Brasil lança foguete 100% nacional: conheça um pouco da história aeroespacial do país

Foguete foi lançado nessa sexta-feira (29) em Parnamirim, no Rio Grande do Norte

Escrito por
Ednardo Rodrigues ceara@svm.com.br
(Atualizado às 17:19)
Legenda: Foguete VS-30 pronto para lançamento no CLBI
Foto: Força Aérea Brasileira

Nessa sexta feira (29), houve o lançamento de um foguete brasileiro a partir do território nacional. Para ser mais específico, do Centro de Lançamento de Parnamirim-RN – na verdade, chama-se Centro de Lançamento da Barreira do Inferno - CLBI.

Bem que poderiam trocar o nome inferno por Parnamirim. E não é por motivo religioso. O nome de um programa influencia seu sucesso, seu marketing. Agora, como vou explicar para a família que vou conhecer a barreira do inferno?

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O foguete brasileiro lançado chama-se VS-30, criado em 1997 pelo IAE com capacidade suborbital. Isso significa que ele possui capacidade de ir ao espaço. Quem acompanha meus textos, já sabe: atinge-se o espaço a 100 km de altitude, na qual fica a linha de Karmann. Algo que nenhuma outra equipe de foguetemodelismo no Brasil consegue atingir, apenas a Força Aérea.

O foguete, de cerca 7,43 m, pesa aproximadamente 300 kg e atinge velocidade pouco acima de mach 5 (6 mil mk/h). Apesar de ser um foguete pequeno, esse relançamento representa uma nova onda do setor aeroespacial brasileiro. 

O programa espacial brasileiro iniciou oficialmente em 1961 com o decreto 51.133, assinado pelo presidente Jânio Quadros. O programa foi responsável por desenvolver vários satélites com fins militares e meteorológicos. Também foram criados vários foguetes com capacidade suborbital. O VS-30 foi um deles. Nunca se criou um foguete orbital, ou seja, capaz de colocar um satélite em órbita. 

O projeto mais promissor, sem dúvidas, foi o Veículo Lançador de Satélites (VLS). O Brasil fez dois lançamentos-testes desse enorme foguete. Algo muito parecido com o que a SpaceX está fazendo neste momento com a Starship: lança, falha, corrige e lança novamente até obter sucesso.

Contudo, era praticamente impossível acertar no segundo lançamento um projeto de um foguete orbital com quatro busters laterais – Falcon Heavy tem dois. No segundo lançamento, o VLS saiu meio que fazendo moonwalk. Subiu bastante e não “explodiu”, foi acionado o sistema de terminação de voo uma vez que saia da trajetória prevista. É claro que o sistema de terminação de voo tem a finalidade de explodir o foguete mesmo. 

Tudo estava certo para o terceiro lançamento, mais de 21 pessoas estavam trabalhando nos ajustes finais, quando o VLS ignitou misteriosamente. O combustível sólido consumiu tudo em uma explosão no solo. Dentre as 21 vidas perdidas, estavam os cientistas, engenheiros e técnicos mais capacitados do país. Até o hoje o programa espacial não se recuperou a ponto de tentar lançar outro veículo orbital. 

O desenvolvimento de satélites continuou, mas foram lançados a partir de outras nações, a exemplo de Rússia, França, Índia e China. Estas duas últimas inclusive se inspiraram significativamente no programa brasileiro. O relatório oficial deu um laudo aceitando a tragédia como um acidente.

Concordei à época, pois duvidei muito que alguém tivesse coragem de fazer algo dessa magnitude com seres humanos. Mas existe um país em que isso é normal. Um país que tem um ex-espião declarado na presidência cuja arte é a sabotagem. Que se beneficiou com o atrofiamento do programa espacial brasileiro. Que já sacrificou a vida de mais de 600 mil soldados para gastar a munição dos ucranianos. Que existe, existe! 

Mas que bom o Brasil está se reerguendo. E não vamos falar de fênix porque era um símbolo nazista. Vamos falar de perseverança do Programa Espacial Brasileiro que, com o relançamento do VS-30, mostra o interesse em desenvolver esse setor no país. 

Durante o governo Bolsonaro, sob o ministério do ex-astronauta Marcos Pontes, foi criado um programa de oportunidade para equipe de estudantes desenvolverem foguetes de verdade. Mais de 23 equipes foram contempladas em todo o país. A minha foi uma delas. Ainda no ministério do astronauta, o Brasil testou o motor do Veículo Lançador de Microssatélites (VLM)

Agora, no atual governo, o lançamento do VS-30 mostra interesse em continuar desenvolvendo o setor. Se esse foi lançado é porque outros mais avançados serão lançados em breve. Isso fica claro, uma vez que o objetivo do evento foi justamente treinar a equipe da base. 

É claro, que não está livre de críticas – aqui, pelo menos, podemos criticar.  Mas que o programa traga muitas inovações para a indústria brasileira que não se restringe apenas ao setor aeroespacial.

 

*Este texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor

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