Brasil tem mais de 20 milhões de pessoas passando fome, aponta relatório da ONU

No mundo, 892,7 milhões estavam em situação de desnutrição crônica nos últimos anos, entre 2020 e 2022

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Mão de idoso segura prato de inox vazio
Legenda: Quase 10% da população brasileira passa fome todos os dias, segundo relatório da ONU
Foto: Shutterstock

Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) publicado nesta quarta-feira (12) mostrou que, atualmente, no Brasil, 20,1 milhões de pessoas passam fome todos os dias e 70,3 milhões estão em situação de insegurança alimentar, que é quando há falta grave ou dificuldade em adquirir alimentos e refeições.

O número de habitantes que não conseguem se alimentar todos os dias aumentou desde o último levantamento, em 2020, e equivale, agora, a 9,9% da população total. Isso significa um incremento de 5,7 milhões de brasileiros na estatística. Já no que diz respeito à insegurança alimentar, o relatório mostrou que o acréscimo foi de 9 milhões.

Os dados são do relatório sobre o Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (Sofi), publicado em conjunto por cinco agências: Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO); Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA); Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef); Organização Mundial da Saúde (OMS) e Programa Mundial de Alimentos (WFP).

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A fome e a insegurança alimentar aumentaram no mundo inteiro. Conforme os dados, 892,7 milhões de pessoas estavam em situação de insegurança alimentar grave entre 2020 e 2022. Considerando, também, os casos moderados, 29,5% da população mundial não tinha acesso adequado à comida nesse período, totalizando 2,3 bilhões de pessoas.

"A recuperação da pandemia global [de Covid-19] foi desigual e a guerra na Ucrânia afetou os alimentos nutritivos e as dietas saudáveis. Este é o 'novo normal' em que as mudanças climáticas, os conflitos e a instabilidade econômica estão empurrando os que estão à margem ainda mais longe da segurança", comentou o diretor-geral da FAO, QU Dongyu.

A Ásia e a América Latina puxaram os índices de melhoria na redução da desnutrição crônica, mas o problema aumentou na Ásia Ocidental, no Caribe e em todas as sub-regiões da África no ano passado, conforme a ONU.

"Até 2030, muito tem que ser feito, muito tem que ser trabalhado. Os países têm que pensar de uma forma unificada em modificar os sistemas alimentares e nutricionais para que a gente consiga atacar os problemas. Começou-se a pensar em outros problemas. As mudanças políticas, as crises econômicas, fizeram com que muitas pessoas caíssem abaixo da linha da miséria. Não é possível que aceitemos pessoas que não tenham comida, que estejam agora sem condições comprar um prato de comida para si e para a sua família”, declarou Daniel Balan, representante da WFP.

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O titular do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, atribuiu os dados da ONU à "falta de cuidado e atenção com os mais pobres" nos últimos três anos.

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Se tornou comum ver pessoas passando fome, na fila por ossos e catando comida no lixo para se alimentar. Isso foi a quebra e interrupção de um trabalho iniciado pelo presidente Lula em seus primeiros governos e que trouxe grandes avanços nesta área. Esse relatório da FAO comprova que os últimos anos representaram um período de degradação da população mais pobre do nosso país."
Wellington Dias
Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome

O ministro disse, porém, que o novo Bolsa Família, com os adicionais por crianças, gestantes e adolescentes até 18 anos incompletos, possibilitou que 18,5 milhões de famílias saíssem da linha da pobreza no último mês de junho. "Desde sua recriação, no início deste ano, o Bolsa família proporcionou a retirada de 43,5 milhões de pessoas da linha da pobreza. Isso significa que elas têm uma renda per capita garantida acima de R$ 218", comentou.

 

 

 

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