Vídeos mostram pessoas caindo de avião dos EUA ao tentar fugir do Afeganistão

Testemunhas relataram que centenas de afegãos foram até o aeroporto para fugir ao tentar embarcar em voos

Escrito por
Diário do Nordeste e AFP producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 11:37, em 18 de Agosto de 2021)
Avião USA Afeganistão
Legenda: A maior parte da população teme que os insurgentes instaurem o mesmo regime fundamentalista de quando governaram o país entre 1996 e 2001
Foto: reprodução/Twitter

O retorno do Talibã ao poder em Cabul, capital do Afeganistão, gerou cenas de desespero nesta segunda-feira (16) no aeroporto da cidade. Afegãos se dirigiram até o local para tentar embarcar em aviões, alguns se agarraram a lataria externa das aeronaves e caíram com a decolagem

Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o momento em que centenas de civis invadem a pista e cercam um avião militar dos Estados Unidos. Algumas pessoas se agarram à aeronave, que levanta voo e, minutos depois, é possível vê-las despencando de milhares de metros de altura.

Conforme o jornal O Globo, pelo menos cinco pessoas morreram no tumulto no aeroporto da capital afegã. Ainda não há informações de quem são as vítimas ou como elas morreram. 

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Um funcionário do governo americano disse à agência de notícias Reuters que os soldados norte-americanos atiraram para o alto para tentar conter pessoas que tentavam embarcar em voos militares exclusivos para diplomatas e funcionários da Embaixada dos EUA. O Wall Street Journal afirma que três mortes foram causadas por arma de fogo.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram cenas de caos absoluto nas pistas, com civis lutando para subir nas passarelas ou escadas que levam aos aviões.

As pessoas tentam escapar desesperadamente do Afeganistão, onde os talibãs assumiram o poder no domingo (15). A maior parte da população teme que os insurgentes instaurem o mesmo regime fundamentalista de quando governaram o país entre 1996 e 2001.

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Sob o olhar de centenas de pessoas, os que conseguiram subir ao topo das escadas, principalmente jovens, tentavam ajudar os outros a fazer o mesmo, e muitos deles agarraram-se com todas as forças às grades. Famílias, com crianças assustadas, também tentavam fugir com seus pertences.

A embaixada dos Estados Unidos em Cabul pediu no Twitter a seus cidadãos que ainda estão no país, assim como aos afegãos, que "não sigam para o aeroporto". Outras nações também retiram nativos da região. 

avião francês
Legenda: Aeronave usada pelas Forças Armadas da França para retirar os cidadãos franceses do Afeganistão
Foto: AFP

Medo

Algumas horas antes, os talibãs pediram a seus combatentes que entraram em Cabul a manutenção da ordem. Em seguida, os insurgentes ocuparam o palácio presidencial, de onde o presidente Ashraf Ghani acabara de fugir para outro país.

"Temos medo de viver nesta cidade e tentamos fugir" afirmou à AFP no aeroporto Ahmad Sekib, de 25 anos, outra testemunha que usou nome falso.

"Eu li no Facebook que o Canadá aceita os demandantes de asilo do Afeganistão. Espero ser um deles. Como servi o exército, perdi meu trabalho e é perigoso viver aqui, porque os talibãs vão me perseguir, sem dúvida", explica.

A embaixada americana foi totalmente evacuada e os funcionários seguiram para o aeroporto. Mas os diplomatas permanecem à margem dos civis afegãos que tentam deixar o país por seus próprios meios.

Outros vídeos publicados durante a noite nas redes sociais mostram pessoas lutando para entrar em um avião de carga, já lotado.

Disciplina

O restante da capital estavam em relativa calma nesta segunda-feira. Talibãs armados patrulhavam as ruas e instalavam postos de controle. O mulá Abdul Ghani Baradar, cofundador dos talibãs, pediu a seus homens que se comportem de forma disciplinada.

"Agora é o momento de avaliar e demonstrar que podemos servir ao nosso país e garantir a segurança e bem-estar", afirmou em um vídeo.

As cenas de caos no aeroporto provocam uma recordação dolorosa para os Estados Unidos, a da queda de Saigon no Vietnã em 1975. Mas a comparação foi descartada pelo secretário de Estado, Antony Blinken, que declarou ao canal CNN: "Isto não é Saigon".