas testaram positivo para HIV após receberem órgãos infectados em cirurgias feitas no Rio de Janeiro, o sangue de 286 doadores, cujas coletas aconteceram de dezembro de 2023 a setembro de 2024, vai ser novamente testado, segundo informações do jornal O Globo.  

A infecção de pacientes começou a ser investigada em setembro deste ano após um transplantado apresentar complicações neurológicas nove meses após a operação. 

No Rio de Janeiro, os exames nos órgãos doados são feitos pelo laboratório privado Patologia Clínica Dr. Saleme, contratado por licitação pela Fundação Saúde, do Governo do Estado. Após a ciência do caso, o laboratório foi interditado cautelarmente. A Fundação Saúde é uma entidade pública vinculada à Secretaria de Estado da Saúde do Rio.

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Os testes no sangue dos 286 doadores estão sendo revisados por meio de contraprovas realizadas pelo Hemorio.

Segundo a secretária estadual de Saúde, Cláudia Mello, sempre que um transplante é realizado, amostras reservas de sangue dos doadores ficam guardadas no Hemorio. Nesse processo, explica, “a testagem delas indicou resultado positivo (na contraprova), diferentemente do que constava no laudo inicial da PCS. A partir de agora, vamos testar amostras reservas de mais 286 doadores”. 

Os seis pacientes contaminados estão sendo atendidos por uma equipe multidisciplinar da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. A base é o Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Uerj, em Vila Isabel. 

Os pacientes foram receptores de rins, fígado e coração. Um paciente que recebeu a córnea do doador infectado testou negativo, já que o órgão não é tão vascularizado. Uma sétima pessoa receptora de um fígado morreu logo após a operação por complicações de outra doença.

O transplante de um órgão no Brasil passa por várias etapas, dentre elas, a análise clínica do doador, com exames como sorologia, para verificar se o órgão está saudável. No caso do Rio, o erro aconteceu porque os testes para constatar doenças deram negativo, e a doação prosseguiu.

Laboratório venceu licitação

O laboratório, situado em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, foi escolhido por licitação via pregão eletrônico para atender ao programa de transplantes no Rio de Janeiro. A empresa pertence a um primo e a um tio do deputado federal Doutor Luizinho (Progressistas), que era o secretário estadual de Saúde durante parte do processo de contratação.

Após a notificação da secretaria, uma fiscalização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária identificou uma série de irregularidades no local e determinou a interdição. Desde então, todos os exames para os transplantes passaram a ser feitos pelo Hemorio. 

Há a suspeita de que os testes de HIV sequer tenham sido feitos pelo laboratório no material dos doadores.

Investigação

O caso está sendo investigado pelo Ministério Público do Estado do Rio (MPRJ) e pelas polícias Civil e Federal. O Ministério da Saúde determinou uma auditoria urgente pelo Departamento Nacional de Auditoria do Sistema Único de Saúde (DenaSUS) no sistema de transplante do Rio, além de ter determinado o fechamento do laboratório. 

O Conselho Regional de Medicina também acompanha o caso. Na Secretaria Estadual de Saúde, sindicância interna foi aberta para identificar e punir os responsáveis.

Morte de doador soropositivo

O primeiro doador soropositivo, segundo o jornal O Globo, teve morte encefálica e atendimento no Hospital municipalizado Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, em janeiro de 2024. Dele, foram captados o coração, a córnea e os dois rins. 

Uma mulher de 40 anos, atendida no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, foi a segunda doadora soropositiva e doou os rins e o fígado. As amostras de sangue, segundo Cláudia Mello, teriam sido coletadas nas unidades de saúde e enviadas ao laboratório para análise.

O que diz o laboratório

O laboratório PSC se colocou à disposição das autoridades policiais e de Vigilância Sanitária e, em nota, informou que “abriu sindicância interna para apurar as responsabilidades do caso”. 

No texto, a empresa diz ainda que repassou à Central Estadual de Transplantes “os resultados de todos os exames de HIV realizados em amostras de sangue de doadores de órgãos entre 1º de dezembro de 2023 e 12 de setembro de 2024, período em que prestou serviços à Fundação Saúde”. 

A empresa informou que “nos procedimentos foram utilizados os kits de diagnóstico recomendados pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa”.