Envelhecimento da população: os sistemas de saúde estão preparados?
É necessário que as pessoas nos espaços de decisão, como política e na saúde, reflitam e planejem sobre todas as pluralidades do existir.
No último domingo, o tema da redação do Enem foi sobre envelhecimento. O que fez com que o assunto ficasse em alta. Mas aqui surge uma pergunta importante: será que os sistemas de saúde estão preparados para lidar com essa demanda?
Segundo o censo do IBGE 2022, o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% nos últimos 12 anos. Nesse contexto, saber que a população está envelhecendo é um motivo de orgulho, pois significa que a expectativa de vida está aumentando e as condições de vida também podem estar melhorando.
No entanto, é importante que os sistemas de saúde estejam preparados para lidar com essa mudança na faixa etária populacional. Os epidemiologistas chamam esse fenômeno social de transição demográfica, o que significa dizer que a faixa etária do perfil populacional está mudando e que nas próximas décadas teremos pessoas mais velhas do que jovens.
Veja também
Por isso, é importante pensar em como os sistemas de saúde do mundo e, principalmente, o do nosso país, estão preparados para lidar com isso.
Pensar no aumento do envelhecimento a partir da ótica do acesso à assistência à saúde é importante justamente porque precisamos entender como vamos cuidar dessa população, olhando, claro, para as particularidades desse ciclo de vida.
O acesso à saúde não pode se resumir a uma simples consulta, diagnóstico e prescrição, tendo em vista que, de acordo com instituições como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a carga de doenças crônicas não transmissíveis, como hipertensão, diabetes e doenças cardiovasculares, tem aumentado e é responsável por mais da metade das causas de mortes no mundo.
E doenças crônicas não se resolvem em apenas uma consulta, precisam de vínculo, adesão medicamentosa e acompanhamento contínuo, logo, o sistema de saúde precisa estar preparado para o aumento dessas demandas.
Um ponto essencial que também se deve ser pensado é que no Brasil, segundo a Demografia Médica (2025), existem 3.167 médicos geriatras, o que corresponde 1,49 especialistas por 100 mil habitantes. Esse número tem aumentado aos poucos ao longo dos anos, no entanto, o ainda não tem crescimento da taxa de envelhecimento da população.
É fundamental, então, investir na formação de mais especialistas na área para que se atenda às demandas populacionais —e também na formação de outros profissionais de saúde, além da medicina, como especialistas na geriatria e gerontologia, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas.
Dessa forma, o nosso sistema de saúde estará mais fortalecido e preparado para receber as demandas de saúde que teremos nas próximas décadas com essa transição demográfica.
Além disso, é imprescindível pensar em políticas de equidade em saúde, já que envelhecer no Brasil também é algo desigual. É preciso que as políticas públicas de saúde levem em consideração as particularidades do cuidado de populações que foram historicamente impostas a condições de marginalidade e subalternidade, como mulheres, pessoas negras e indígenas, LGBTQIA + e pessoas com deficiência (PCD).
Envelhecer é um processo natural humano e deve ser um ciclo da vida, como todos os outros, em que as pessoas possam viver com dignidade, respeito e acesso à saúde e todos os seus direitos fundamentais. Mas para que isso ocorra é essencial que as pessoas nos espaços de decisão, na política e na saúde, pensem e planejem como todas as pluralidades do existir poderão ter acesso a esse envelhecer com dignidade humana.
Assim, o envelhecimento da população não deve ser visto como algo negativo, mas como uma conquista nossa enquanto sociedade: pois isso significa que de alguma forma as condições de vida e de qualidade de vida têm melhorado. Agora, cabe a nós e aos nossos representantes políticos pensarem em como fazer que: viver mais também seja viver melhor.