Trajetória e obras de Belchior inspiram produção de documentários e série para TV

A vida de Belchior será levada para o cinema em pelo menos quatro filmes que pretendem retratar a poética do cantor e compositor cearense, cuja morte completa dois anos nesta terça-feira (30). Três dos trabalhos sairão na forma de documentário, quanto uma será uma adaptação ficcional da biografia do artista, que também se desdobrará em série para a televisão.

Os projetos, porém, estão travados desde a paralisação das atividades da Agência Nacional do Cinema (Ancine), no começo deste mês, que impacta na liberação de recursos para filmes e séries.

A série para televisão é um projeto tem como base a biografia escrita pelo jornalista Jotabê Medeiros, que atua como consultor do roteiro. De acordo com o escritor, os direitos para a adaptação do livro foram vendidos ainda no ano passado, quando o projeto começou a ser tocado pela produtora responsável.

Jotabê evita dar detalhes sobre o projeto, bem como dizer qual o canal por assinatura que exibirá a série, segundo ele, porque o filme e a série ainda estão em pré-produção. O jornalista também diz que, em razão da incerteza sobre o financiamento, os detalhes não podem ser divulgados.

A adaptação deve dar contornos a personagens pouco explorados no livro. Ele diz também que o trabalho vai trazer alguns “focos dramáticos” apresentados na biografia, como a descoberta do compositor pela cantora Elis Regina e a oposição entre Belchior e Fagner. “Era uma situação que nunca havia sido revelada. Todo mundo sabia disso, mas ninguém nunca tinha formalizado essa disputa entre duas grandes mentes criativas”, completa.

Documentários

Dois dos três documentários desenvolvidos focam na vida do cantor a partir das músicas do cearense. Um deles tem na direção o cineasta Marcus Fernando, que co-dirigiu o bem-sucedido documentário “Torquato Neto - Todas as horas do fim” (2017). O título provisório do projeto é "Belchior - Coração Selvagem".

O filme deverá, assim como o último documentário do cineasta, apostar em uma estrutura não-convencional, sendo a narrativa costurada a partir das músicas do compositor cearense. “Ele se colocava muito nas músicas e a gente quer mostrar isso. Quando ele vem para São Paulo e tem dificuldades, escreve isso. Também mostra as  influências dele, o Bob Dylan, os Beatles… Ele coloca tudo ali nas músicas”, explica.

Para a construção do roteiro, assinado em parceria com Juliana Magalhães, o diretor conta com a participação de filhos de Belchior. Segundo ele, já foram pelo menos cinco encontros com eles para afinar questões que devem ser trabalhadas no longa, que deve ter parceria do Canal Brasil.

Ele se colocava muito nas músicas e a gente quer mostrar isso" - Marcus Fernando, diretor

As dificuldades, conforme o cineasta, ainda é de financiamento. O período é de incertezas, ele diz. “A gente continua buscando caminhos para financiar o filme. O fundo setorial poderia ser um caminho mas está parado. O audiovisual brasileiro está parado”, considera.

Também com uma proposta de documentário, a Clariô Filmes tem também dúvidas sobre o financiamento. O longa deve enfocar na vida do compositor a partir do que é dito nas letras de Belchior.

Com título provisório de "Belchior - Amar e mudar as coisas", o longa tem direção de direção de Natália Dias e codireção de Camilo Cavalcanti. De acordo com os cineastas, o documentário deverá ter um tom poético e apresentar entrevistas com parceiros, amigos e personalidades que participaram da construção da obra de Belchior. "Vai ser uma narrativa nada convencional, bem poética", diz Natália, que prevê o início das gravações ainda para este ano.

Autoexílio

A vida que o cantor levava no autoexílio em Santa Cruz do Sul (RS) será o tema principal de um documentário produzido pela produtora Pé de Coelho Filmes. Com roteiro e direção de Diego Tafarel, o longa vai ouvir pessoas que conviveram com o cearense durante o período do "sumiço" para tentar desvendar o que ainda ficou encoberto sobre a rotina de Belchior nos últimos anos de vida.

De acordo com o diretor, que mora na cidade, cerca de 30 pessoas devem ser ouvidas. "Existe um grande sentimento que permeia a narrativa dessas pessoas. Todas se sentem muito privilegiadas por terem acolhido o Belchior. Houve entre elas um pacto para guardarem esse segredo, uma lealdade muito nítida", afirma.

Tafarel pretende iniciar as gravações a partir de julho, mas diz que as pesquisas e o roteiro já estão bem adiantados.