Qual a relação de uma operação policial no Ceará, o PCC e o maior bicheiro de São Paulo por décadas

Mandados de busca e apreensão foram cumpridos em um imóvel em São Paulo e na cobertura de um prédio de luxo em Fortaleza

(Atualizado às 10:55, em 13 de Dezembro de 2024)
Policiais da Ficco/CE cumpriram um mandado de busca e apreensão na cobertura de um prédio de luxo em Fortaleza
Legenda: Policiais da Ficco/CE cumpriram um mandado de busca e apreensão na cobertura de um prédio de luxo em Fortaleza
Foto: Reprodução/ Google Maps

A Operação Apostas Encerradas, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará (Ficco/CE) na última sexta-feira (6), encontrou um elo entre a organização criminosa investigada - ligada à facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) - e um empresário apontado como o maior bicheiro de São Paulo por cerca de cinco décadas, Ivo Noal, que morreu aos 88 anos, em dezembro de 2023.

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mandados de busca e apreensão foram cumpridos pelos policiais da Ficco, no Ceará e em São Paulo. A Justiça Estadual do Ceará também decretou o sequestro de sete imóveis e de um veículo de alto padrão, além do bloqueio de contas bancárias vinculadas aos investigados.

Durante o cumprimento de um mandado em um imóvel em São Paulo, que pertence a um sócio de uma loteria em Fortaleza (utilizada para o jogo do bicho e para lavagem de dinheiro do PCC), os policiais se depararam com familiares de Ivo Noal.

A reportagem apurou que há informações levantadas pela Polícia em São Paulo de que o maior bicheiro daquele Estado, entre 1950 e 2000, vendeu a operação do jogo do bicho para a facção Primeiro Comando da Capital. Familiares de Noal ainda estariam recebendo percentuais do lucro da jogatina.

Reportagem da Revista Piauí, publicada em 12 de dezembro de 2023, detalha que Ivo Noal era conhecido até os anos 2000 como "o maior bicheiro do Estado de São Paulo". "Enquanto no Rio de Janeiro os chefes do jogo do bicho fizeram fortuna se digladiando por territórios e fama, como patronos das escolas de samba, em São Paulo Ivo Noal reinou sozinho durante décadas", revela a matéria jornalística. 

"No início dos anos 2000, aos 65 anos, seu patrimônio era estimado em 561 milhões de reais, em torno de 2,46 bilhões de reais em valores corrigidos. Investigadores da época listavam mais de setenta propriedades, entre casas, prédios e fazendas, além de uma empresa de aviação e helicópteros, uma fábrica de utensílios domésticos e outros", continua a Revista Piauí.

Ivo Noal morreu aos 88 anos, no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, no dia 12 de novembro do ano passado. A certidão de óbito registra como causas pneumonia bacteriana, infecção por coronavírus, acidente vascular encefálico isquêmico e insuficiência cardíaca.

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Cobertura em prédio de luxo de Fortaleza

Outro mandado de busca e apreensão foi cumprido pela Ficco em um apartamento de luxo, na cobertura de um prédio localizado no bairro Mucuripe, em Fortaleza. O imóvel pertencia a Geomá Pereira Almeida, apontado nas investigações como o proprietário da loteria que atuava com jogo do bicho no Ceará. Geomá foi preso na Operação Primma Migratio, deflagrada pela Ficco em abril deste ano.

Os alvos da Operação Apostas Encerradas foram três operadores financeiros do esquema criminoso de lavagem de dinheiro que o PCC tinha no Ceará - que foi desarticulado na 'Primma Migratio'. Ninguém foi preso, na ação da última sexta-feira (6).

Conforme a Polícia Federal, "as investigações revelaram uma rede criminosa que utilizava pessoas para ocultar e movimentar recursos obtidos de forma ilícita, totalizando transações financeiras suspeitas superiores a R$ 300 milhões".

A análise fiscal revelou uma discrepância significativa entre os rendimentos declarados pelos investigados e suas movimentações financeiras, alcançando mais de R$ 40 milhões, em valores suspeitos. Parte desses recursos foi utilizada na aquisição de imóveis de alto padrão, incluindo uma cobertura em área nobre de Fortaleza, além de veículos de luxo, demonstrando a estruturação da organização para ocultar a origem dos valores."
Polícia Federal
Em nota

A Ficco contou com o apoio da Receita Federal, que "foi essencial para rastrear as transações financeiras e desarticular o esquema de lavagem de dinheiro", segundo a PF. As ordens judiciais cumpridas na Operação "têm o objetivo de ampliar a coleta de provas e garantir a responsabilização dos envolvidos, além de assegurar a eficácia da persecução penal".

A Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Ceará é composta pela Polícia Federal, Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS-CE), Polícia Militar do Ceará (PMCE), Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE), Polícia Rodoviária Federal (PRF), Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), Perícia Forense do Ceará (Pefoce) e Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização do Ceará (SAP).

A Ficco cumpriu ordens judiciais no Ceará e em São Paulo na Operação Apostas Encerradas
Legenda: A Ficco cumpriu ordens judiciais no Ceará e em São Paulo na Operação Apostas Encerradas
Foto: Divulgação/ PF

Familiares de 'Marcola' presos

Familiares de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola - número 1 da facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) -, foram presos na Operação Primma Migratio, no dia 24 de abril último, por liderarem um esquema criminoso de jogo do bicho e lavagem de dinheiro com apostas, que movimentou mais de R$ 300 milhões no Ceará. Dois policiais militares também foram detidos por integrarem a quadrilha - entre eles um tenente que atuou na Casa Militar do Estado do Ceará e agora está na Reserva Remunerada.

As audiências de instrução do processo criminal, para ouvir testemunhas e interrogar os réus, começaram nesta semana, na Justiça Estadual.

A 'Primma Migratio' foi deflagrada pelas forças Integradas de Combate ao Crime Organizado do Ceará, São Paulo e Santa Catarina, para desarticular um braço da facção paulista no Ceará, que atuava pelo menos desde 2017. A quadrilha também é suspeita de praticar tráfico de drogas e tráfico de armas em território cearense.

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mandados de prisão preventiva foram cumpridos. Policiais percorreram endereços situados nos Estados do Ceará, São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, para também cumprir 36 mandados de busca e apreensão e o sequestro de 42 veículos atribuídos aos investigados.

A reportagem apurou que o principal alvo da Operação, Francisca Alves da Silva, foi presa em um condomínio de luxo no Arujá, em São Paulo. Ela morou por um tempo na Argentina, motivo pelo qual a Polícia Federal (PF) pediu a inclusão do seu nome na lista da Difusão Vermelha, da Interpol (Polícia Internacional), antes da suspeita ser localizada. A mulher, que é cearense, é esposa de Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o 'Marcolinha', e cunhada de 'Marcola'.

Os dois irmãos estão detidos em presídios federais de segurança máxima. Alejandro Juvenal já morou no Ceará, quando comandou um acordo de "pacificação" entre facções. A investigação da Ficco sobre a quadrilha apontou que, mesmo após a prisão do marido, Francisca Alves continuou a comandar uma cédula da facção paulista no Ceará, que se especializou no jogo do bicho.

A organização criminosa também é suspeita de praticar tráfico de drogas e de armas no Ceará. Entretanto, o jogo do bicho foi a forma mais rentável e segura que a quadrilha encontrou para continuar lucrando no Estado. 

Para isso, o grupo criminoso contou com Geomá Pereira Almeida, integrante da facção especialista em jogo do bicho, máquinas caça-níqueis e outros jogos, que veio de São Paulo para o Ceará, para instalar o esquema criminoso. Ele foi preso na Vila Mariana, em São Paulo.

O sobrinho de 'Marcola', filho de 'Marcolinha' e enteado de Francisca Alves da Silva também foi preso, no Município de Itajaí, em Santa Catarina. Leonardo Alexander Ribeiro Herbas Camacho é apontado como um operador do esquema criminoso chefiado pela sua madrasta e como proprietário de uma casa de apostas esportivas na internet - utilizada para a lavagem de dinheiro da facção. Uma loteria que funciona em Fortaleza também era utilizada para a facção "lavar" dinheiro de origem ilícita.

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