A Substância: em busca da nossa melhor versão

O novo filme da diretora Coralie Fargeat, A Substância, desafia os padrões de beleza de forma sombria e violenta - da mesma maneira que eles fazem com a gente

Escrito por
Elaine Quinderé verso@svm.com.br
Legenda: Demi Moore protagoniza longa "A Substância", que traz reflexões sobre etarismo e as pressões sobre o corpo feminino
Foto: Divulgação

Busque sua melhor versão. Acredite na sua melhor versão. De alguma forma, a nossa “melhor” versão se tornou o objetivo máximo da vida de uma mulher e o “melhor” aqui não é usado no intuito de se procurar a evolução emocional, espiritual ou profissional: ela é apenas estética.

Melhor significa mais magra, mais jovem, mais gostosa, mais branca, mais interessante, mais agradável para as papilas do patriarcado. O filme conta a história de Elisabeth Sparkle, atriz e apresentadora de televisão demitida da emissora que trabalha. A sua idade, 50 anos de vida e de muita experiência na indústria do entretenimento, já representava um problema para os homens que investem e administram o canal de TV. Eles precisam de alguém mais jovem, mais bonita e mais influenciável para ocupar seu lugar.

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O decorrer da história não contarei porque acho que é o tipo de filme que você deve ir lá tirar suas próprias conclusões. Mas a narrativa é feminista, apesar dos vários nus, não existe sexualização desses corpos; apenas a decadência deles.

É aterrorizante e cômico na mesma medida, mas vale um sinal vermelho para as mulheres que forem assistir: é possível se enxergar em cada um dos movimentos da personagem principal, interpretada por Demi Moore.

A trama se propõe a questionar tudo que sabemos sobre autoaceitação, autoestima e etarismo. Ela é uma hipérbole dos procedimentos estéticos, dos julgamentos e dos pequenos passos que damos todos os dias em busca dessa “melhor versão”.

Com o uso das cores, dos sons e da própria arquitetura, o filme nos causa esse incômodo que vivemos diariamente por conta dessa engrenagem barulhenta e aniquiladora que são os padrões de beleza.

A escolha da atriz para viver Elisabeth Sparkle também não foi à toa. Demi Moore foi um ícone de beleza e sensualidade nos anos 1980 e 1990, mas com o passar da idade foi perdendo espaço e recorrendo a muitas cirurgias plásticas para se manter bonita como antes.

Atualmente, a atriz tem 61 anos e volta às telonas para interpretar um personagem que sofre com os mesmos algozes que causaram tanta insegurança nela.

O filme não faz apenas uma crítica ou sátira, ele nos indica um caminho difícil, mas importante e nos faz questionar: até que ponto o “melhor” é realmente o “melhor” para nós?

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora