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Vereadores do PDT em Fortaleza expõem dificuldades de alinhamento partidário para 2026

Políticos fizeram pronunciamentos na CMFor, tornando público o incômodo pela permanência de colegas oposicionistas.

Escrito por
Bruno Leite bruno.leite@svm.com.br
(Atualizado às 16:47)
Fotos de pedetistas da Câmara Municipal de Fortaleza.
Legenda: Declarações foram feitas na sessão desta quinta-feira (13).
Foto: Luciano Melo/CMFor.

Integrantes da bancada do Partido Democrático Trabalhista (PDT) na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) reclamaram, durante a sessão plenária desta quinta-feira (13), da falta de resolução do impasse entre pedetistas alinhados com o Governo Municipal e o Governo do Estado e a ala de oposição. Segundo os parlamentares, a cisão compromete a formação de chapas para a disputa eleitoral no próximo ano.

Atualmente, o PDT tem, em seu quadro, políticos como o vereador PP Cell, que não apoia a gestão do prefeito Evandro Leitão (PT) e afirma publicamente não querer mais fazer parte da legenda. Assim como também mantém filiados os deputados estaduais Antônio Henrique, Cláudio Pinho, Lucinildo Frota e Queiroz Filho, que já indicaram a intenção de se desfiliarem da agremiação na janela partidária de 2026, sem que percam seus mandatos.

“Hoje temos o vereador amigo-irmão PP Cell, que não compactua com as ideias, digamos assim, do momento que o partido está vivendo. Então, hoje faço parte, ocupando a vice-presidência da [executiva] municipal do PDT, e eu vou brigar, sim, para ser o presidente da Comissão de Ética, para expulsar o PP Cell”, afirmou o vereador Adail Júnior na tribuna, após ser provocado pelo vereador Marcelo Mendes (PL) a comentar o assunto, por conta de uma declaração feita pelo pedetista dias antes.

Destacando sua participação na Comissão de Ética do diretório estadual, Adail disse que sua intenção é expulsar antes de dezembro “os quatro deputados estaduais” do PDT. “Porque, eles ficando, atrapalham o PDT”, argumentou o parlamentar. 

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Adail falou que levou a proposta de antecipação da saída dos colegas para o vice-presidente do partido no Ceará, o deputado federal Mauro Filho, para que “tome uma iniciativa”. “Não é justo chegar (para se desfiliar) no dia da janela partidária, não vai ter mais tempo para formação de chapa”, justificou.

Em seguida, o vereador Paulo Martins apoiou a fala do colega de legislatura. “Sabemos que hoje temos quatro deputados estaduais lá na Assembleia filiados ao PDT. Todos deputados de grande estima, inclusive votei no Antônio Henrique, agora sabemos — e eles também — que não têm mais o desejo de permanecer no PDT porque não apoiam o governo municipal, o governo estadual e o governo federal. São oposição em três esferas. Então, por favor, que se resolva logo essa situação”, alegou, estendendo a discussão para o colega de Parlamento, PP Cell.

Ele, que explanou seu desejo em ser candidato a deputado federal, reivindicou uma clareza para 2026 ao se dirigir à Adail. “Quero dizer aqui que lhe apoio. Você hoje é vice-presidente municipal do partido. Estou com você nessa busca por homogeneidade no PDT que, desde 2022, a gente vê esses imbróglios aí, na candidatura para governador, para prefeito — no segundo turno e no primeiro”, disse Martins.

O vereador Luciano Girão afirmou o mesmo que os correligionários. “A gente precisa, urgentemente, que os nossos presidentes façam uma mesa redonda. A gente precisa chamar o feito à ordem. Temos vereadores que não querem mais estar no partido, que não seguem a linha que o partido hoje está adotando e precisa resolver isso”, destacou, pleiteando a “liberação” de PP Cell.

“Temos as questões dos deputados, que precisam ser definidas. Saber se realmente vão ficar ou se não vão ficar no partido. Aqueles que vão ficar, que passem a seguir as orientações do partido”, complementou. “O que não pode é ficar nesse jogo de cena, atrapalhando o partido”, disse Girão.

Na mesma sessão, Antônio Henrique esteve no Plenário Fausto Arruda, visitando os colegas. Ele foi presidente do Parlamento municipal de Fortaleza por dois mandatos: nos biênios 2019–2020 e 2021–2022. O parlamentar foi saudado pelos presentes, inclusive pelos colegas de PDT.

Foto de Antônio Henrique e colegas.
Legenda: O deputado estadual Antônio Henrique (PDT) esteve presente na sessão desta quinta-feira (13).
Foto: Luciano Melo/CMFor.

O que diz o PDT Ceará e os membros da bancada na Alece

Procurado pela reportagem, André Figueiredo disse que dialoga com todos, mas ponderou que “o partido tem tomado um posicionamento de alinhamento com o governo estadual e os deputados estaduais, evidentemente, têm demonstrado claramente que estarão na oposição”. “Então, o caminho que vai ser traçado vai ser discutido, inclusive com eles posteriormente”, respondeu.

“Mas a ideia é que nenhum dos quatro fique, até porque não estarão alinhados com a sucessão estadual, com o PDT. Nós já tivemos situações desagradáveis em anos anteriores, dessa vez vamos estar devidamente unificados para que a gente possa fortalecer a nossa nominata de deputados estaduais e federais”, completou.

Figueiredo disse que esse diálogo está sendo feito com os vereadores que são pré-candidatos em 2026 e com os que irão formar as nominatas para os cargos de deputado estadual e deputado federal.

Cláudio Pinho, por sua vez, alegou ser contrário à medida de exclusão sugerida. “Não vejo motivo para eu ser expulso do PDT, estou no partido com diversos companheiros e ainda imagino, penso e sonho que o PDT reverá a sua posição e irá apoiar a candidatura de Ciro Gomes ao Governo do Estado do Ceará, para salvar o Ceará”, concluiu.

Já Queiroz Filho comentou que foi prometida uma compreensão à “liberdade de fazer oposição”. Segundo ele, seu sentimento é de tranquilidade. “Não me sinto fazendo nada de errado. E também acho que o partido até foi muito complacente no passado, quando outros filiados vieram até a trair o partido e não fizeram um processo de expulsão, por isso não imagino essa postura do partido”, sustentou.

O PontoPoder indagou o presidente do PDT Fortaleza, Iraguassú Filho, para que ele pudesse se manifestar acerca as reclamações dos políticos e sobre como o assunto está sendo discutido. O texto será atualizado no caso de uma resposta do dirigente.

Da mesma maneira, os demais deputados estaduais e o vereador PP Cell, citados pelos parlamentares em seus discursos, também foram acionados. Eventuais respostas serão incorporadas ao conteúdo desta matéria.

Crise partidária que se arrasta

Em agosto, a bancada do PDT na Câmara Municipal se reuniu com Iraguassú para debater o futuro da legenda para o próximo ano. A montagem da chapa eleitoral foi um dos temas do encontro, segundo partidários envolvidos na discussão. A saída de integrantes que não estavam alinhados com os caminhos tomados pelo PDT seria um dos pontos-chave, especialmente a do vereador PP Cell.

No início de novembro, o PDT elegeu novos dirigentes e passou a integrar oficialmente a base de apoio ao governo Elmano de Freitas (PT) na Assembleia Legislativa do Ceará, além de confirmar a aliança com a gestão municipal da capital cearense. A ida para o governo, entretanto, não sanou a crise.

A determinação foi uma “virada de chave”, após a saída do ex-ministro Ciro Gomes e do ex-prefeitos fortalezenses José Sarto e Roberto Cláudio, que foram para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e para o União. Antes, em junho, o PDT já havia decidido pela ida para a base do Governo Elmano, mas com a liberação dos deputados estaduais.

Instabilidade na bancada federal

Na Câmara dos Deputados, embora haja uma posição governista por parte da bancada pedetista, a permanência dos congressistas é uma dúvida. Em junho, ao Diário do Nordeste, o deputado federal Eduardo Bismark, atualmente licenciado, afirmou enxergar com dificuldade a possibilidade de que o grupo continuasse na sigla. 

“Acho que ficou uma sensação de que não fomos valorizados pelo PDT”, falou. Pela legenda trabalhista, estão com mandato hoje os deputados Robério Monteiro, Mauro Benevides Filho, Leônidas Cristino e André Figueiredo. Idilvan Alencar, outro membro da bancada, está licenciado, em razão da titularidade na Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (SME).

André Figueiredo é o presidente estadual do PDT no Ceará e trabalha para a permanência dos correligionários. Recentemente, Mauro Filho passou a ser vice no diretório estadual e, de acordo com Figueiredo, é o único entre os demais que está garantido nas fileiras trabalhistas.

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