Teatro para bebês: creches cearenses contarão com transmissão virtual de espetáculos

Apresentações apostam no hibridismo de linguagem, com conteúdos gravados e experimentos ao vivo dedicados ao público da primeira infância

Escrito por Roberta Souza , roberta.souza@svm.com.br
Espetáculo O Farol
Legenda: O espetáculo "O Farol" foi inspirado em um texto presenteado por Chico César e também em narrativas africanas sobre maternidade
Foto: Juliana Caribé

Não existe idade para sentir os efeitos das privações provocadas pela pandemia de coronavírus. Também no caso dos bebês, cujo convívio social, o contato com a natureza e o acesso às atividades culturais foram interrompidos, possibilitar experiências poéticas virtuais é uma das alternativas propostas pela classe artística. O Festival Internacional de Teatro Infantil do Ceará (TIC) é um dos eventos que abraça essa ideia neste novo momento, com a transmissão on-line de espetáculos voltados para o público da primeira infância.

Nesta quarta (23) e quinta (24), por exemplo, dez creches públicas e privadas de Fortaleza, Caucaia e Sobral terão acesso gratuito às salas virtuais (via Google Meet) dos trabalhos “Pupila D’água” e “O Farol”, das Cias La Casa Incierta e Studio Sereia. Ambas são referências nacionais no teatro para bebês, e, mais recentemente, têm apostado no hibridismo de linguagens para cativar as crianças.

“Tudo que pudermos fazer para reduzir danos é válido”, admite o diretor do festival, Emídio Sanderson. Para ele, esse formato on-line, ainda que não seja o modelo ideal para a fruição cultural, pode ser um grande acalanto nesse momento de pandemia. Além disso, também faz um contraponto ao excessivo conteúdo da cultura de massa que as crianças estão tendo acesso no confinamento.

Espetáculo Pupila D´água
Legenda: "Pupila D´agua" já foi exibido mais de 800 vezes no Brasil, Bélgica, França, Espanha, Portugal, Holanda, Itália e Rússia. Agora, ele ganha uma perspectiva cinematográfica para dialogar com a linguagem teatral
Foto: Juliana Caribé

Colocar um bebê para assistir um espetáculo de teatro, que explora outro tempo, outros ritmos e múltiplos sentidos, pode até ser algo inesperado para um pai, uma mãe ou um responsável, mas o Festival TIC, segundo o diretor, tem quebrado esse paradigma. 

“Mostramos aos adultos que os bebês possuem um cérebro super sofisticado e estão mais abertos a vivências artísticas do que outras faixas etárias, pois todos os seus sentidos estão sedentos por estímulos, permitindo-lhes percepções mais amplas”, destaca Emídio.

Novos encontros

No caso dos espetáculos “Pupila D’água” e “O Farol”, a abordagem tem um diferencial em relação a outras experiências teatrais desenvolvidas no ambiente on-line neste momento. Eles são exibidos em formato híbrido (teatro e cinema), com transmissão ao vivo do palco do Teatro da Aliança Francesa, em Brasília, nos horários programados pelo Festival.

Legenda: Cenas da adaptação de "Pupila D´água"
Foto: Juliana Caribé

“Nós não acreditávamos que simplesmente fazer uma boa filmagem dos espetáculos seria suficiente. Então, nós fizemos uma transposição de linguagem e transformamos a dramaturgia das obras num filme. E o que a gente faz nesse experimento que estamos compartilhando com vocês é colocar trechos dos filmes e alternar com pedaços curtos dos espetáculos que acontecem ao vivo, no teatro, com três câmeras transmitindo”, explica Clarice Cardell, responsável pela direção dos dois trabalhos.

“Pupila D’água”, uma das obras precursoras do Teatro para Bebês, utiliza elementos de canto lírico, percussão com objetos cenográficos e vasos de cristal, além de um repertório de elementos teatrais e de dança, para falar de momentos como o nascimento e a intensidade da vida. Já “O Farol”, parte de elementos visuais e sonoros para retratar a relação entre mãe e filha desde antes da gravidez.

Vale ressaltar que essas montagens estão baseadas em pesquisas sobre a integração de crianças com deficiência auditiva, por isso utilizam artística e poeticamente a linguagem de sinais para construir os signos e significados do espetáculo, além da manipulação de objetos, música, teatro e cinema. 

“Essa transposição de linguagem manteve esse lugar de aproximação da poesia, dessa proposta que é totalmente cênico-musical, e eu acho que num momento como esse, é importantíssimo a gente ter a possibilidade de vivenciar isso em casa, já que a gente não tá podendo ir ao teatro. Ao invés de um distanciamento pela pandemia, a gente está se aproximando desse universo tão rico que é o da primeira infância, e acho que essa troca é muito importante também para os pais”, analisa Fernanda Cabral, atriz de “O Farol”.

Legenda: Cenas do espetáculo "O Farol", com Fernanda Cabral
Foto: Juliana Caribé

Clarice Cardell também avalia esse encontro como algo benéfico para os pequenos e seus responsáveis. “São espetáculos que dialogam tanto com crianças como com adultos e procuram uma leveza poética, um suspiro de leveza. E eu acho que pode ser um grande alívio nesse momento tão denso, ter esse espaço de encontro poético”, conclui.

Serviço

PUPILA D’ÁGUA

TIC Fortaleza - Público: creches -  3 apresentações (vagas encerradas)

25 de março 10h30, 11h30 e 14h30

IV Festival das Famílias de Circo de Goiânia - Público creches -  3 apresentações 

26 de março 10h30, 11h30 e 14h30        

Festival Mini Recife - 2 apresentações - público familiar 

24 e 25 de abril - 16h.

 

O FAROL

TIC Fortaleza- Público: creches -  3 apresentações (vagas encerradas)

24 de março 10h30h, 11h30 e 14h30

Festival Mini Recife - 2 apresentações - Público de creche

28 de abril – 9h e 11h.

 

* Acompanhe outros trabalhos de teatro para bebês no Canal Bebelume no YouTube

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