Google, Amazon e outros: Ceará negocia expansões, 2 data centers e 2 novos cabos submarinos
Com novos investimentos, mercado de tecnologia no Ceará ganha força e caminha para patamar de potência global no futuro
O Ceará está se projetando para virar um polo global no mercado de dados e conectividade, segundo especialistas consultados pela coluna. E, como sinal da continuidade dos planos estabelecidos anteriormente, o Estado tem pelo menos 6 grandes empresas de tecnologia negociando ampliação de operação, dois novos possíveis projetos de data centers, além da prospecção de 2 novos cabos submarinos ligando o Brasil e a Europa, que podem ajudar a impulsionar ainda mais o setor.
As informações foram confirmadas por Adalberto Pessoa, assessor para atração de negócios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Governo do Estado (Sedet). A lista de negociações conta com nomes de peso do mercado tecnologia, com Amazon Web Services (AWS), Google, Microsoft, Sales Force, Ascenty, e Scala já com o processo de tratativas iniciadas para expansão de operações no Ceará.
Além disso, pelos menos duas empresas negociam ou estudam a implantação de um data center nos próximos meses: V.tal e a Elea Digital (grupo Piemonte Holding).
O assessor da Sedet ainda revelou que o Estado está negociando a chegada de mais dois cabos submarinos de fibra ótica para ligar Fortaleza, e o mercado brasileiro, à Europa. Contudo, por questões de confidencialidade, não há detalhes sobre as empresas em tratativas.
"As perspectivas são muito positivas, considerando que a demanda por transformação digital tem subido de maneira exponencial, e quanto mais se necessita desses recursos, mais precisaremos de conectividade e estrutura de TI, de pessoas capacitadas para que, de fato, essa demanda global seja atendida", disse Pessoa.
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"O Ceará pode se tornar um agente global nesse processo. Temos 18 cabos submarinos e somos a segunda cidade mais conectada no mundo por cabos. Foi uma atração natural que tivemos porque em uma análise técnica os players mundiais chegaram a conclusão que o Ceará o ponto mais conveniente para os investimentos, e isso vem acontecendo", completou.
Sobre os novos possíveis investimentos, Adalberto destacou que a Elea Digital ainda está estudando – em vez de instalar um data center completamente novo – fazer uma fusão ou aquisição com outra empresa para ampliar ou reforçar planos já existentes.
Formação de mão de obra
Apesar da projeção de novos investimentos, o Ceará, assim como o restante do mundo, deverá enfrentar um dos maiores desafios para a expansão do setor de tecnologia: a formação de mão de obra qualificada.
Superadas essas etapas, esse deve ser o maior desafio, nem só no Ceará e no Brasil. É no mundo. Vai existir uma demanda de 800 mil profissionais de TI e isso se reflete no Ceará. Mas como estamos atraindo essas empresas, elas acabando desejando formar pessoas para trabalhar nos polos onde atuam"
Adalberto ainda confirmou a intenção do Governo do Estado formar mais de 100 mil jovens da rede pública de ensino nos próximos 4 anos para trabalho no mercado de tecnologia.
"Todas essas empresas têm linhas de capacitação. O que o Estado tem feito um programa dentro do Ceará que pode ser divido em duas iniciativas, os clusters econômicos para se desenvolver no Interior e o desenvolvimento de start ups para resolver questões de mercado que surjam nesse processo, e a outra é um programa de capacitação de pessoas focadas em jovens. Queremos formar, nos próximos 4 anos, mais de 100 mil jovens da rede pública de ensino".
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A perspectiva, mencionada por Pessoa, foi corroborada por Ricardo Coimbra, economista e membro do Corecon-CE (Conselho Regional de Economia no Ceará). Ele destacou a necessidade da cooperação entre a iniciativa privada e o Poder Público para a criação de programas de formação de pessoas focando o setor de tecnologia da informação e processamento de dados.
"O que se tem necessidade de investimento no médio e longo prazo é na formação de mão de obra e no fortalecimento de parcerias público-privadas para que se possa crescer o setor de forma sustentável. A atração de novos investimentos e reverberar esse mecanismo dessas plantas já existentes é um dos pontos importantes para se impulsionar esse setor", disse Coimbra.
Caminho traçado
A projeção de que o Ceará poderá se tornar uma potencial global no mercado de tecnologia foi apontada também pelo professor José Maria Monteiro do departamento de computação da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Ele, contudo, ponderou que o empresariado cearense ainda precisa assimilar melhor a importância de realizar investimentos na academia, focando no avanço das pesquisas em laboratórios.
Aliar os conceitos já utilizados na academia, em parceria com grandes empresas, de forma semelhante nos pequenos e médios negócios poderia render avanços ainda maiores para o setor de tecnologia da informação no Estado.
"Eu acho que já estamos no caminho, chegaram as empresas de cabos e dados, temos histórico de empresas de TI, temos laboratórios aqui no Ceará que estão trabalhando com grande corporações há anos, e temos esse conhecimento. Talvez falte um pouco a visão do empresariado cearense de que investir na Universidade não é jogar dinheiro fora. Temos projetos hoje com Lenovo, Dell, Samsung, Secretaria da Fazenda do Ceará", disse Monteiro.
Mas precisamos levar isso para as pequenas e médias empresa no Ceará, até porque os alunos que trabalham nesses laboratórios acabando indo para Europa ou EUA e não ficam aqui. O Governo tem tentado e temos tido avanços. Estamos no caminho, mas precisamos acelerar isso com investimento, que não pode ser só público"
O professor da UFC ainda projetou que a utilização de um modelo de ensino já testado na Alemanha poderia gerar bons resultados na formação de mão de obra no Ceará.
"Temos um modelo na Alemanha em que a empresa paga o curso de um aluno que começa a estagiar lá desde o primeiro semestre, e esse modelo poderia ser adotado aqui no Brasil, porque isso faz com que o aluno misture bem a teoria com a prática, e ainda cria laços na empresa, assimilando a cultura da companhia. Então em 1 ano ou 1 ano e meio ele já está produtivo para aquela empresa", explicou.
Mercado global
Apesar do cenário positivo, Monteiro destacou que a globalização do mercado de TI tem gerado desafios constantes para as empresas que buscam profissionais qualificados. Esse cenário, preenchido também por propostas bem remuneradas de home office, pode exigir um investimento maior focado em capital humano nos próximos anos.
"O grande problema é que como o mercado virou global, a gente forma excelente profissionais, que antigamente iam para mercados estrangeiros como EUA e Europa, mas hoje temos o fenômeno do home office, e aí eles acabam não trabalhando em empresas aqui porque ficam no home office, mas morando aqui. Tenho alunos ganhando até 50 mil dólares", disse.
"Isso cria a falsa impressão que a universidade forma pouco, mas a realidade é que os alunos estão se formando para trabalhar em empresas de fora por conta dessas novas formas de trabalho", completou.