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Qual o perfil político da nova Câmara Municipal de Fortaleza após a eleição de 2024

Com o auxílio de especialistas, o Diário do Nordeste analisou o quadro de vereadores eleitos para a próxima legislatura

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(Atualizado às 10:35, em 09 de Outubro de 2024)
Placa na entrada da Câmara Municipal de Fortaleza
Legenda: Cerca de 40% dos eleitos vão dar início a um mandato na Casa, o percentual restante corresponde aos reeleitos.
Foto: Thiago Gadelha

Diante da circulação de parlamentares promovida pelo resultado das urnas em 2024, em que cerca de 40% dos parlamentares não vão retornar para a Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor) na próxima legislatura, o Plenário Fausto Arruda assumirá um novo perfil a partir de fevereiro, quando os políticos assumirão seus gabinetes e tomarão posse dos seus mandatos. 

Ainda em um cenário de indefinição, já que não foram feitas ou publicizadas as arrumações visando os apoios para o segundo turno, os vereadores devem ser objeto de cobiça dos grupos que irão concorrer ao pleito final — um alinhado com Evandro Leitão (PT) e o outro com André Fernandes (PL).

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Ao todo, 17 partidos irão compor o quadro de vereadores de Fortaleza ao longo dos próximos quatro anos: Agir, Avante, Cidadania, Democracia Cristã (DC), Mobiliza, PDT, PL, Podemos, PP, PRD, PSD, PSDB, Psol, PT, Republicanos e União. São dois partidos a mais do que os contabilizados na atual formação, já que o DC terá cadeira no Legislativo e o PP voltará a ter representação. 

No primeiro turno, os candidatos André Fernandes (PL), Capitão Wagner (União), Evandro Leitão (PT), José Sarto (PDT) e Técio Nunes (Psol) foram os únicos a terem aliados na CMFor. Após o resultado da eleição proporcional, eles seguiram com o posto, elegendo "bases" no Parlamento municipal.

A maior delas é formada por integrantes de legendas que compuseram a coligação do atual prefeito, que buscava se reeleger para o comando do Palácio do Bispo. Os partidos coligados a Sarto conseguiram eleger 19 nomes. 

  1. Adail Jr (PDT)
  2. Ana Aracapé (Avante)
  3. Carla do Acilon (DC)
  4. Chiquinho dos Carneiros (PRD)
  5. Dr. Luciano Girão (PDT)
  6. Emanuel Acrizio (Avante)
  7. Germano He Man (Mobiliza)
  8. Gardel Rolim (PDT)
  9. Jânio Henrique (PDT)
  10. Jorge Pinheiro (PSDB)
  11. Kátia Rodrigues (PDT)
  12. Luiz Paupina (Agir)
  13. Marcel Colares (PDT)
  14. Michel Lins (PRD)
  15. Paulo Martins (PDT)
  16. Pedro Matos (Avante)
  17. Ppcell (PDT)
  18. Professor Aguiar Toba (PRD)
  19. Professor Enilson (Cidadania)

O agrupamento próximo a Sarto é o que mais possui estreantes. Seis políticos se enquadram nessa classificação: Marcel Colares, Jânio Henrique, Chiquinho dos Carneiros, Carla do Acilon, Professor Aguiar Toba e Luiz Paupina. Três das nove mulheres da nova bancada feminina da Câmara estão na aliança "sartista" que foi eleita. 

Além dos nomes que marcharam com o candidato oficialmente, outra figura, também eleita, esteve ao lado do pedetista e chegou a fazer campanha para ele, o ex-dirigente do Procon Fortaleza, Wellington Sabóia (PODE). Em função disso, Saboia chegou a ser destituído da direção da legenda no município, por conta de uma resolução da presidência nacional de que o partido adotaria uma posição de neutralidade.

Os partidos que orbitam a campanha de Evandro Leitão, que foi para o segundo turno, ocupam a vice no ranking de maiores bancadas de eleitos. Totalizando 14 parlamentares, o bloco elegeu os seguintes nomes:

  1. Aglaylson (PT)
  2. Adriana Almeida (PT)
  3. Apollo Vicz (PSD)
  4. Bá (PSB)
  5. Benigno Junior (Republicanos)
  6. Bruno Mesquita (PSD)
  7. Erich Douglas (PSD)
  8. Eudes Bringel (PSD)
  9. Irmão Léo (PP)
  10. Julio Brizzi (PT)
  11. Leo Couto (PSB)
  12. Marcos Paulo (PP)
  13. Mari Lacerda (PT)
  14. Ronaldo Martins (Republicanos)

Quatro membros nunca ocuparam mandatos e são estreantes na CMFor: Erich Douglas, Apollo Vicz, Aglaydson e Mari Lacerda. Outros três são novatos, mas já tiveram assentos na Casa antes, esse é o caso de Benigno Junior, Bá e Irmão Léo. Três vereadoras fazem parte do bloco.

Em seguida, na terceira colocação de maiores aliados, o Partido Liberal, que concorreu de maneira isolada no primeiro turno, logrou êxito na eleição de cinco vereadores. Estão nessa relação:

  1. Bella Carmelo (PL)
  2. Inspetor Alberto (PL)
  3. Julierme Sena (PL)
  4. Marcelo Mendes (PL)
  5. Priscila Costa (PL)

Mendes, especificamente, é considerado como novato, mas esteve como vereador antes e exerceu mandato na condição de suplente no decorrer deste ano. O conjunto de eleitos pelo PL conta com duas integrantes da bancada feminina.

O União, do Capitão Wagner, que também se lançou com uma chapa isolada e só tem um representante na atual formação, conseguiu dobrar o quantitativo de aliados na Câmara Municipal. A partir de fevereiro, o partido passará a ter uma dupla de representantes:

  1. Márcio Martins (União)
  2. Soldado Noelio (União)

Martins foi reeleito para mais um mandato. Noelio, entretanto, volta para a Casa depois de um hiato. 

Já o Psol, de Técio Nunes, manteve os dois vereadores que exercem mandatos na atual legislatura. Na eleição proporcional o partido fez parte de uma federação com a Rede. E a coligação para o Executivo municipal contou ainda com a UP. A sigla federada e a aliada não conseguiram eleger representantes. O quadro ficou da seguinte maneira: 

  1. Adriana Gerônimo (Psol)
  2. Gabriel Aguiar (Psol)

Apoios e sinalizações

Até esta terça-feira (8), apenas um dos postulantes derrotados no primeiro turno com aliados eleitos na CMFor, Técio Nunes, deu declarações sobre quem irá apoiar no segundo turno. O pessolista tornou público seu apoio a Evandro Leitão, em uma coletiva de imprensa. Ao lado dele estavam os vereadores reeleitos do Psol, o próprio petista e lideranças de ambos os partidos.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, a socióloga e cientista política Paula Vieira, pesquisadora da Universidade Federal do Ceará (UFC), indicou que a tendência é que o aceno desses nomes dê início às demonstrações de apoio pelos vereadores eleitos.

Ela avaliou esse comportamento tendo em conta as candidaturas de Sarto e Wagner, terceiro e quarto lugar na disputa eleitoral, respectivamente. "A tendência, como o Sarto não tem mais proximidade com o grupo do Evandro Leitão, é a gente ter que ver qual vai ser a sinalização de apoio, porque isso mobiliza os vereadores. E aí os vereadores sinalizam quem é o apoio no segundo turno e assim sucessivamente. A mesma coisa é o Wagner", indicou.

Segundo ela, quando os apoios são demonstrados, a partir da sinalização, é que se estrutura a estratégia dos vereadores. "Isso no momento eleitoral", advertiu Vieira, dando conta de que, na gestão, a conjuntura vai depender de outros fatores.

Dentre os fatores, estão diálogos entre o Executivo e o Legislativo em torno da governabilidade, a possibilidade de membros de partidos assumirem cargos na gestão e outras tratativas que dizem respeito à gestão do orçamento anual e dos impostos municipais.

Entretanto, a possibilidade de ficarem "mais livres" não foi descartada por Vieira. Isso poderia acontecer, para ela, "de acordo com suas arrumações, das suas próprias articulações, apoios e bases eleitorais". "O Sarto incentivando dá uma segurança, porém pode ser dividido, não tem uma determinação", pontua. 

Analisando especificamente os resultados obtidos pelos pedetistas na Câmara Municipal, a doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professora da Universidade de Fortaleza (Unifor), Mariana Andrade, consultada pela reportagem, considerou o feito um atributo positivo, apesar da derrota para a prefeitura.

"A escolha de vereadores de uma mesma bancada pode ter efeitos políticos e estratégicos significativos para o 2º turno, porque uma bancada forte tende a ampliar a mobilização do eleitorado e promover o maior alinhamento de interesses políticos", argumentou, ponderando que ainda é cedo para dizer para qual lado dos que disputarão o segundo turno a formatação da CMFor é benéfica.

Apesar disso, Mariana alegou que os vereadores eleitos "devem uma resposta ao partido que impulsionou suas campanhas", então espera-se que os partidários sigam as posições adotadas pelas suas agremiações. 

"Como as relações do PDT com PT e PL são muito tensas, é provável que um eventual apoio de alguns dos vereadores eleitos seja bastante tímido, porque, embora não haja punição expressa na legislação eleitoral, essa migração pode motivar penalizações pelo próprio partido", completou.

'Câmara mais ao centro'

Vieira, entretanto, chamou a atenção para um comportamento de adesão de parte do quadro de vereadores no decorrer do governo que será eleito. "De um modo mais geral, esse grupo que ficou com o Sarto, estava porque ele era gestão", iniciou.

"Então ele pode ficar um pouco mais livre para poder, com uma futura prefeitura, seja do André ou do Evandro, conseguir se movimentar", alegou em seguida, considerando que o bloco em questão se movimenta mais ao centro do espectro político.

A perspectiva alegada pela especialista da UFC reflete uma trajetória vista no âmbito nacional, em que partidos políticos de centro montam estratégias para ampliar suas bancadas e aumentar o "poder de fogo" para ações coordenadas, tanto para a aprovação de projetos de interesse de setores estratégicos quanto para negociações diversas junto ao Governo Federal. 

Historicamente, não se tem um enfrentamento entre o Executivo e o Legislativo na esfera do Município. "A tendência é que, normalmente, quando é no Executivo municipal e estadual, não há tanto enfrentamento do Legislativo", disse Paula Vieira. A conduta, entretanto, não é estática. Na visão da entrevistada, a Câmara de Fortaleza passará, inclusive, por uma "reorganização".

'Puxadores de Voto'

O extrato da eleição municipal revelou campeões de voto. Os dois mais votados, Priscila Costa (PL) e Gabriel Aguiar (Psol), obtiveram, respectivamente, 36.226 e 30.682 votos. Ambas as entrevistadas concordam que a força dos recordistas da proporcional poderá ser convocada pelos postulantes do segundo turno para "puxar votos".

Se um vereador com expressiva margem de votos manifesta seu apoio, ele amplia o círculo eleitoral do candidato a prefeito. Além disso, é preciso lembrar que uma bancada unida no apoio a um candidato pode garantir mais influência na composição municipal, com a possibilidade de negociar secretarias, diretorias e outros cargos de confiança caso o candidato seja eleito.
Mariana Andrade
Doutora em Ciência Política e docente da Unifor

Observando os mais votados, Paula Vieira alegou que é possível ver vetores diferentes, espelhando a disputa eleitoral pela cadeira de prefeito de Fortaleza, a eleição de Priscila e Gabriel, assim como a de Bella Carmelo (PL) (eleita com 28.138 votos), provaria a assertiva. 

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"A Priscila Costa dobrou o número de votos que teve nas eleições passadas. A Bella Carmelo na primeira eleição já é super votada, atraindo o capital político do marido e conseguindo uma boa desenvoltura. Isso sinaliza que elas conseguem estar na ponta de campanha e atrair votos para o André Fernandes", indicou.

O Gabriel já vem representando o inverso. Uma parte mais preocupada com o meio ambiente, mais atenta à política ambiental, mais preocupada com esses rumos. Um pouco mais progressista, que sinaliza para o apoio ao Evandro. Aí ele pode puxar esses votos.
Paula Vieira
Socióloga, cientista política e pesquisadora da UFC

Além de Priscila, Gabriel e Bella, que estão no pódio de mais votados, constam entre os que receberam mais votos os vereadores: Ronaldo Martins (Republicanos) com 20.288 votos, Emanuel Acrizio (Avante) com 16.083 votos, Gardel Rolim (PDT) com 16.053 votos, Marcel Colares (PDT): 15.259 votos, Adail Jr (PDT) com 14.262 votos, Bruno Mesquita (PSD) com 14.189 votos, e Erich Douglas (PSD) com 13.250 votos.

Presidência da Casa

Desde 2023, a Câmara de Fortaleza é presidida pelo vereador Gardel Rolim (PDT). O ciclo, de dois anos, encerra em fevereiro. A movimentação em torno da sucessão será um acréscimo no circuito de redefinições que virão, já que a correlação de forças entre a Casa Legislativa e o Palácio do Bispo norteia a eleição para a função.

Como traduziu Mariana Andrade, é natural que o prefeito eleito "trabalhe para apoiar ou negociar com blocos ou partidos para eleger um presidente de Câmara que seja alinhado politicamente com seu governo". E, portanto, é possível vislumbrar conjunturas.

"Se André Fernandes vence as eleições, ele possui pelo menos cinco nomes com enorme adesão popular para impulsionar seus projetos na gestão da Câmara, porém, apenas dois nomes com experiência no Legislativo", avaliou, dando conta de uma possibilidade.

A segunda conjuntura trabalhada por ela se sustenta numa eventual vitória do PT. "Por ter presidido a Assembleia, Evandro Leitão tem maior potencial de articulação e diálogo com outros partidos e, se sai vitorioso no 2º turno, tende a trabalhar pela eleição de um nome com o mesmo perfil para presidir a Câmara", articulou.

Gardel Rolim na redação do SVM
Legenda: Especialista acredita que, por ter a maior bancada, "sartistas" irão buscar manutenção na presidência da Câmara, que hoje está sob o comando de Gardel Rolim (na foto).
Foto: Fabiane de Paula

Rolim é o terceiro presidente que consecutivo o PDT emplacou na Câmara de Fortaleza. Antes dele, passaram pela cadeira da presidência os então vereadores Salmito Filho (2015-2016 e 2017-2018) e Antônio Henrique (2019-2020 e 2021-2022). 

Por ter a maior bancada na próxima legislatura, Paula Vieira afirmou que acredita que o grupo do PDT deve querer a permanência na presidência. "Mas, ao mesmo tempo, a gente tem outras figuras que chegam com muita força. E que precisamos ver se vão para o apoio ou se vão querer movimentar algum tipo de protagonismo", contrapôs. 

"Não sei se quem estiver no Executivo vai querer interferir nisso, mas normalmente acaba sendo um processo mais autônomo. Tem algo nível de articulação, mas acaba tendo alguma autonomia", finalizou, se referindo ao agrupamento majoritário pedetista e ao processo de sucessão do comando da CMFor.

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