Como e quando contar que meu filho é adotado?
Diálogo desde cedo ajuda a construir um relacionamento saudável
Você sabe o que há em comum entre John Lennon, Marylin Monroe, Steve Jobs e Milton Nascimento? Sim, todos eles foram adotados.
A adoção é um ato de amor que traz consigo a responsabilidade de cuidar e entender. É um processo transformador que traz novas esperanças e desafios tanto para as crianças quanto para os adotantes. É natural que nessa caminhada muitas dúvidas e inseguranças apareçam. Uma angústia muito comum, que recebo no consultório dos pais adotantes é se deve, quando e como deve ser dito para o filho sobre a adoção.
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Adianto que é claro que deve ser dito e quanto antes melhor. Tudo deve ser exposto de forma leve e natural. É essencial para todos nós sabermos nossa história, a VERDADE nos proporciona amparo, contorno, presença e é essencial para a construção de pertencimento.
Sei que para algumas famílias pode parecer difícil, contar para os filhos pode ser um momento delicado, mas saibam que é também uma grande oportunidade para fortalecer o vínculo e construir a confiança.
5 orientações de como abordar adoção com os filhos:
Fale desde cedo: não há exatamente um momento certo para falar. Se a adoção tiver sido feita desde bebê, procure ir falando sobre a temática desde cedo. Se utilize de histórias, conte-as toda noite, inclusive sobre como foi a própria trajetória da família até adotar a criança. Normalmente a partir de 4/5 anos a criança já pergunta sobre a origem da vida, de onde vêm os bebês, se nascem da barriga, esse é um ótimo momento para ir contando a verdade.
Não encare como uma revelação. Porque a ideia de revelar, carrega o peso de algo escondido, ou algo tenso que estava guardado e que precisava de um esforço para ser dito. Se for escolhido um momento para contar, deve ser uma conversa leve, contando para o filho sobre uma história de amor e doação, não só que ele é filho do coração.
Explique o que significa adoção de maneira positiva, adaptada a linguagem da criança e enfatize sempre que ela é especial. É sempre bom também naturalizar a palavra adoção em casa, quanto mais a criança escuta sobre o assunto, mais leve fica.
Utilize livros, desenhos e recursos artísticos, que podem ajudar a abordar o assunto de forma lúdica e acessível. Eles podem proporcionar um ponto de partida para a conversa. Existem alguns desenhos famosos como Meu Malvado Favorito, Homem-Aranha, Kung Fu Panda, Dinotrem, dentre outros, que abordam a temática e podem servir como exemplo de identificação para as crianças, já que fazem parte do universo infantil.
Fale sobre a história da criança, expresse sobre como foi desejada e aguardada, mostre fotos dos preparativos, da arrumação do quarto para sua chegada, pontue o amor que a levou a ser adotada e a decisão cuidadosa feita para que ela tivesse uma família. Diga “você foi o menino ou menina que veio para iluminar nossas vidas”. Compartilhe informações também sobre a história dela, respeitando sempre sua privacidade e sentimentos. Outra ideia também é fazer uma festa de comemoração da adoção, celebrando o amor da família.
Seja honesto, sensível e dê espaço para os sentimentos. Responda a perguntas de forma sincera, mas evite sobrecarregar a criança com detalhes que possam ser difíceis de processar. Esteja preparado para uma variedade de reações, desde curiosidade até tristeza e permita que a criança expresse suas emoções. Esteja aberto a ouvir e validar os sentimentos dela. E não esqueça de deixar claro que essa é uma conversa que pode ser retomada sempre que a criança quiser.
Busque apoio profissional, se você sentir que a criança precisa de mais apoio, considere procurar um psicólogo infantil. Essa ajuda pode ser fundamental para os pais também. O apoio psicológico pode ajudar a todos da família a partilhar e processar as informações de maneira saudável e construírem laços afetivos sólidos.
Falar sobre o processo de adoção do seu filho, é fundamental para a construção saudável da identidade da criança. A verdade pode ser difícil, mas o não dito é muito mais doloroso, adoece muito mais. Com a verdade, podemos cuidar, acolher, estar junto e transformar.
Pais adotantes, acolham verdadeiramente a história de seu(ua) filho(a), não fiquem presos a ideia da “rejeição”, pois, além de não ser positivo para a criança, esse pensamento pode prejudicar o próprio processo de educar, colocando a criança no lugar do “coitadinho”.
Vocês devem ter em mente que são agentes transformadores e que estão construindo uma nova história. Do contrário, podem entrar na armadilha de proteger demais a criança porque ela já “sofreu” demais. Jamais se ausentem do educar, do corrigir e orientar em nome de uma história que já está sendo ressignificada, reescrita.
Aconteceu sim um momento difícil na vida da criança, porém agora o caminhar é diferente... Com muito mais amor...
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião da autora.