Um dia de luz pelos nossos anjos que se foram

No dia 15 de outubro, a Praça Luiza Távora se enche de luz para conscientizar sobre a perda gestacional, neonatal e infantil

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(Atualizado às 10:34, em 09 de Outubro de 2024)
Legenda: Faço isso todo ano com Francisco, seja no evento com o grupo ou na oração em casa. Quando seu coração parou de bater, ainda dentro da minha barriga, eu já tinha amor demais
Foto: Pexels

Desde que perdi Francisco na barriga, muita gente se aproximou para contar dos abortos espontâneos que sofreram. Era como quebrar o silêncio para um luto ignorado até mesmo pelos familiares. Como se devêssemos engolir a dor e o sonho de ver o rosto dos nossos filhos porque a perda gestacional é algo “comum”. Ouvimos que devemos calar a dor, afinal logo poderemos engravidar novamente. Será? Como se um filho pudesse ser substituído por outro.

Acredite: esses comentários ainda acontecem hoje. E aumentam a dor de inúmeras famílias de mães e pais que vêem o sonho da maternidade e da paternidade interrompidos. Que sentem amor pelo ser que nunca viram ou que seguraram nos braços por tão pouco tempo. São seus filhos. O luto é real.

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É por isso que, todos os anos, um grupo potente de Fortaleza chamado “Da dor ao Amor” se reúne na Praça Luiza Távora para acender luzes aos nossos anjos que se foram. Acontece no dia 15 de outubro, o dia da conscientização sobre a perda gestacional, neonatal e infantil. É um dia para apoiar quem passou ou está passando pelo luto parental, mas também de celebrar vidas que nos deixaram marcas.

Faço isso todo ano com Francisco, seja no evento com o grupo ou na oração em casa. Quando seu coração parou de bater, ainda dentro da minha barriga, eu já tinha amor demais. Já me sentia de alguma forma mãe. Sofri pela maternidade interrompida, que agora exerço com Bento. Meu bebê arco-íris está crescendo sabendo que teve um irmãozinho que virou anjo.

Mas esta história é muito maior que isso. É sobre nossa dor, nosso luto, mas também sobre uma política pública importante para milhares de mulheres que passam pelo que passamos. Às vezes, várias vezes. Mulheres que precisam se submeter a procedimentos em maternidades, junto com outras mães que seguram seus bebês vivos. Mulheres que passam por violência obstétrica e que escutam os comentários mais insensíveis da equipe médica durante este momento de dor. Essa história é sobre mudar protocolos nos hospitais, é sobre abrir os olhos da sociedade para visibilizar esta dor.

O grupo “Da dor ao Amor”, em Fortaleza, é um espaço de acolhimento, mas também de contribuição para mudar essa realidade. Estamos nos preparando para acender a luz simbólica aos nossos anjos no dia 15, mas quero deixar registrado aqui a luz que eles trazem todos os meses para que pessoas como eu possam viver este luto com respeito. Que, juntos, possamos enfrentar tudo isso com respeito e empatia.