Os 10 mandamentos de Padim Ciço contra o aquecimento global

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(Atualizado às 14:01)
Foto: Kid Jr

Do Barro, no Cariri , sob um solzão acima de 40 graus, a uma Nova York tomada por enchentes. Valei-me, o mundo todo sentiu essa semana o drama do aquecimento do planeta. O falatório foi pesado. Da sede da ONU em Genebra (Suíça) ao Beco do Cotovelo, em Sobral, essa tem sido a bronca mais importante da humanidade.

No contraponto da bagaceira climática, organizações não-governamentais tocam nas redes sociais a campanha “A Fantástica Máquina de Esfriamento Global”. Uma máquina simplesmente chamada árvore, a mais avançada das tecnologias, pasme!

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E pensar que um profeta do Cariri, há mais de cem anos, insistia com essa temática. Nos sermões aos romeiros do Nordeste, o padre Cícero Romão Batista espalhava dez mandamentos, os seus “preceitos ecológicos”, como definiu o agrônomo pernambucano Vasconcelos Sobrinho (1908-1989), um dos primeiros especialistas em estudos ambientais no Brasil.

Não foi por falta de aviso que a tragédia climática se instalou. Repare na simplicidade e eficiência do decálogo verde do Padim Ciço:

1 - Não derrube o mato nem mesmo um só pé de pau.

2 - Não toque fogo no roçado nem na caatinga.

3 - Não cace mais e deixe os bichos viverem.

4 - Não crie o boi nem o bode soltos; faça cercados e deixe o pasto descansar para se refazer.

5 - Não plante em serra acima nem faça roçado em ladeira muito em pé; deixe o mato protegendo a terra para que a água não a arraste e não se perca a sua riqueza.

6 - Faça uma cisterna no oitão de sua casa para guardar água de chuva. 

7 - Represe os riachos de cem em cem metros, ainda que seja com pedra solta.

8 - Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só.

9 - Aprenda a tirar proveito das plantas da caatinga, como a maniçoba, a favela e a jurema; elas podem ajudar a conviver com a seca.

10 - Se o sertanejo obedecer a estes preceitos, a seca vai aos poucos se acabando, o gado melhorando e o povo terá o que comer. Mas se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só.

Não foi apenas o Nordeste que sentiu e segue padecendo com a desertificação. O Cerrado, a Amazônia e o mundo inteirinho também sentem o baque dos destruidores. Não foi por falta de aviso do “meu Padim”.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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