Para especialistas, Brasil adotou postura mediadora à frente do Conselho de Segurança da ONU

Conduta favoreceu relações com países árabes, mas desgastou relacionamento com Israel e EUA

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Diário do Nordeste/Agência Brasil producaodiario@svm.com.br
Presidente Lula discursando
Legenda: Proposta defendida pelo Brasil chegou a ter maioria de votos, mas foi vetada pelos Estados Unidos
Foto: Reprodução/Palácio do Planalto

Para especialistas, ao longo dos 31 dias em que presidiu o Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU), o Brasil assumiu uma postura de mediação e arbitragem em relação à crise gerada pelos conflitos no Oriente Médio. Ouvidos pela Agência Brasil, os profissionais explicaram como a conduta pode ter impactado as relações diplomáticas brasileiras.

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Enfrentando um dos momentos mais delicados vivenciados pela política internacional nos últimos anos, a potência sul-americana foi cuidadosa ao assumir à presidência do conselho, conduzindo diversas propostas para encerrar os combates na Faixa de Gaza

Apesar dos esforços, as quatro sugestões de resolução do conflito foram descartadas. A proposta elaborada pelo Brasil, inclusive, chegou a receber uma maioria de votos, mas acabou sendo rejeitada após um veto dos Estados Unidos. Vale lembrar que, para ser aprovada, a sugestão não deve receber nenhum veto de Rússia, China, Reino Unido, França ou Estados Unidos, membros permanentes do conselho. 

POSTURA MEDIADORA

Apesar das declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que fez críticas pontuais as duas partes do conflito, Bernando Rocher, professor de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), explicou que o Brasil adotou uma postura mediadora, evitando agir como um agente político proativo, isto é, sem condenar um lado ou outro da questão.

“A diplomacia se manteve firme tentando construir um acordo de cessar-fogo e de criação de um corredor humanitário para a população de Gaza, que está sendo bombardeada. Esse foi o ponto de destaque: não buscar conflito, não aprofundar as tensões, agindo como um gerente da causa, e não como um ator político”, destacou ele.

Para o especialista, a conduta brasileira rendeu pontos com nações árabes, que teriam visto as atitudes do país sul-americano como justas e comedidas. “Para o mundo árabe, o Brasil agiu com justiça e com equilíbrio, tentando resolver um problema, e não ampliando ele”, afirmou Rocher.

O comportamento não foi enxergado da mesma forma por Israel, o que criou “arestas” nas relações diplomáticas do país com o Brasil. Na análise do professor, Israel exige submissão total aos pontos defendidos por eles, visão contrariada pela postura adotada pela nação tupiniquim.

“Arestas foram criadas porque o Brasil apontou para um caminho independente e soberano. [...] O Brasil confere legitimidade ao Estado de Israel, mas não nos termos absolutos que eles querem”,explicou o especialista.

Outro relacionamento afetado foi o com os Estados Unidos, que, segundo Rocher, não gostam que outros países assumam a liderança em um momento como esse: “Os Estados Unidos não conseguem suportar muito o protagonismo e a liderança que a diplomacia brasileira tenta construir em vários campos”.

ACERTO OU ERRO?

Professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná, Eduardo Saldanha classificou a postura adotada pelo Brasil como positiva, já que sua proposta de resolução teve a maioria dos votos. O especialista, no entanto, alerta que a relutância do país em considerar o grupo Hamas como terrorista pode ser prejudicial.

Para Gustavo Mendes de Almeida, pesquisador do Observatório de Política Externa e da Inserção Internacional do Brasil (Opeb), a nação sul-americana acertou ao condenar os ataques do grupo e, mesmo assim, não se vincular diretamente a Israel. 

“A gente vê isso pela resolução, que teve ampla aceitação. Ela foi vetada pelos Estados Unidos, o que era de se esperar por conta das relações históricas que os Estados Unidos têm com Israel, mas o fato de países como a França, que é membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, ter votado favoravelmente à resolução brasileira demonstra como ela foi bem planejada e articulada pela diplomacia do Brasil”, explicou.

Por fim, Gustavo destacou que as ações do Brasil durante seu tempo na presidência do Conselho reforçam a disucssão sobre um assento permanente para o país: “O Brasil historicamente atua de maneira pacífica no sistema internacional por não ter confrontação aberta com nenhum outro país. Com isso, o Brasil segue bem como esse agente moderador que tenta pacificar as relações. O Brasil demonstrou para o mundo a importância que a diplomacia brasileira tem em tentar promover a paz”.

 

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