'Senna', da Netflix, é tão grandiosa quanto trajetória de ídolo brasileiro; veja resenha
Série fez estreia nessa sexta-feira (29) no catálogo da Netflix
Para retratar a história de Ayrton Senna em uma produção, penso que três elementos seriam cruciais: uma representação dos eventos que o levaram a ser quem se tornou, um elenco capaz de retratar a grandiosidade dessa trajetória e um orçamento robusto, focado em levar o espectador à energia das pistas. "Senna", da Netflix, que estreou nesta sexta-feira (29), tem tudo isso e mais. É uma ode a tudo construído pelo atleta, com o adicional de ser visualmente belo e eficaz no que se propõe.
Seis episódios constroem a nova série da Netflix, todos eles repletos das famosas histórias responsáveis por formar o mito de Senna no esporte brasileiro. Desde as vitórias improváveis até a personificação da sede dele por vitória, o atleta é representado como um homem determinado, mas cheio de uma ambição pela velocidade muitas vezes injustificável.
Gabriel Leone, o responsável por dar vida a Senna na produção, tem grande mérito. Entregue ao papel, o ator parece ter incorporado o olhar do piloto da forma mais perfeita, assim como transparece a cada cena todos os objetivos dele em vida. Por meio desses mesmos olhos, enxergamos o caminho percorrido por ele, sentimos a tristeza diante das falhas, assim como a felicidade nas conquistas tão importantes.
Talvez por essa interpretação ou pela construção da série, é quase inevitável que o espectador não se coloque em uma posição para torcer por um fim diferente a Senna. Quando o fatídico circuito de Ímola é retratado, as sensações afloram, enquanto, a cada volta antes da batida em que o atleta faleceu, a ansiedade persiste em tela.
O fim dessa jornada, claro, é o mesmo, e a mim, ao menos, sobraram lágrimas nos olhos por constatar que uma produção como essa é capaz de tudo, exceto mudar a realidade.
Atores comprometidos com história
Não cabe falar da grandiosidade da produção sem apontar o trabalho dos atores envolvidos nela. Assim como Leone, Pâmela Tomé, a Xuxa da história, Kaya Scodelario, uma jornalista fictícia, e Matt Mella, um Alain Prost digno da rivalidade dos pilotos, são destaques. Mas os demais, até os que surgem em poucas cenas, como é o caso Alice Wegmann e Julia Foti, como Lílian e Adriane Galisteu, respectivamente, também surgem extremamente bem.
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Seja pela direção ou pela própria história de Senna, que é repleta de personagens complexos, causadores de curiosidades diversas, todos os diálogos e acontecimentos são muito interessantes de acompanhar.
O núcleo familiar, inclusive, nos leva a entender parte do crescimento de Ayrton, seja como pessoa ou como atleta. Por meio deles podemos ver como nasceu a paixão pela velocidade e até mesmo como, diante das negativas da família nesse caminho, Senna optou por permanecer em busca do sonho. Um acerto do começo ao fim, sem dúvidas.
Universo da corrida surpreendente
Outro acerto está em como a corrida é retratada na trama. A série busca transformá-la quase em um personagem, enchendo a tela de beleza, tensão e detalhes. O carro de Senna, por exemplo, verdadeiro ícone da história, é visto em detalhes, tanto fora da pista como percorrendo por ela.
As ultrapassagens colocam o espectador quase dentro do veículo, ansioso por tomar o lugar de campeão que já era quase certo para o piloto. Quem assiste, faz parte. Acelera junto de Senna, bate junto com ele, se frustra com as derrotas e vibra com a vitória.
Os zunidos do motor funcionam quase como uma sinfonia. São uma música utilizada como fio condutor para não deixar dúvida: Senna era o mais rápido, sabia disso e tinha total controle de toda a jornada dele dentro da pista. É bonito de ver.
Caberiam muitas coisas positivas a citar aqui. Mas a principal delas é presenciar, diante de toda a grandiosidade de uma produção nacional, um cuidado extremo com essa trajetória que é, até hoje, sinônimo da idolatria de um país. "Senna" não só faz justiça ao legado do piloto como também é uma forma de eternizá-lo entre os que sequer o viram em um volante.