Ceará teve gasto de R$ 621 milhões com a dengue em 10 anos

A despesa foi registrada entre os anos de 2008 e 2017, distribuída entre atendimentos ambulatoriais, hospitalizações e óbitos. Um total de R$ 12 bilhões foi gasto com a doença em todo o Brasil, em igual período

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Além do dano à saúde física, os prejuízos causados pela dengue se traduzem em despesas significativas para os cofres públicos, tanto dos pacientes quanto do Sistema Único de Saúde (SUS). Somente no Estado do Ceará, de 2008 a 2017, a arbovirose custou R$ 621 milhões, conforme dados apresentados durante a 23ª reunião da Sociedade Internacional de Farmacoeconomia e Pesquisa de Resultados (Ispor, na sigla em inglês), em maio de 2018.

O gasto, registrado durante 10 anos, distribui-se entre atendimentos ambulatoriais, hospitalizações e óbitos. E também foi significativo em âmbito nacional. O impacto econômico causado pela doença no Brasil foi de R$ 12 bilhões, em igual período. Durante os picos de incidência, a dengue sobrecarrega as redes ambulatoriais e hospitalares do sistema público, podendo acarretar consequências não apenas criando dificuldades para o atendimento dos casos da doença em si, devido à sobrecarga, mas também trazendo prejuízos para pacientes com outras enfermidades que acabam tendo menor acesso à rede de assistência devido a essa demanda excessiva, conforme explica Rafael Araújo, gerente de Economia de Saúde da Sanofi Pasteur, divisão de vacinas da multinacional farmacêutica Sanofi.

"Existe um impacto direto em termos de custos para o sistema de saúde estimado em R$ 145 por caso ambulatorial, e R$ 538 nos casos de hospitalização", afirma.

Os custos não médicos também são fonte de preocupação para os pacientes, quando associados a uma necessidade decorrente da doença. No dia a dia, transporte e alimentação são os principais aspectos influenciados pelas consequências da dengue, por exemplo, nas situações em que o indivíduo precisa se locomover por uma distância maior que o normal para receber atendimento.

Medicamentos

"Um estudo concluiu que cada paciente adulto perde, em média, 4,3 e 10,7 dias de trabalho, ambulatorial e hospitalar respectivamente. Além disso, parte dos medicamentos utilizados para contornar os sintomas da doença, como analgésicos, muitas vezes é custeada pelos próprios pacientes", explica Rafael Araújo.

Segundo ele, considerando os custos diretos e indiretos da dengue, cada caso ambulatorial traz um impacto de R$ 392 e nos casos de hospitalização o impacto chega a R$ 1.016. Destaca-se, também, o fato de que o sistema de saúde, o paciente e a sociedade como um todo arcam com outros prejuízos econômicos, como a perda de produtividade que ocorre quando o próprio paciente ou seu cuidador deixa de ir trabalhar devido à dengue.

Para o marceneiro Manoel Rodrigues, 60, os dois primeiros meses após receber o diagnóstico da arbovirose foram os mais complicados. "Eu soube há pouco mais de um ano. Sentia muita dor no corpo, aí passei um tempo parado, não dava pra fazer os reparos nos apartamentos, nas casas. Eu trabalhava com isso, mas não tinha como ficar subindo escada", relata.

Por sorte, sua recuperação rápida permitiu que voltasse logo ao trabalho, apesar da preocupação inicial. "Eu fui atendido na UPA, fui melhorando. Mas, hoje, faço poucos serviços como antes. Estou produzindo móveis e artesanato de madeira, em casa mesmo. Tive que me adaptar".

Dentre os recursos indicados como fatores de prevenção da doença, a vacina é recomendada. Porém, no Ceará, está disponível somente no sistema privado de saúde, para pessoas de 9 a 45 anos de idade.

"A vacinação pode ser considerada como parte de um programa integrado de controle da doença, que envolve ações como o controle do vetor e a educação e treinamento de equipes de saúde", diz o gerente de Economia de Saúde.

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