Com 7 eleitos, cresce número de indígenas vereadores nas Câmaras Municipais do Ceará; veja locais

Número é maior do que os quatro representantes que chegaram às Câmaras Municipais em 2020

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Um homem e duas mulheres indígenas com cocares na cabeça
Legenda: Evandro Tremembé, Adriana Kariri e Eliane Tabajara estão entre os indígenas vereadores que assumirão a partir de 2025
Foto: Reprodução/Redes sociais

As Câmaras Municipais são as casas da representação popular. Refletindo a presença indígena na população cearense (mais de 56 mil pessoas, conforme o último Censo do IBGE), 4 homens e 3 mulheres de diferentes etnias foram eleitos para um mandato de quatro anos, entre 2025 e 2028. O número representa um incremento em relação aos quatro eleitos no último pleito municipal, em 2020. 

Conforme monitoramento da iniciativa Campanha Indígena, 34 indígenas - 19 mulheres e 15 homens - se candidataram para o pleito deste ano no Ceará. Destes, foram eleitos:

  • Andrea Kariri (PT) - São Benedito
  • Eliane Tabajara (PSD) - Poranga
  • Evandro Tremembé (PCdoB) - Itarema
  • Victero Bruno Kanindé (PSD) - Aratuba
  • Professora Marsilvia Potiguara (PT) - Monsenhor Tabosa
  • Vicentinho Potiguara (PSB) - Monsenhor Tabosa
  • Valdemar do Lajedo (PSB) - Monsenhor Tabosa

Da lista acima, apenas Valdemar do Lajedo não declarou etnia no registro de candidatura, embora pertença ao povo Tubiba Tapuia. Ele informou ser da cor/raça “parda”. Todos os resultados foram conferidos pelo Diário do Nordeste junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Juntos, os eleitos somaram quase 4,5 mil votos e são apelidados nas redes sociais de “Bancada do Cocar”, em referência ao adorno de cabeça feito de penas utilizado como símbolo da identidade indígena. 

Outros 24 candidatos cearenses ficaram na suplência, incluindo os dois que receberam as maiores votações entre indígenas no Estado: Dra. Laysa Tapuia (PSB), em Ubajara, e Cassimiro Tapeba (PT), em Caucaia.

15.564
votos foram computados para candidatos indígenas no Ceará, conforme o levantamento.

Em relação à última eleição, Valdemar do Lajedo e Vicentinho se reelegeram. Weibe Tapeba, de Caucaia, tirou licença do cargo para assumir a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Governo Lula. Elky Barroso (DEM), da comunidade Kanindé de Aratuba, chegou a ser presidente da Câmara do município, mas não buscou a reeleição.

Representatividade na política

A coordenadora da Federação dos Povos e Organizadores Indígenas do Ceará (Fepoince), cacique Andrea Tapuya-Kariri, comemora a vitória em São Benedito, na Serra da Ibiapaba. “A partir do dia 1º de janeiro, a Andrea Kariri ultrapassa os muros da aldeia Gameleira para trabalhar não somente para o povo indígena, mas também para toda a população são beneditense”, diz.

“Embora eu nunca tenha ocupado cargos públicos, a gente já tem um trabalho muito sério que vem trazendo muito desenvolvimento para a nossa aldeia, mas quer levar esse trabalho para outras regiões”, completou.

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Em Itarema, no Litoral Norte, Evandro Tremembé também ressalta a trajetória de luta dos povos originários cearenses. “Essa vitória não é só minha, é do povo Tremembé. É com a mente focada em melhorias para o futuro da nossa população que estamos juntos para abraçar e ouvir nosso povo”, declarou nas redes sociais.

Juliana Alves Jenipapo, titular da Secretaria dos Povos Indígenas do Ceará (Sepin), considera um "saldo muito positivo" e destaca que a vitória representa um importante passo no fortalecimento das vozes indígenas nas esferas políticas, “aldeando” e transformando a política a partir das realidades, lutas e saberes ancestrais de cada povo.

“Até então, a gente não conseguia contar com vereadores que pudessem estar na Câmara de Vereadores levando projetos, pautando sobre a vida dos povos indígenas nos seus territórios. E agora, com certeza, a gente vai poder contar com esses vereadores, uma vez que se autoafirmam enquanto indígenas, então é preciso ter consciência de que o trabalho não pode parar”, afirma.

Segundo ela, a Sepin vai dar continuidade ao diálogo com esses parlamentares para formar parcerias na construção de políticas públicas municipais dentro dos territórios indígenas.

Para a Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), os eleitos “conquistam a oportunidade de alterar o cenário político para seus Povos, pois representam um novo olhar sobre a construção de políticas públicas, atentos à toda destruição ambiental e ataques iminentes à vida e aos direitos indígenas”.

Na área de abrangência da Associação, foram contabilizados 57 indígenas eleitos, sendo 53 vereadores e vereadoras, três prefeitos e uma prefeita.

Indígenas eleitos no Brasil

Em todo o Brasil, 256 indígenas eleitos ocuparão Câmaras municipais e Prefeituras em todas as regiões do Brasil, a partir de 2025, conforme a Campanha Indígena. Foram 234 vereadores, nove prefeitos e 13 vices, escolhidos entre 2.506 candidatos.

Veja a lista dos Estados com mais eleitos:

  • Amazonas - 47
  • Pernambuco - 31
  • Paraíba - 23
  • Rio Grande do Sul - 17
  • Minas Gerais - 16
  • Mato Grosso do Sul - 15
  • Bahia - 14
  • Roraima - 12
  • Mato Grosso - 11
  • Pará - 10

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